Wednesday, December 15, 2010
Autopublicação: a odisséia de uma grande tiragem independente
Enquanto escritor, eu sempre repeti que jamais pagaria para ser publicado. Justamente por isto que, durante anos, divulguei meus trabalhos apenas pela internet, tanto através de blogs quanto em sites de relacionamento. A internet é uma grande aliada do autor iniciante, pois fornece uma plataforma gratuita e que pode ser acessada por qualquer pessoa em qualquer parte do planeta (se excetuarmos aqueles países onde ainda vigora algum tipo de censura).
A etapa seguinte nesta trilha da autopublicação foram os livros (e-books) e as revistas digitais, ainda distribuídas gratuitamente. Também vendia alguns poucos livros impressos no regime sob demanda, mas como os valores eram em dólares e o frete dos EUA para o Brasil impraticável, apenas poucos leitores arcavam com o preço.
A minha política de jamais pagar para ser publicado se fundava num raciocínio pragmático: pagar uma tiragem grande é queimar dinheiro, se você não tiver leitores suficientes ou um eficiente canal de distribuição de seus livros. Não adianta nada pagar 10 mil reais, vender uns 100 exemplares (quando muito!) e amargar um estoque de 900 livros empoeirando no canto de sua sala.
Se não existir uma perspectiva real de vender pelo menos 60% da tiragem, penso que não vale à pena. Alguns acreditam que basta apenas pagar os custos da tiragem, já que publicam somente para ter o prazer de segurar o livro impresso em mãos, mas, para quem pretende viver da escrita, pagar os custos não é sinônimo de pagar as contas no final do mês.
Preparando o livro para uma grande tiragem
Se você distribui seu livro como um e-book, ou até mesmo sob demanda, provavelmente dará pouca importância para aspectos gráficos, como design ou a capa do livro, talvez até menospreze também a importância da revisão. Como quem está pagando a conta não é você, tanto faz o resultado final.
No entanto, a partir do momento em que se tira a carteira do bolso, e não é pouco o que se paga para publicar um livro, tudo o que você mais quer é ter a obra mais perfeita possível.
Portanto, se você não é um designer de livros, ou não pretende dedicar muitas e muitas horas para aprender este ofício e conhecer seus respectivos softwares, o melhor mesmo é contratar alguém para fazê-lo. E não é barato!
Existem vários tipos de profissionais, que cobrarão preços bastante diferentes, mas até um aluno recém-formado de design pode querer meter-lhe a faca quando você solicitar o orçamento. As duas alternativas mais baratas são: procurar um amigo designer para ajudá-lo (tentando pagar menos), ou procurar um designer no exterior. Nos EUA, os custos de um diagramador e de um capista são bem inferiores aos praticados no Brasil, no entanto, se você contratar o mesmo profissional na Índia, com uns 200 dólares você está feito!
Para se ter uma noção, certa vez pedi um orçamento para a capa de um livro meu para uma editora recém saída da faculdade, uns 5 anos atrás, e o valor pedido era de 1400 reais. Felizmente, tive bastante tempo para estudar um pouco de design e poder fazer eu mesmo, de maneira bastante satisfatória, a diagramação e a capa de meus próprios livros.
O mesmo vale para o revisor. Existem preços bastante diferentes, que são por página, e você terá de calcular o que cabe no seu bolso.
Escolhendo a gráfica
A recomendação inicial, na hora de escolher uma gráfica para imprimir o seu livro, é fazer orçamentos em várias, quanto mais, melhor. Além disto, é importante verificar a qualidade de trabalhos já impressos por elas. Comumente, eles tem algumas amostras de livros, assim você pode checar a qualidade da impressão, o tipo de papel, o acabamento e a capa.
Solicite também orçamentos para quantidades diferentes, por exemplo, para mil, dois mil e cinco mil exemplares, e para impressão em preto e branco ou colorida, caso seu livro tenha imagens ou fotos. Como o valor unitário do livro cai quanto maior for a quantidade impressa, talvez compense imprimir mil livros à mais, se você tiver a certeza de que as vendas serão boas.
Depois de receber os orçamentos, comparar os preços e os serviços, faça uma pesquisa na internet sobre as gráficas. As melhores costumam receber prêmios de qualidade, ou ser recomendadas por outras pessoas, mas também tendem a ser mais careiras. Novamente, a sua escolha poderá ser influenciada pelo valor.
Se você pretende fazer uma tiragem realmente grande, como 5 mil exemplares ou mais, o melhor mesmo é contatar uma gráfica na China, que enviará seus livros por container (que pode demorar uns 3 meses para chegar no Brasil). O preço será muito mais baixo que de qualquer gráfica no resto do mundo. Imprimir na China é particularmente vantajoso para livros com papéis especiais, coloridos, com capa dura, ou aquelas características que o tornariam excessivamente caros em gráficas no Brasil, o problema é apenas encontrar uma gráfica confiável, que cumpra os prazos, além de não ter a quem recorrer caso algo dê errado.
No meu caso, para imprimir o meu guia de viagens, escolhi uma gráfica argentina, em Buenos Aires, que fez um ótimo preço (sem os impostos do país) para uma tiragem de 2 mil exemplares coloridos. O preço unitário do livro ficou abaixo dos 5 reais, que era o valor máximo que eu pretendia pagar.
O acordado era o pagamento de metade do valor no ato da contratação, e a outra metade quando recebêssemos os livros prontos.
Comunicação com a gráfica
Depois de fechar o contrato com a gráfica, você iniciará a parte técnica do processo, ou seja, enviar os arquivos do livro, tanto do miolo quanto da capa. Nesta etapa, seu designer já terá lhe entregado os arquivos quase prontos para a impressão, mas como as especificações de impressão de cada gráfica podem variar, o ideal é pedir-lhe que as enviem antes de entregar-lhes os arquivos.
Na gráfica em que imprimi meus livros, eles me enviaram todas as especificações de como enviar os arquivos de capa e miolo e eu mesmo puder fechar o arquivo para impressão, que podiam ser entregues pessoalmente (em CD) ou via FTP (upload).
O prazo dado para a conclusão do trabalho era de duas semanas. É difícil controlar a ansiedade, ainda mais se este for o primeiro trabalho grande que se realiza e, quando estava para chegar o prazo de entrega, pedi que eles me informassem como andava a impressão. Convidaram-me para assistir a impressão da capa do livro e também do miolo, e foi surpreendente constatar o tanto de material que vai para o lixo por não passar no teste de qualidade.
Tanto para a capa quanto para o miolo, você terá de aprovar as provas, confirmando que o trabalho, as cores, as fontes, as margens e quaisquer outras características do livro estão corretas. Somente depois da aceitação das provas que a impressão de fato do livro começa.
Finalizando o trabalho
Recebemos quase 50 caixas em nosso apartamento e aí vem o dilema de onde alocar tantos livros. Por ser um livro de bolso, sem dúvida ocupava bem menos espaço do que um livro de maiores dimensões.
O resultado final era lindo, mas depois de conferir duas caixas, descobrimos que alguns exemplares haviam vindo defeituosos, com as páginas se soltando. É crucial que você indague quais são os procedimentos da gráfica caso ocorra algum problema. No caso desta nossa gráfica, eles haviam nos informado que, caso viesse com defeito (o que não costumava ocorrer), eles repunham os exemplares com problema ou devolviam o respectivo dinheiro.
No entanto, na medida em que fomos abrindo as caixas, descobrimos mais e mais exemplares defeituosos. Por isto, fomos obrigados a conferir, um a um, todos os dois mil livros e detectamos 80 livros com problemas, ou seja, quase 5% deles. A gráfica efetuou a reposição de alguns, depois deixou de responder aos nossos e-mails; quando os ameaçamos com processo judicial, eles efetuaram a devolução em dinheiro do valor restante. E isto ocorreu numa das gráficas mais premiadas de Buenos Aires!
Vendendo seu livro
A impressão do livro é, de longe, a parte menos problemática deste processo. Os principais problemas começam a surgir quando você passa a vender os livros.
Você provavelmente desejará fazer uma noite de lançamento, convidando amigos e conhecidos para comprar o seu filhote.
Muitos não aparecerão, você pode ter certeza disto, e muitos dos que aparecerão não comprarão seu livro, e dentre aqueles que comprarem, bem poucos o lerão. Seus amigos e parentes só dedicarão um tempinho para ler seus escritos se um dia você estiver famoso; a princípio, só comprarão seu livro para lhe dar um estímulo, mesmo que não acreditem em seu talento.
Numa noite de lançamento, é importante investir um pouco em comes e bebes, pois assim você pelo menos atrairá aqueles que não dão a mínima para literatura. Evite também desanimar se acabar vendendo poucos exemplares desta sua primeira publicação, pois são raros os casos de autores que acertam na mosca logo na primeira vez. Talvez você precise de dois, três, ou uma dúzia de livros até conseguir encontrar verdadeiramente o seu público leitor.
Infelizmente, a maioria dos escritores não tem fôlego para esperar ver seu trabalho render frutos.
A segunda alternativa para vender seus livros é deixando-os em consignação em livrarias. Esta é a prática normal da maioria das livrarias, mesmo com algumas editoras consolidadas. Você deixa o exemplar (ou alguns) e, se eles conseguirem vendê-lo, você ganha 50% do preço de capa, por exemplo, se o livro é vendido a 30 reais na livraria, eles lhe repassam 15. Ao abater o preço de custo dos livros, digamos 4 reais por exemplar, seu lucro será de 11 reais. Não é nada excepcional, mas podia ser pior. Um autor publicado por uma editora comercial ganha na faixa de 10% do preço de capa, ou seja, o mesmo livro de 30 reais lhe renderia apenas 3 reais.
A terceira alternativa é vendê-lo pela internet. Se você já tem um blog de sucesso, ou uma vasta rede de contatos pela internet, pode ser um bom canal de vendas. Enviar pelo correio pode custar a partir de uns 4 reais (impressos – consultar as especificações dos Correios) e, geralmente, não há muitos problemas. Talvez você tenha de amargar um ou outro exemplar extraviado e arcar com o prejuízo, seja devolvendo o dinheiro do comprador, seja enviando um livro de reposição, mas, no geral, o lucro será muito maior, pois é o comprador quem paga pelo frete e o valor total do livro, excluindo o preço de custo dele, será seu. Obviamente que não dá tanto status quanto tê-lo nas prateleiras de uma livraria, mas é uma maneira de comercializar diretamente com seu leitor, sem intermediários (e seus respectivos custos).
Uma quarta alternativa é vendê-lo pessoalmente, através de palestras, cursos, oficinas de escrita, oferecendo nas ruas, ou seja, no corpo-a-corpo. No entanto, nem todo o mundo tem vocação para vendedor, então pode ser que esta ideia não lhe agrade.
A quantidade de exemplares vendidos corresponderá ao grau de dedicação que você teve na preparação do livro, a qualidade da impressão, a quantidade de leitores que você já possui e ao grau de visibilidade que o livro terá.
Se, um dia, você conseguir esgotar toda uma tiragem, fica a seu critério julgar se compensa fazer uma reimpressão ou se está na hora de investir num outro trabalho. Alguns autores conseguem chamar atenção o bastante para conseguirem um contrato com uma editora comercial, outros se saem tão bem nisto que vivem exclusivamente com a vendagem de suas publicações independentes.
Apesar de a publicação por uma editora ser o sonho de muitos escritores, ser um autor independente possui vantagens e uma liberdade incomparáveis, mas também implica em seu preocupar e lidar com problemas que, numa editora, seriam da alçada de sua equipe editorial.
Registrar ou não o livro na Biblioteca Nacional?
A lei de direitos autorais já protege o seu livro a partir do momento em que está escrito, mesmo sem jamais ter sido publicado. Em tese, não há necessidade alguma de registrá-lo na Biblioteca Nacional, ainda mais se você pretende vendê-lo diretamente aos compradores.
No entanto, para vendê-lo em livrarias, seu livro provavelmente precisará ter um ISBN (Internacional Standart Book Number) e código de barras. Para isto, você precisará fazer o cadastramento de Pessoa Física na Biblioteca Nacional, preferencialmente antes do livro ser impresso, para obter o número, o código de barras e a ficha catalográfica.
No site da Biblioteca Nacional há todas as instruções para a solicitação do ISBN.
Check-list da autopublicação
1 – escrever um livro
2 – contratar um revisor
3 – contratar um designer e/ou um capista
4 – fazer orçamentos em gráficas
a – comparar preços, qualidade e características da impressão
b – negociar o orçamento
c – assinar o contrato
d – fechar o arquivo para a impressão
e – verificar as provas
5 – receber as caixas de livro e encontrar um lugar para colocá-las
6 – checar alguns (ou todos) exemplares para ver se há algum defeito
7 – iniciar a venda
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2 comments:
Muito bom, estou publicando um livro por esse processo de auto-publicação e estou enfrentando essas dificuldades, porém ainda não cheguei a vendê-los, espero que tenha sucesso nessa empreitada.
http://escritoralexandre.blogspot.com
Gostei muito do artigo. Tem boas dicas para quem é marginalizado pelas editoras. Eu tentei, mandei os originais para várias delas. Algumas se dignaram a responder-me polidamente: "seu livro está fora da nossa linha" editorial, outras sequer resposta deram. Esta é a única maneira de um iniciante se livrar da ditadura das "EDITORAS" que têm os "ghost writers" para escreverem livros para as "celebridades" analfabetas serem autoras. Obrigado, muito bom seu artigo
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