Saturday, November 08, 2008

A Tese na Literatura

Todo texto defende uma tese.

Quando afirmamos isto, não nos referimos apenas a textos acadêmicos, ou teóricos, mas a todo e qualquer texto, incluindo o texto literário.

Antes de tudo, devemos explicar o que se entende por “tese”. Thesis é uma palavra grega derivada do verbo tithemi, cujo sentido nada mais é do que “colocar em algum lugar, apresentar algo”. Este é praticamente o mesmo sentido da palavra latina propositio, ou proposição, em português.

A tese, ou a proposição, é aquilo que é posto diante dos olhos do leitor, aquilo que o autor deseja apresentar.

Numa carta de amor entre namorados, a tese é provar os sentimentos amorosos dum para o outro; num texto teórico universitário, a tese é a demonstração e comprovação duma hipótese; em qualquer texto, existe uma tese, uma idéia a ser defendida, mesmo que ela esteja diluída e pareça ser inexistente.

Na Literatura, a tese costuma transparecer de duas maneiras mais comuns: explicitamente, quando a proposta do texto é convencer o leitor a aceitar a tese, ou implicitamente, quando o texto estimula o leitor a concluir, por si só, qual é a tese.

A Literatura Panfletária

A narrativa literária que defende explicitamente uma tese e que utiliza todos os recursos necessários para persuadir o leitor de sua veracidade é conhecida por “panfletária”.

A literatura panfletária não possui orientação política específica, pode tanto defender ideais esquerdistas quanto de direita, pode ser tão reacionária quanto revolucionária, tão anárquica quanto conservadora.

O “panfleto” não diz respeito às idéias que estão presentes numa obra literária, mas ao modo como elas são apresentadas. O texto panfletário não esconde a que veio, não mascara seus objetivos.

A Literatura panfletária atrai os correligionários da tese defendida, ao mesmo tempo em que repele quem a ela se opõem. Não aceita meio termo.

Um exemplo é “O Último Dia dum Condenado à Morte” de Victor Hugo. Nesta obra, acompanhamos um prisioneiro pouco antes de sua execução na guilhotina. Victor Hugo se opunha à pena capital e tanto nesta obra como em outras, ele defenderá este ideal. No entanto, o que diferencia “O Último Dia dum Condenado à Morte” de “Os Miseráveis” é exatamente a opção do autor em, na primeira obra, tornar a tese evidente, isto é, o repúdio à pena de morte.

Como dissemos anteriormente, esta escolha do autor delimita o leitor que acolherá o texto, alguns concordarão com ela, outros discordarão e, aquele que estiver indeciso, poderá ser convencido pelos argumentos, ou se constrangerá por causa da tentativa do autor em manipulá-lo.

A Tese Implícita

Uma narrativa literária também pode apresentar a sua tese sem evidenciá-la.

Na verdade, a Literatura panfletária aborda uma tese sob a mesma ótica dum texto teórico. A tese precisa ser demonstrada, para tanto, apresenta-se casos nos quais ela pode ser aplicada. A ficção situa então a tese num caso ficcional, que através do enredo visa comprovar a tese que a motiva. Retornando ao exemplo da obra de Hugo, para provarmos que a pena de morte é cruel, apresentamos um personagem sofrendo por causa da expectativa da execução.

Já no caso duma obra na qual a tese esteja implícita, o autor geralmente tenta falsear a tese defendida, ou apresenta uma tese contrária que será, no decorrer da narrativa, refutada.

Podemos utilizar outra obra de Hugo como exemplo: em “Os Miseráveis” a tese inicial parece ser a de que “um criminoso nunca se recupera, nunca mais pode ser reinserido na sociedade”.

Como Hugo introduz esta falsa tese?

Jean Valjean é libertado da prisão, mas como ele é um ex-condenado, ele é obrigado a carregar um passaporte amarelo, o que faz com que ele seja estigmatizado pela sociedade. Nem teto para dormir ele consegue encontrar.

No entanto, um bispo o abriga em sua casa. Naquela mesma noite, Jean Valjean resolve roubar a casa de seu anfitrião, ou seja, a tese parecia ser: “Jean Valjean (e, por extensão, todos os demais ex-condenados) sempre será um criminoso”.

Mas o protagonista é capturado e reconduzido à presença do bispo, que, ao invés de acusar Jean e enviá-lo novamente para a prisão, mente para a polícia, dizendo que os bens roubados eram, na verdade, presentes seus para Jean.

Esta atitude do bispo é um ato de perdão que Jean jamais poderia imaginar. Daquele ponto em diante, ele decide que será um homem correto. Todo o restante do enredo trata de luta de Jean para apagar seu passado e provar que ele está mudado.

Victor Hugo compreende que esta é a maneira mais eficaz para abordar tal tese. Através dos atos de Jean Valjean, o autor acaba conduzindo o leitor à conclusão de que um homem pode mudar, que um criminoso pode se recuperar.

Através da negação, através de caminhos tortuosos, o autor pode conduzir o leitor até a tese defendida.

Outro bom exemplo é a obra-prima de Dostoievesky, “Crime e Castigo”. Nela acompanhamos o personagem Raskolnikov, um estudante russo que elabora uma teoria: “as pessoas estão divididas em duas categorias: as ordinárias, para quais as leis e normas morais valem, e as extraordinárias, que estão acima do bem e do mal”. Raskolnikov acredita fazer parte da segunda categoria, acredita ser extraordinário. No entanto, quando ele assassina sua senhoria, ele começa a constatar que talvez estivesse equivocado, que ele também faz parte dos homens ordinários. Em Dostoievsky, quase sempre a tese é a antítese do que ele apresenta no início de suas obras.

Tese Explícita ou Implícita?

Todo texto defende uma tese. Contudo, a abordagem desta tese faz parte do planejamento duma obra literária. O autor deve saber, de antemão, qual será a tese defendida, e como ele fará para que o leitor a perceba.

A opção entre um texto panfletário ou um com tese implícita nunca é descompromissada. A abordagem dependerá do público para o qual a obra se destina, da proposta do autor e também da própria tese defendida.

Não é tão simples estabelecermos uma hierarquia de valores e considerarmos as obras panfletárias como piores do que aquelas com tese implícita. Na verdade, para alguns leitores, apenas uma obra com objetivo explícito é compreendida; nem todos possuem o refinamento para ler as entrelinhas dum texto cuja tese esteja disfarçada.

Entretanto, a História da Literatura costuma destacar os autores que conseguem defender suas idéias sem dogmatismo, sem proselitismo. Via de regra, uma obra de Arte é aquela capaz de tocar, de algum modo, todas as pessoas, concordem elas ou não com a tese apresentada.

E, para muitos leitores, desvendar os mistérios, desencavar os porões duma obra literária para desvelar seu sentido é uma grande recompensa. Prêmio comumente recusado por obras panfletárias.

Monday, November 03, 2008

Criando um blog de sucesso

Em março de 2007, eu criei um blog para compartilhar da minha experiência em Nova York. 
Como eu não queria que ele se parecesse com aqueles blogs de adolescentes, como "hoje fui ao shopping e encontrei minhas miguxas", acabei optando por retringi-lo a um assunto bastante específico: "como ir a Nova York sem gastar muito". E por isto batizei o blog de "Nova York para Mãos-de-Vaca".

A idéia deu certo. Atraiu leitores e, menos dum ano depois, apareceu pela primeira vez na mídia, num programa da Globo Internacional. Desde então, o blog se tornou uma atração, virou livro (o Guia Nova York para Mãos-de-Vaca), fui entrevistado para o Portal Terra, para telejornal do SBT, para jornais impressos e sites brasileiros e estrangeiros, e o livro é um dos mais vendidos da editora que o publica.

Ou seja, o que parecia impossível, criar um blog de sucesso e rentável, se tornou realidade.

As dicas que se seguem foram dadas a um amigo meu, cineasta curitibano, que acabou de criar um blog para divulgar seus trabalhos cinematográficos e queria algumas sugestões para divulgá-lo:

"Fazer a divulgação dum blog é um pouco mais complicado do que parece.

 - é preciso ter um bom conteúdo, boas palavras-chaves (os marcadores) e atualização constante (pelo menos no começo);

 - divulgar o link em todo lugar que você puder. As comunidades do orkut são uma boa estratégia, em fóruns de cinema, ponha o link como assinatura do seu e-mail, comente em blog de outras pessoas e ponha o seu link.

- O mais importante é que haja um conteúdo que interesse os leitores, que faça eles buscarem o seu blog e divulgarem-no para outras pessoas. O boca-a-boca é fundamental.

Por exemplo, além de postar os seus vídeos no blog, você poderia escrever posts curtos sobre o que você já aprendeu sobre cinema, como fazer edição, quais programas utilizar, como dirigir atores. Entendeu?
Por exemplo. fazer um blog para aqueles que querem aprender cinema sob o ponto de vista dum diretor, de alguém que trabalha no ramo. Isto é um diferencial, isto atrai leitores.

- Você precisa encontrar o seu nicho, descobrir o seu público-alvo. A sua mensagem tem de ser direcionada, tem de encontrar os ouvidos certos em meio à multidão. Não adianta tentar atingir todo mundo, você tem de atingir as pessoas certas.

- E quanto mais leitores você tiver, melhor será o seu posicionamento na busca do Google, quanto melhor o seu posicionamento, mais leitores atrairá, é um círculo virtuoso.

- O que você não pode fazer é sonegar informações; pensar que, ao ensinar aos outros o que você sabe, você estará criando a concorrência. Isto não é verdade, quando você ensinar os outros, você estará criando seguidores.

E se você for bom no que faz, a concorrência não importa.

- Além disto, ao atrair leitores para os seus textos (ou você pode até fazer breves vídeos tutoriais), você também estará atraindo espectadores para os seus filmes. Você ajuda as pessoas com o seu conhecimento, mas também estará se ajudando, autopromovendo-se e divulgando o seu trabalho.

- O fundamental é ser diferente, fazer algo que ninguém fez, ou fazer melhor do que os outros.

- Também não desanime no começo. Vai demorar para as coisas começarem a engrenar, talvez dois, ou três meses. Talvez até mais. No entanto, há um ponto em que as coisas começam a andar sozinhas.

- Outra opção de conteúdo é também você falar de filmes que você acha bons e explicar por quê, e aproveitar para ensinar algo sobre cinema. Você precisa falar do que entende. Não adianta nada falar do que não sabe, ou fingir que sabe mais do que sabe. Se não souber responder uma pergunta dos seus leitores, seja honesto, diga: "Não sei". Mas isto não basta, se não souber, vá pesquisar e apresente a seus leitores o que você aprendeu.

- E também não se esqueça do adsense, o sistema de publicidade do google. Se você tiver boa visitação, dará até para ganhar uns trocos com os anúncios no blog. 100 ou 200 dólares a mais na renda por mês não é nada mal. Mas tem gente que faz bem mais do que isto.

- E respeite os seus leitores. Se eles comentarem no seu blog, responda as dúvidas, aceite as críticas, corrija as postagens se for necessário. Estimule o diálogo.

- O objetivo de todo blogueiro é tornar-se uma referência no assunto que aborda. E isto só ocorre quando houver um bom conteúdo. Apresente algo interessante e original, e todo o resto ocorrerá naturalmente.
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