Monday, March 12, 2012

Escritor sim, blogueiro não!


Escritor?

Culpem Aristóteles, mas desde sempre nos acostumamos a categorizar tudo, de espécies de animais e plantas a profissões e saberes. Basta nos depararmos com alguma coisa exótica e desconhecida, que logo precisamos compará-la a outras e tentar enquadrá-la num gênero, numa espécie ou numa categoria.

O mesmo ocorre com as profissões: há os médicos, os engenheiros, os motoristas de fórmula 1, os pedreiros, as secretárias, os astronautas, os técnicos em informática, e assim por diante. Nas Artes, temos os pintores, os fotógrafos, os dançarinos, os cineastas, os escritores e a lista prossegue.

Você confiaria num dentista para fazer a revisão mecânica de seu automóvel? Ou pediria a um engenheiro para fazer um transplante de coração? Num pintor para ser o primeiro bailarinho do Bolshói?

É evidente que não! Pois todas estas profissões e ofícios são delimitados por saberes e práticas específicas; quando se escolhe uma delas, automaticamente estamos deixando de lado as demais, mesmo que não haja nada que impeça alguém de ser competente em mais de uma área.

Impressiono-me bastante quando leio sobre Leonardo Da Vinci, realmente um sujeito extraordinário e que dominou quase todos os ofícios de seu tempo, mas ele é a exceção das exceções, um em um trilhão. A maioria de nós mal consegue fazer uma coisa bem, muito menos uma porção.

Hoje, se me perguntam o que faço, digo sem hesitação: sou escritor.
No entanto, nem sempre foi assim. Já tive vergonha de me apresentar como um, pois não havia publicado nada e não confiava na qualidade do que havia escrito. Talvez tivesse razão em ser prudente naquela época. Demorou vários anos e muito senso autocrítico para atingir este ponto de afirmar, "sou um escritor".
Afinal de contas, já escrevi vários livros, publiquei alguns deles, ganho o pão e pago as contas com o que escrevo e é o que sei fazer bem.
Sou escritor, e ponto-final.

Blogueiro?

O blog é um fenômeno recente, surgido no final dos anos 90 e que se tornou uma verdadeira febre nos anos dois mil. Alguns afirmam que foi neste período que teve seu apogeu e logo começou o declínio, sendo substituído pelas redes sociais e sites de microblogging.

Mesmo assim, alguns blogs cresceram e prevaleceram, profissionalizando-se. O termo problogger foi cunhado nos EUA e logo passou a ser utilizado para identificar os blogueiros profissionais.

Mas é aí que surge a questão: blog é um ofício ou é uma mídia?

E lá vamos nós tentar categorizar este bicho chamado blog!

Os blogs são plataformas virtuais que permitem o compartilhamento de textos, vídeos e imagens, mas, a princípio, o que consagrou os blogs foi a possibilidade de qualquer pessoa comum, em qualquer lugar do planeta, expressar suas opiniões sobre qualquer assunto e atrair um público.
Eles abriram as portas para que nós, que não somos repórteres ou apresentadores de TV, também nos tornássemos em menor medida formadores de opinião.

Contudo, excluindo esta particularidade de ser acessível a qualquer um, um blog não é muito diferente de um jornal ou revista online. Tudo bem que não há toda a hierarquia editorial de uma mídia tradicional, mas, na prática, há o colunista (ou o suposto blogueiro) e o leitor.

Não acredito que exista isto de problogger, ou blogueiro profissional. Na minha concepção, existe o fotógrafo, o jornalista, o escritor, o engenheiro, o representante de vendas etc., que utiliza um blog como forma de expressão, mas há muita gente que pensa o contrário.

Escritor ou blogueiro?

Incomoda-me quando me chamam de blogueiro.

Escrevo uma dúzia de blogs, é verdade, mas estas são as plataformas que utilizo para divulgar meu trabalho, assim como são os livros, os livros digitais, as revistas, os jornais, a TV, a rádio e qualquer outro meio de comunicação.

Saramago, pouco antes de morrer, havia descoberto os prazeres de escrever um blog e poder dialogar em tempo real com seus leitores. Alguém ousaria chamar Saramago, o prêmio Nobel de Literatura, de blogueiro?

E por que insistem em chamar de blogueiros os demais escritores como eu, que não somos Nobel de nada, somente porque escrevemos em blogs?

Blogueiro soa aos meus ouvidos como demeritório, como metade do caminho, como se fosse menos.

Então, por favor: escritor sim, blogueiro não!

3 comments:

Anonymous said...

Boa tarde, em resposta a sua opinião resolvi fazer uma postagem, publiquei no meu Blog e vou deixar no Seu, se você me permite...

No meu parecer um Blogger é exatamente o mesmo que ser um Escritor, ter essa dádiva e exercê-la em plenitude, com certeza não é adquirido de “uma hora pra outra”. Ser Blogueiro simplesmente é o Escritor publicando sua obra. Notei que há muitos Escritores/Blogueiros que felizmente já alcançaram a plenitude/excelência (não me refiro à fama), mas infelizmente alguns Escritores e até mesmo o povo, acham pejorativo titular um Escritor que bloga de Blogueiro, o Escritor que é Blogueiro tem um grande “x” a mais na questão, afinal ter e manter um Blog de qualidade implica em um “trilhão” de fatores, então, Blogueiro genuíno é aquele Escritor de qualidade que possui um Blog de qualidade.

Até mais ver.

Cris Bravo said...

Interessante o assunto. Eu, por ter um blog e não ter nada publicado, prefiro me considerar no "meio do caminho" e dizer que uso o blog para transpor as "pedras" nesse caminho e continuar o percurso e ajudar na divulgação. Afinal, o texto só ganha significado quando é lido. Um abraço!

Mima said...

Mas É um demérito. Qualquer um é blogueiro. Já escritor, na teoria, deve ter sido aceito. Algum editor leu, aprovou, achou que muitos outros apreciariam, apostou, investiu, publicou. Um blog está a um clique de distância. Um livro requer suor. Agora... não me entenda errado, não estou tentando abafar seu entusiasmo. Gostei muito do jeito que você escreve. Sou blogueira também e meu sonho é poder me chamar algum dia de escritora, porque quando eu o faço agora, digam o que digam, me sinto contando uma mentira. Falta para mim a legitimação profissional, a aprovação de quem entende. Dizer que sou escritora na situação atural seria para mim mais técnica de auto-ajuda, visualização de um futuro não concretizado, do que verdade. Queria me convencer de que sou uma escritora. Mas, do jeito que vejo, sou só aspirante. Wannabe. Metida a tal. Quem sabe um dia.

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