Friday, May 31, 2013

Livros com capítulos longos ou curtos?


As dimensões dos capítulos são determinantes e refletem muito da natureza de um livro.

Geralmente, romances mais complexos, chamados por alguns de "obras sérias", possuem capítulos mais extensos, às vezes com várias dezenas de páginas.
Por outro lado, romances populares se caracterizam por capítulos breves, com poucas páginas e, em casos extremos, até menores do que uma única página.

O que é um capítulo?

Os capítulos são divisões de um livro, podemos pensá-los como pequenas unidades narrativas no interior da trama.

Eles podem ser:
- numerados (Capítulo 1, 2, 3, ou I, II, III...),
- com letras do alfabeto (A, B, C... como em "Os Cus dos Judas" de Lobo Antunes),
- com títulos descritivos (Urge uma providência, como em "Capitães de Areia" de Jorge Amado);
- com números e títulos (Capítulo VIII: Razão contra sandice, como em "Memórias Póstumas de Brás Cubas" de Machado de Assis)
- com quebras de página,
- ou simplesmente com espaçamento entre uma seção e outra.

Como determinar o tamanho de um capítulo?

Quão longo será o capítulo de um livro dependerá, antes de tudo, das características da obra e da visão do autor sobre a estrutura da obra.

As perguntas que o autor deve se fazer durante a escrita de um capítulo são:

1 - o que tanto precisa ser narrado?
2 - o capítulo possui uma unidade de ação/exposição?
3 - há informações excedentes ou ausentes?
4 - qual é o tipo de leitor que tenho em mente?

Para fins narrativos, os três primeiros pontos são fundamentais, pois um capítulo deve ser longo o suficiente para expormos todos os fatores essenciais para mover o enredo adiante, como descrições, diálogos e pensamentos do personagem, mas sem revelarmos demais de modo a manter o leitor imerso na narrativa.
Já sob o aspecto de legibilidade, o quarto ponto é o mais importante, pois capítulos demasiadamente longos podem desmotivar certos leitores, enquanto capítulos curtos podem criar uma sensação de uma narrativa superficial (mesmo que falsa, já que vários grandes autores, como o próprio Machado de Assis, muniam-se de capítulos breves ou brevíssimos).

De qualquer maneira, o autor sempre deve respeitar o ritmo que o próprio romance e os personagens impõem.
Na releitura, será possível desmembrar os capítulos longos demais em unidades menores, mas, idealmente, é recomendável que os capítulos tenham uma extensão homôgenea, que não varie muito ao longo do livro.
Todavia, em tese, é possível escrever livros inteiros num único capítulo, como "Malone Morre" de Samuel Beckett, apesar de isto estar comumente associado a obras modernistas, que optam por sacrificar a legibilidade em detrimento à proposta estética.

Quantos capítulos um livro deve ter?

Quantos capítulos forem necessários para desenvolver a trama do início ao desfecho.
Obras monumentais, com várias centenas de página, além de possuir a divisão por capítulos, também costumam ser divididas em partes, ou seja, no interior das partes há vários capítulos.

A divisão por partes é útil quando há saltos temporais numa narrativa, ou quando há a mudança de foco para um outro narrador/personagem.

Não há limite máximo de capítulos, principalmente se estes capítulos forem breves.

O que é cliffhanger?

A estratégia mais fundamental dos gêneros literários populares é o cliffhanger, que numa tradução literal seria "à beira do penhasco".
Este recurso nada mais significa do que terminar um capítulo com suspense, deixando o leitor curioso para prosseguir na leitura e descobrir como o enredo se desenvolve.

Alguns romances famosos, como clássicos de Dickens e Alexandre Dumas, são compostos de um cliffhanger após o outro, pois são de uma época em que os livros eram publicados serialmente em revistas ou jornais e podiam se estender por meses ou até anos de publicação.
Na época, o segredo do sucesso era manter o leitor ansioso por acompanhar o desfecho.
Ainda hoje é um recurso bastante eficaz, presente na maioria dos best-sellers e também em séries de TV ou no cinema.

O autor Wilkie Collins afirmou sobre esta técnica: "Faça-os chorar, faça-os rir, faça-os esperar - exatamente nesta ordem."

Conclusão

Com frequência, a extensão dos capítulos será uma decisão prévia do autor, de qual é sua intenção narrativa e também de seu público-alvo.
Por outro lado, o escritor pode simplesmente mergulhar na escrita e, ao terminar a obra, retornar e dividí-la em capítulos, se considerar necessário. Não sei se isto seria o mais recomendável, mas é totalmente possível.

Saturday, May 11, 2013

Escrever para ganhar dinheiro. Existe isto?


Já fui muito mais fundamentalista quando o assunto era escrita e dinheiro.
Até alguns anos atrás, para mim um escritor que produzisse suas obras pensando na vendagem não diferia muito de uma prostituta, vendendo barato seu talento.

Não penso mais assim, aliás, não me sinto na posição de julgar as motivações de cada um para escrever, tampouco sobre o que farão com o produto de seu trabalho.
Repare bem no uso da palavra "trabalho", pois aí reside todo o segredo.

Escrever para vender não é um equívoco porque o dinheiro seja sujo ou imoral, afinal, todos necessitamos dele para sobreviver. O problema da grana não é a sua existência, mas a desigualdade. É a injustiça do mundo que revolta, quando alguns ganham rios de dinheiro, e outros mal podem comprar um prato de comida.
Moralmente, não concordo que um escritor ganhe milhões com seus livros, mas também não concordo que um jogador de futebol, um político, ou qualquer outra profissão supérflua gere lucros absurdos, enquanto alguns médicos, professores, policiais e garis recebem salários de miséria.
Mas é assim que a banda toca e não somos nós, individualmente, que decidimos sobre a distribuição de renda.

O equívoco de escrever para ganhar dinheiro é muito mais simples.
Não existe fórmula para vender livros, portanto, não há garantias alguma que você enriquecerá neste ramo.
Não possuo dados concretos, mas podemos estimar que, para cada mil livros publicados, somente uns 100 geram algum tipo de vendas reais, enquanto destes apenas uns 10 vendem bastante.
Todos os demais 900 livros vendem pouco, ou nada.
Reflita bem sobre este percentual. Tornar-se um best-seller definitivamente não é tão improvável quanto ganhar na loteria, mas ainda assim será muito difícil.

Quando escrever para lucrar funciona?

Quando se trata de ficção, não existe garantias se seu livro venderá muito ou não. Você pode preparar o melhor livro do mundo, o mais bem escrito, o mais divertido, mas isto nada significa em termos de potencial de mercado.

Só existem duas regras para vender um livro com estas características: 1 - um plano de marketing, ou 2 - pura sorte.
No primeiro caso, geralmente implica em contratar alguém para elaborar estratégias de divulgação, com acesso à imprensa, e isto também significa um grande investimento, sem certeza dos resultados.
No segundo caso, trata-se do fator "cu virado pra Lua", quando a crítica, a imprensa, ou os leitores compram sua ideia sem nenhum motivo aparente, e seu livro estoura com uma grande ajuda do destino.

Por outro lado, sempre se pode dar uma mãozinha à sorte, principalmente se você for:
a - alguém muito famoso em sua área;
b - alguém muito influente; ou
c - alguém que já possua uma plataforma.

O que é uma plataforma?

Esta é a palavra da moda no mundo editorial contemporâneo. Você dificilmente conseguirá ser publicado atualmente se não demonstrar que, de algum modo, você possui uma plataforma consistente.

Mas o que é isto?

Plataforma nada é mais do que uma palavra bonita para designar que você já possui um número considerável de seguidores, que se interessará em comprar seu livro.

Vamos supor que você seja uma autoridade em gastronomia, talvez um chef reconhecido, e escreva um livro de culinária. A sua reputação entre seus pares e com seus fregueses seria sua plataforma, ou seja, os compradores potenciais de seu livro.

Neste sentido, se você já possui uma plataforma em uma área específica, escrever livros destinados a este segmento é uma ótima ideia para ganhar dinheiro com escrita. Pelo menos, não é nenhum tiro no escuro.

Vou ficar rico?

Se você não for nenhuma autoridade, tampouco possui uma plataforma, você está na mesma situação da maioria dos escritores por aí.

Restam-lhe duas opções:
1 - criar uma plataforma, o que pode ser feito através de um blog, das redes sociais, ou mesmo através de um primeiro livro que atraia atenção, criando uma comunidade de leitores para seus livros subsequentes,
2 - continuar escrevendo sem nenhuma pretensão de riqueza ou sucesso.

De qualquer modo, no Brasil, você dificilmente enriquecerá com a vendagem de seus livros.
Mesmo livros de sucesso de autores nacionais raramente ultrapassam a marca de algumas dezenas de milhares de exemplares vendidos, ou seja, você gastará dois ou mais anos escrevendo sua obra-prima e, se as vendagens foram excelentes, receberá uns vinte ou trinta mil reais por isto.

A solução será a mesma de quase todos os demais escritores: coincidir sua atual carreira com a escrita e, se por acaso algum dia você vender milhões de livros, dedicar-se exclusivamente à Literatura.
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