Sunday, July 08, 2012
O mito do bestseller brasileiro
Não ousarei generalizar e afirmar que todos os escritores sonham em se tornarem bestsellers, venderem milhões de exemplares, ficarem famosos e ricos, pois sempre existem as ovelhas negras...
Mesmo assim, acredito que internamente todos almejam a aprovação e o reconhecimento dos leitores, a apreciação de suas obras e, neste ponto, vender bem é uma prova disto: de que há gente que gostou do seu trabalho, indicou aos outros, que por sua vez indicaram aos outros, num círculo virtuoso.
O que é um bestseller?
As definições do que é um bestseller, isto é, de um autor que pertença ao rol dos mais vendidos, variam geograficamente. Em alguns países, é preciso vender muito mais livros do que em outros.
Basicamente, qualquer listagem dos mais vendidos parte de uma premissa básica: a compilação dos dados de vendas entre várias livrarias espalhadas pelo país, e isto vale para o Brasil, para os EUA, ou para a Suíça.
Um livro mais vendido não é aquele que vendeu 1 milhão de cópias somente na amazon.com, mas sim aquele que vendeu bastante na somatória de todas as livrarias pesquisadas.
Nos EUA e Canadá, vender 5 mil exemplares por semana pode ser o bastante para catapultá-lo ao status de bestseller, enquanto que, no Reino Unido, esta margem varia de 4 mil a 25 mil exemplares por semana.
E no Brasil?
Não é tão fácil determinar estes dados para o Brasil, primeiro porque há um certo hermetismo por parte das editoras quanto aos dados das vendagens, como se elas estivessem lidando com documentos ultrassecretos da CIA, depois, porque as tiragens e as vendagens médias de livros de ficção chegam a ser ridículas para um país enorme como o nosso, com mais de 200 milhões de habitantes.
Atualmente, a tiragem inicial média de um livro por uma grande editora é em torno de 3 mil exemplares, sem garantia alguma que será vendida a quantidade mínima de livros para se pagar o investimento.
Segundo os dados da Publishnews, um livro que venda 600 exemplares por semana já poderia se enquadrar como um bestseller. Além disto, uma rápida olhada nas listagems de mais vendidos em ficção basta para percebermos que a maioria dos sucessos é de obras de autores estrangeiros, constando apenas 1 ou 2 autores nacionais.
Para todos os fins, podemos dizer que uns mil livros vendidos por semana é o suficiente para considerar uma obra como um bestseller, enquanto que 5 mil por semana já estaria quase no topo desta listagem.
Quem são os bestsellers brasileiros?
É impossível falarmos de mais vendidos no Brasil e não mencionarmos o nosso maior fenômeno editorial dos últimos anos: Paulo Coelho.
Somando as estatísticas de todas suas obras, Paulo Coelho já vendeu mais de 100 milhões de livros em todo o mundo, quase o dobro do segundo colocado, Jorge Amado, com 55 milhões de livros vendidos.
Depois destes dois óbvios primeiros lugares, não há nenhuma informação conclusiva sobre quem ocuparia o terceiro posto entre os bestsellers brasileiros, mas nomes frequentes são Jô Soares, André Vianco e Augusto Cury, este último que transita, às vezes, entre auto-ajuda e ficção.
A verdade é que Literatura nunca foi um grande negócio entre os brasileiros, ou melhor, a Literatura nacional nunca foi um bom negócio, pois bestsellers estrangeiros geralmente causam mais furor em terras tupiniquins, como a histeria que pudemos presenciar em torno dos últimos volumes de Harry Potter ou da série "Crepúsculo".
Via de regra, um bestseller internacional fará muito mais sucesso e venderá muito mais livros no Brasil do que um bestseller nacional.
Bestseller e longseller, qual é a diferença?
Quando falamos em bestsellers, estamos nos referindo a um grande volume de livros vendidos num curto espaço de tempo.
No entanto, isto não quer dizer que um autor não possa vender muitos livros num longo intervalo de tempo, e isto é conhecido como longseller.
Quando se trata de Literatura, o Brasil possui muito mais longsellers do que bestsellers.
Muitos autores, e seus respectivos livros, podem demorar décadas até emplacarem o primeiro bestseller, se é que um dia conseguem esta proeza. Vários deles possuem vendagens relativamente pequenas, mas constantes, durante anos e anos.
Frequentemente, o segredo por detrás de um longseller são as compras governamentais, ou que os livros sejam adotados por escolas, universidades ou para vestibulares.
Alguns longsellers brasileiros são: Dalton Trevisan, Rubem Fonseca, Clarice Lispector, Érico Veríssimo, João Ubaldo Ribeiro, entre incontáveis outros nomes conhecidos, que às vezes até podem dar as caras nas listagens de mais vendidos, principalmente se ganharem algum prêmio importante ou se adaptarem algum livro deles para uma novela ou minissérie da Globo.
Mas a longevidade de suas obras não depende necessariamente de algum escândalo ou de um tema da moda, mas da qualidade da escrita e de muitos anos dedicados à carreira literária.
Os bestsellers nascem e morrem com uma rapidez incrível, os longsellers vieram para ficar (ou não).
Quem quer ser um bestseller?
Repito, Literatura nacional quase nunca é um bom negócio. Estima-se que aproximadamente 70% do que se publica em ficção no Brasil sejam traduções de obras estrangeiras. Nos EUA, apenas 3% dos livros publicados são traduções, a maioria das obras é de autores americanos, ou, pelo menos, de autores de língua inglesa.
Estamos diante de um mercado que não valoriza a prata da casa, que não dá a mínima para a produção literária nacional e que está interessado em obter o máximo de lucro no menor tempo possível.
Bem, ninguém disse que as editoras eram instituições filantrópicas! São empresas que oferecem produtos para atender à demanda de seus clientes.
São as editoras que tem aversão aos autores nacionais, ou são os brasileiros que não compram livros de escritores brasileiros?
Não há uma fórmula para o sucesso, assim como não há uma fórmula para conseguir publicar seu primeiro livro.
Cair nas graças do público e tornar-se um bestseller, ainda mais se você escrever ficção, é uma loteria: a cada milhões de apostadores, somente alguns tem o bilhete premiado.
Agora, para converter-se num longseller, é necessário muitíssima paciência e trabalho. Talvez demore anos para você começar a ver resultados, é preciso cativar leitor por leitor, mas, quem sabe um dia, sua carreira se estabilizará e perceberá que, de grãozinho em grãozinho, você realizou o seu sonho.
Pode não ser a trajetória mais gloriosa, mas será suada e honrada. Então, você se orgulhará de suas pequenas conquistas.
Fontes:
Publishnews
http://www.publishnews.com.br/telas/mais-vendidos/Default.aspx?cat=9
http://www.publishnews.com.br/telas/noticias/detalhes.aspx?id=67243
Gazeta do Povo
http://www.gazetadopovo.com.br/cadernog/conteudo.phtml?id=971058
Wikipedia: Bestseller
http://en.wikipedia.org/wiki/Bestseller
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3 comments:
Olá, Henry. Boa tarde!
Que quadro mais desalentador, embora realista e, portanto, essencial para nossa reflexão! O exercício da leitura está se esvaindo nessa época de hipertrofia de tecnologias e informação.
Seriam os escritores nacionais provincianos demais para que os (poucos) leitores brasileiros a eles atentassem? Ou o nosso cacoete de valorizar o que vem de fora estaria definindo a derrocada definitiva de nossa tênue literatura?
Enfim, seu artigo é extremamente eficiente ao abordar o problema... mas uma questão que coloco (referente ao post anterior): Qual o sentido de um escritor escrever bem, no tocante ao estilo canônico, se o que dá as cartas nessa época de indústria cultural "não filantrópica" é a utilização de clichês mais ou menos celebrados pelo leitor geral; esses mesmos clichês que infestam a produção cinematográfica hodierna e que determina se um filme será um sucesso ou fiasco?
Buenas... acho que sou uma ovelha negra. Se pudesse escolher entre vender muito ou ser lida por um número reduzido de leitores "chatos", capazes inclusive de se incomodar com minhas falhas de estilo ou ritmo, ficaria com a segunda opção. Não me passa pela cabeça viver de vender livros, mas seria um sonho e tanto que algum alucinado por literatura ainda lembrasse de alguma frase minha mesmo depois que tenha cumprido o óbvio ciclo de virar comida de minhoca. risos Mas umbiguismos à parte, queria mesmo era ver as estatísticas sobre os hábitos de leitura no Brasil mudarem expressivamente.
Quando eu era mais novo, conheci um autor brasileiro pouco conhecido que vivia e ainda vive só de escrever, ele usava pseudônimos em inglês e escrevia aqueles livrinhos de bolso de espionagem, faroeste, sexo etc. Ganhava 100 reais (na moeda de hoje) por cada livrinho desses escrito, na época havia pequenas editoras que vendiam esses livrinhos de bolso em bancas de jornais. Ele escrevia dez livrinhos por mês.Hoje em dia ele escreve livros infantis e infanto juvenis e faz palestras em escolas .
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