Thursday, June 07, 2007

Um Futuro para o Romance - Alain Robbe-Grillet

Por um Novo Romance
Um Futuro para o Romance


De: Alain Robbe-Grillet

Traduzido por: Henry Alfred Bugalho

À primeira vista, parece pouco razoável supor que uma literatura completamente nova possa ser, um dia - agora, por exemplo -, possível. As muitas tentativas feitas nestes últimos trinta anos para arrancar a ficção de seu marasmo resultaram, no máximo, em nada mais do que obras isoladas. E - dizem-nos freqüentemente - nenhuma destas obras atraiu, independente de seu interesse, a adesão dum público comparável ao do romance burguês. A única concepção de romance que possui circulação atualmente é, na verdade, aquela de Balzac.

Ou a de Mme. de La Fayette. Já sacrosanta em sua época, a análise psicológica constitui a base de toda prosa: ela governou a concepção do livro, a descrição de seus personagens, o desenvolvimento de seu enredo. Um "bom" romance permaneceu, desde sempre, um estudo duma paixão - ou dum conflito de paixões, ou da ausência duma paixão - numa dada ambientação. A maioria dos romancistas contemporâneos do tipo tradicional - aqueles, isto é, que tentam obter a aprovação de seus leitores - poderia inserir longos prechos de A Princesa de Clèves ou de O Pai Goriot em seus próprios livros sem despertar suspeitas do enorme público que devora qualquer coisa que eles engendram. Os escritores precisariam apenas mudar um frase aqui ou ali, simplificar certas construções, permitir-se um vislumbre ocasional de seu próprio "jeito" através duma palavra, uma imagem ousada, o ritmo duma sentença... Mas todos reconhecem, sem notar nada de peculiar em relação a isto, que a preocupação deles, enquanto escritores, são datadas de muitos séculos atrás.

O que há de tão surpreendente sobre isto, no final das contas? A matéria-prima - a língua francesa - sofreu apenas pouquíssimas modificações em três séculos; e, se a sociedade tem se transformado gradualmente, se técnicas industriais obtiveram progressos consideráveis, nossa civilização intelectual permaneceu quase a mesma. Vivemos essencialmente os mesmos hábitos e as mesmas proibições - morais, alimentícias, religiosas, sexuais, higiênicas, etc. E, é claro, há sempre o "coração" humano, que é considerado por todos como eterno. Não há nada de novo debaixo do sol, tudo já foi dito antes, entramos no palco tarde demais, etc., etc.

O risco de tais recalques avulta-se apenas se alguém ousa proclamar que esta nova literatura não somente é possível no futuro, mas que já está sendo escrita, e que ela representará - em sua realização - uma revolução mais completa do que aquelas que no passado produziram tais movimentos, como o Romantismo ou Naturalismo.


É claro que há algo de ridículo numa tal promessa de "Agora as coisas serão diferentes!" Como elas serão diferentes? Em qual direção elas mudarão? E, especialmente, por que elas mudarão agora?

Contudo, a arte do romance decaiu a um tal estado de estagnação - uma lassidão reconhecida e discutida pela totalidade da opinião crítica - que é difícil imaginar que esta arte possa sobreviver por muito tempo sem alguma mudança radical. Para muitos, a solução parece ser simples o bastante: sendo esta mudança impossível, a arte do romance está morrendo. Nem de longe isto é uma certeza. A História revelará, em poucas décadas, se os vários cortes e começos que foram registrados são sinais duma agonia mortal, ou dum renascimento.


Em qualquer caso, não devemos nos equivocar quanto às dificuldades que tal revolução encontrará. Elas são consideráveis. Todo o sistema de castas de nossa vida literária (do editor até o leitor mais humilde, incluindo o livreiro e o crítico) não tem escolha senão se opôr à forma desconhecida que está tentando se estabelecer. As mentes mais inclinadas à idéia duma mudança necessária, aquelas mais dispostas a aceitar e até mesmo saudar a validade do experimento, mantém-se, contudo, herdeiros duma tradição. Uma nova forma sempre se parecerá mais ou menos como uma ausência de qualquer forma, posto que ela é, inconscientemente, julgada em comparação com as formas consagradas. Numa das mais celebradas obras de referência francesa, podemos ler um artigo sobre Schoenberg: "Autor de obras audaciosas, escritas sem preocupação alguma com qualquer tipo de regra"! Este breve julgamento é encontrado sob o título Música, evidentemente escrito por um especialista.

A gaguejante obra recém-nascida será sempre considerada como um monstro, mesmo por aqueles que acham fascinante experimentar. É claro que haverá alguma curiosidade, alguns gestos de interesse, sempre algumas previsões para o futuro. E algum elogio; apesar de que o que é sincero sempre será endereçado aos vestígios do familiar, a todos aqueles vínculos dos quais a nova obra não se libertou e que desesperadamente tentam aprisioná-la ao passado.

Pois se as normas do passado servem para mensurar o presente, elas servem também para construí-lo. O próprio escritor, a despeito de seu desejo por independência, está situado no interior duma cultura intelectual e duma literatura que só pode ser aquela do passado. É impossível para ele escapar completamente desta tradição da qual ele é o produto. Às vezes, os próprios elementos aos quais ele mais se esforça em se opor, pelo contrário, florescem mais vigorosamente do que nunca na mesma obra pela qual ele esperava destruí-los; e ele será parabenizado, é claro, com alívio, por tê-los cultivado com tamanho zelo.

Assim, serão os especialistas em romance (romancistas ou críticos, ou leitores extremamente assíduos) que passarão por duras penas para se arrancarem do marasmo.

Mesmo o observador menos condicionado é incapaz de ver o mundo ao ser redor através de olhos despidos inteiramente de preconceitos. Não que tenha em mente, é claro, a preocupação ingênua por objetividade da qual analistas da alma (subjetiva) acham tão fácil rir. Objetividade, no sentido ordinário da palavra - total impessoalidade da observação - é obviamente uma ilusão. Mas liberdade de observação deveria ser possível, e ainda não o é. A cada momento, uma franja contínua de cultura (psicologia, ética, metafísica, etc.) é adicionada às coisas, dando-as um aspecto menos estranho, um que é mais compreensível, mais tranqüilizador. Algumas vezes, a camuflagem é completa: um gesto é banido de nossa mente, suplantado pela emoção que supostamente a produziu, e nós nos lembramos duma paisagem como austera ou calma, sem sermos aptos a evocar um único contorno, um único elemento determinante. Mesmo se nós imediatamente pensarmos, "Isto é literariedade", não tentamos reagir contra o pensamento. Nós aceitamos o fato que aquilo que é literário (a palavra se tornou pejorativa) funciona como uma grade, ou tela composta com pedaços de diferentes vidros coloridos que fracionam nosso campo de visão em pequenas facetas assimiláveis.

E se algo resiste a esta apropriação sistemática do visual, se um elemento do mundo quebra o vidro, sem encontrar lugar algum na tela interpretativa, sempre podemos utilizar nossa conveniente categoria do "absurdo", para absorvermos este incômodo resíduo.

Mas o mundo não é significante nem absurdo. Ele é, simplesmente. Em todo caso, esta é a coisa mais marcante sobre ele. E, repentinamente, a obviedade disto nos ataca com sua força irresistível. Duma vez só, toda a esplêndida construção desaba; abrindo, inesperadamente, nossos olhos, experimentamos, com demasiada freqüência, o impacto desta realidade teimosa que fingíamos dominar. Ao nosso redor, desafiando o nosso ruidoso maço de adjetivos animistas ou defensivos, as coisas estão aí. Suas superfícies são distintas e suaves, intatas, nem suspeitosamente brilhantes nem transparentes. Toda nossa literatura ainda não conseguiu erodir a menor de suas arestas, endireitar a menor de suas curvas.


As incontáveis versões cinematográficas de romances que abarrotam nossas telas de cinema fornecem uma ocasião para repetir este curioso experimento quantas vezes quisermos. O cinema, outro herdeiro da tradição psicologista e naturalista, tem geralmente como seu único propósito a transposição duma história em imagens: visa excluvisamente impôr ao espectador, pelo intermédio de algumas cenas bem escolhidas, o mesmo significado que as sentenças escritas comunicaram de seu próprio modo ao leitor. Mas, num determinado momento, a narrativa filmada pode nos arrastar para fora de nosso conforto interior e para dentro deste mundo proposto com uma violência não encontrada no texto correspodente, seja um romance ou um cenário.

Qualquer um pode perceber a natureza da mudança que ocorreu. No romance inicial, os objetos e os gestos constituindo a trama do enredo desapareceram completamente, deixando para trás apenas suas significações: a cadeira vazia torna-se apenas ausência ou expectativa, a mão sobre o ombro se torna um sinal de amizade, as barras na janela se tornam apenas a impossibilidade de partir... Mas, no cinema, -se a cadeira, o movimento da mão, a forma das barras. O que eles significam permanece óbvio, mas, ao invés de monopolizarem nossa atenção, tornam-se algo acessório, às vezes, algo em excesso, porque o que nos afeta, o que se mantém em nossa memória, o que aparece como essencial e irredutível a vagos conceitos intelectuais são os próprios gestos, os objetos, os movimentos, os contornos, aos quais a imagem restaurou, súbita (e não intencionalmente), a realidade.

Pode parecer peculiar que tais fragmentos de crua realidade, aos quais a narrativa filmada não contribui para apresentar, atinja-nos tão vividamente, enquanto que cenas idênticas na vida real não são suficientes para nos libertar de nossa cegueira. Na verdade, é como se as próprias convenções do meio fotogrático (duas dimensões, imagens em preto-e-branco, a moldura da tela, a diferença de escala entre as cenas) nos ajudasse a nos libertar de nossas convenções. O aspecto ligeiramente "incômodo" deste mundo reproduzido revela, ao mesmo tempo, o personagem incomodado do mundo que nos cerca; ele é também incômodo na extensão de que se recusa a se conformar aos nossos hábitos de apreensão e à nossa classificação.


Ao invés deste universo de "significação" (psicológica, social, funcional), devemos tentar, então, construir um mundo tanto mais sólido quanto mais imediato. Que seja, primeiro, por sua presença que os objetos e gestos se estabeleçam, e que esta presença continue a prevalecer sobre qualquer teoria explicativa que tente circunscrevê-los num sistema de referências, seja ele emocional, sociológico, freudiano, ou metafísico.

Neste futuro universo do romance, gestos e objetos estarão antes de serem uma coisa; e eles estarão aí posteriormente, sólidos, inalteráveis, eternamente presentes, pilheriando de seu próprio "sentido", aquele sentido que em vão tenta reduzí-los ao papel de precárias ferramentas, duma temporária e vergonha trama tecida exclusivamente - e deliberadamente - pela superior verdade humana expressa nele, apenas para expurgar imediatamente este desajeitado acessório para o esquecimento e obscurantismo.

De agora em diante, pelo contrário, os objetos perderão gradualmente sua instabilidade e seus segredos, renunciarão a seu pseudo-mistério, àquela suspeita interioridade que Roland Barthes chamou de "o coração romântico das coisas". Não mais os objetos serão a mera vaga reflexão da alma vaga do herói, a imagem de seus tormentos, a sombra de seus desejos. Aliás, se objetos ainda se permitirem ser uma muleta momentânea às paixões humanas, eles o farão apenas provisoriamente, e aceitarão a tirania das significações apenas na aparência - zombeteiramente, poderia-se dizer - para melhor mostrar quão alheios eles permanecem ao homem.

E, para os personagens romancescos, eles próprios podem sugerir muitas interpretações possíveis; eles podem, de acordo com a preocupação de cada leitor, acomodar todo tipo de comentários - psicológicos, psiquiátricos, religiosos, ou políticos -, mesmo que a indiferença deles a estas "potencialidades" logo se evidencie. Enquanto o herói tradicional é constantemente requisitado, apanhado, destruído por estas interpretações do autor, incessantemente projetado a um outro lugar imaterial e instável, sempre mais remoto e borrado, o herói do futuro permanecerá, em oposição, . Os comentários é que serão deixados em outro lugar; diante desta presença irrefutável, eles parecerão inúteis, supérfluos, até mesmo impróprios.


Dentre as histórias de detetive, "Exhibit X" nos dá, paradoxicalmente, uma clara imagem desta situação. A evidência colhida pelos inspetores - um objeto deixado na cena do crime, um movimento capturado numa fotografia, uma sentença ouvida por uma testemunha - parece, a princípio, exigir uma explicação, para existir apenas em relação a seu papel no contexto que a sobrepuja. E as teorias já começam a tomar forma: o magistrado encarregado tenta estabelecer uma ligação lógica e necessária entre as coisas; parece que tudo será resolvido num banal entulho de causas e conseqüências, intenções e coincidências...

Mas a história começa a se proliferar de maneira perturbadora: testemunhas se contradizem, acusados apresentam vários álibis, novas evidências que não foram consideradas aparecem... E acabamos voltando até a evidência gravada: a exata posição duma peça de mobília, a forma e freqüência duma impressão digital, uma palavra esgaratujada numa mensagem. Nós temos montada uma sensação de que nada mais é verdadeiro. Mesmo que possa esconder um mistério, ou traí-lo, estes elementos que compõem uma zombaria de sistemas têm apenas uma qualidade séria, óbvia, que é a de estar aí.

O mesmo é verdadeiro para o mundo ao nosso redor. Pensamos controlá-lo ao assinalar um sentido, e toda a arte do romance, em particular, parecia dedicada a esta empresa. Mas esta era apenas uma simplificação ilusória; e longe de se tornar mais claro e mais próximo por causa dele, o mundo apenas perdeu, pouco a pouco, toda sua vida. Posto que é principalmente em sua presença que a realidade do mundo reside, nossa tarefa é agora criar uma literatura que leve tal presença em consideração.


Tudo isto pode parecer muito teórico, muito ilusório, se algo não estivesse, de fato, mudando - mudando completamente, definitivamente - em nossas relações com o universo. É por isto que nós vislumbramos uma resposta à velha questão irônica, "Por que agora?" Há, na verdade, um novo elemento hoje que nos separa radicalmente, neste tempo, tanto de Balzac, como de Gide ou de Mme. de La Fayette: é a destituição dos velhos mitos de "profundidade".

Sabemos que toda a literatura romanesca foi baseada nestes mitos, e neles apenas. O papel tradicional do escritor consistia em escavar a Natureza, cavar cada vez mais fundo para alcançar algum estrato mais íntimo, em desaterrar, finalmente, algum fragmento dum segredo desconcertante. Após haver descido até o abismo das paixões humanas, ele enviaria ao mundo aparentemente tranqüilo (o mundo da superfície) mensagens triunfantes, descrevendo os mistérios que ele tocou, de fato, com suas próprias mãos. E a vertigem sagrada então sofrida pelo leitor, longe de causar-lhe angústia ou náusea, reassegura-lhe seu poder de dominação sobre o mundo. Havia abismos, certamente, mas graças a tais valentes espeleologistas, suas profundezas puderam ser ouvidas.

Não surpreende que, dadas tais condições, o fenômeno literário por excelência tenha residido completamente num único adjetivo, que tentou unir todas suas qualidades interiores, toda a alma escondida das coisas. Assim, a palavra funcionava como uma armadilha na qual o escritor capturava o universo na intenção de entregá-lo à sociedade.

A revolução que ocorreu é esta: não apenas não consideramos o mundo como nosso, nossa propriedade privada, projetado de acordo com nossas necessidades e prontamente domesticado, como nem mesmo mais acreditamos em sua "profundidade". Enquanto concepções essencialistas do homem se deparam com sua destruição, a noção de "condição", de agora em diante, substitui o de "natureza", a superfície das coisas cessa de ser para nós uma máscara de seu coração, um sentimento que conduz a todo tipo de transcendência metafísica.

Assim, é toda a linguagem literária que deve mudar, e já está mudando. Dia após dia, testemunhamos um crescente nojo, sentido pelas pessoas de maior consciência, a palavras de característica visceral, analógica ou enfeitiçante. Por outro lado, o adjetivo visual ou descritivo, a palavra que se contenta em mensurar, localizar, limitar, definir, indica uma dificuldade, mas, mais provavelmente, uma direção para nova arte do romance.

(1956)


ROBBE-GRILLET, Alain, For a New Novel, Essays on Fiction. New York: Grove Press, 1965. p. 15-24

Wednesday, June 06, 2007

A Aplicação da Teoria - Alain Robbe-Grillet

Por um Novo Romance
A Aplicação da Teoria


De: Alain Robbe-Grillet

Traduzido por: Henry Alfred Bugalho

Não sou um teórico do romance. Apenas fui movido, como sem dúvida todos os romancistas, tanto no passado como hoje, a perfazer algumas reflexões críticas sobre livros que escrevi, sobre aqueles que li, sobre aqueles que pretendo escrever. Na maior parte do tempo, tais reflexões foram inspiradas por certas reações - que parecem ser para mim surpreendentes ou injustificadas - causadas na imprensa por meus próprios livros.
Meus romances não foram recebidos, após publicação na França, com unânime entusiasmo; para se dizer o mínimo. Desde o reprovador silêncio parcial que saudou o primeiro (Les Gommes) até a rejeição maciça e violenta disseminada pelos jornais ao segundo (Le Voyeur), houve pouco progresso: excetuando pelo número de cópias impressas, que foi muito maior no segundo caso. É claro que também houve algum elogio, aqui e ali, mesmo que esta apreciação ocasional me desconcertasse ainda mais. O que mais me deixou pasmo, tanto nas reprovações quanto nos elogios, foi encontrar, em quase todos os casos, uma implícita - ou até mesmo explícita - referência aos grandes romances do passado, os quais sempre foram assumidos como o modelo para onde os jovens escritores deveriam voltar os olhos.

Nas revistas literárias, freqüentemente encontrei uma resposta mais séria. Mas eu não estava satisfeito em ser reconhecido, desfrutado, estudado apenas por especialistas que haviam me encorajado desde o começo; eu estava sequioso por escrever para o "público leitor", eu me ressentia por ser considerado como um autor "difícil". O meu pasmo, minha impaciência estavam provavelmente em proporção a minha ignorância sobre os círculos literários e seus hábitos. Assim, publiquei, num jornal político-literário com grande circulação (L'Express), uma série de breves artigos, nos quais discuti várias idéias que me pareciam nada mais do que óbvias: por exemplo, que a forma do romance deve evoluir para poder se manter viva, que os heróis de Kafka possuem apenas uma tênue conexão com os personagens de Balzac, que o realismo socialista ou o "engagement" sartreano são difíceis de serem reconciliados com o problemático exercício da literatura, bem como com o de qualquer arte.

O resultado destes artigos não foi o que eu esperava. Eles causaram alguma comoção, mas foram declarados, por quase todo o mundo, como simplórios e tolos. Ainda compelido pelo desejo de convencer, reelaborei, então, os principais pontos controversos, desenvolvendo-os num ensaio mais extenso, que apareceu na Nouvelle Revue Française. Infelizmente, o efeito não foi melhor; e esta revisão - caracterizada como um "manifesto" - consagrou-me como um teórico duma nova "escola" do romance, da qual, é claro, nada de bom poderia ser esperado, e à qual estava relegado com entusiasmo, quase aleatoriamente, qualquer escritor que parecesse ser difícil de se classificar. "École du regard", "Romance Objetivo", "École de Minuit" - os rótulos eram vários; bem como as intenções atribuídas à mim, que eram, na verdade, fantásticas: remover o homem do mundo, impôr meu próprio estilo a outros romancistas, destruir todas as regras da composição literária, etc.

Tentei, em novos artigos, aperfeiçoar as questões ao enfatizar elementos que mais foram negligenciados, ou mais distorcidos, pelos críticos. Desta vez, fui acusado de contradição, de repudiar a mim mesmo. ... Assim, compelido alternadamente por minhas próprias explorações e por meus detratores, continuei irregularmente, ano após ano, a publicar minhas reflexões sobre literatura. É esta coleção de textos que aparece neste presente volume.


De maneira alguma estas reflexões constituem uma teoria do romance; elas apenas tentam esclarecer várias linhas de desenvolvimento que me parecem cruciais na literatura contemporânea. Se, em muitas das páginas que se seguem, eu emprego prontamente o termo Novo Romance, não se trata duma escola designada, nem mesmo dum grupo específico e constituído de escritores trabalhando numa mesma direção; a expressão é apenas um rótulo conveniente aplicável a todos aqueles procurando novas formas para o romance, formas capazes de expressar (ou de criar) novas relações entre o homem e o mundo, a todos aqueles decididos a inventar o romance, em outras palavras, a inventar o homem. Tais escritores sabem que a repetição sistemática das formas do passado não somente é absurda e fútil, mas que pode se tornar até mesmo prejudicial: ao nos cegar quanto nossa real situação no mundo atual, ela nos impede, em última instância, de criar o mundo e o homem de amanhã.

Elogiar um jovem escritor, em 1965, por ele "escrever como Stendhal" é um duplo disparate. Por um lado, não há nada de admirável em tal feito, como acabamos de ver; por outro, a própria coisa é impossível: para se escrever como Stendhal, antes de tudo, deveria-se estar escrevendo em 1830. Um escritor que produza um pastiche habilidoso o suficiente para conter páginas que o próprio Stendhal poderia ter assinado naquela época, de modo algum possui mais valor do que se houvesse escrito as mesmas páginas sob Charles X. Não é paradoxo algum que Borges elabora em Ficções: o romancista do século vinte que reproduz Dom Quixote palavra por palavra escreve uma obra totalmente diferente da de Cervantes.
Além disto, ninguém sonharia em elogiar um músico por ter composto um Beethoven, um pintor por fazer um Delacroix, ou um arquiteto por ter concebido uma catedral gótica. Felizmente, muitos romancistas sabem que o mesmo vale para a literatura, que a literatura também é viva, e que o romance, desde que surgiu, sempre tem sido novo. Como um estilo pôde ter se mantido imutável, fixo, quando tudo ao seu redor estava em evolução - até mesmo revolução - pelos últimos cento e cinqüenta anos? Flaubert escreve o novo romance em 1860, Proust, o novo romance em 1910. O escritor deve consentir a aceitar sua própria data com orgulho, sabendo que não há obras-primas na eternidade, mas apenas obras na história; e que elas sobrevivem apenas pela medida de terem deixado o passado para trás e proclamado o futuro.


Entretanto, se há algo em particular que os críticos acham difícil tolerar, é que o artista deva se explicar. Eu certamente constatei isto quando, após haver expressado esta e outras noções óbvias, publiquei meu terceiro romance (La Jalousie). Não somente o livro foi atacado, censurado como um tipo de ultraje prepóstero contra a belas-letras; como também provado que tal abominação só podia ter sido esperada, pois La Jalousie era um produto autodeclarado de premeditação: seu autor - Oh, o escândalo! - se permitiu ter opiniões sobre seu próprio ofício.

Também aqui, vejo que os mitos do século dezenove retêm todo seu poder; o grande romancista, o "gênio", é uma espécie de monstro inconsciente, irresponsável e à mercê do destino, até mesmo ligeiramente estúpido, que emite "mensagens" que apenas o leitor pode decifrar. Qualquer coisa que ameace obscurecer o julgamento do escritor é mais ou menos aceito como favorável ao pleno desabrochar da sua obra. Alcoolismo, pobreza, drogas, paixão mística, loucura recaíram sobre as mais ou menos romantizadas biografias dos artistas, que parecem ser natural vê-las, desde então, como necessidades da triste condição do criador, ver, em qualquer caso, uma antinomia entre criação e consciência.

Longe de ser resultado dum escrutínio honesto, esta atitude trai uma metafísica. Aquelas páginas às quais o escritor gerou como pensamento inconsciente, aquelas maravilhas não premeditadas, aquelas palavas "perdidas" revelam a existência de alguma força superior que as ditou. O romance, mais do que um criador no sentido estrito, é assim um simples mediador entre os mortais comuns e um poder obscuro, uma força além da humanidade, um espírito eterno, um deus...

Na verdade, basta ler os diários de Kafka, por exemplo, ou a correspondência de Flaubert, para perceber de cara o papel principal assumido, mesmo nas grandes obras pretéritas, por uma criatividade consciente, pela vontade, pelo rigor. Trabalho paciente, construção metódica, a arquitetura deliberada de cada sentença, bem como do todo do livro - ela sempre encenou seu papel. Após Os Moedeiros Falsos, após Joyce, após A Náusea, parecemos estar tendendo gradativamente para uma época da ficção na qual os problemas de estilo e construção serão consideradas de maneira lúcida pelo romancista, e na qual preocupações críticas, longe de esterelizarem a criação, podem, ao contrário, serví-la como força condutora.

Não há a questão, como vimos, em se estabelecer uma teoria, um molde pré-existente no qual enformar os livros do futuro. Cada romancista, cada romance deve inventar sua própria forma. Nenhuma receita pode substituir a reflexão contínua. O livro faz suas próprias regras para si, e para si apenas. De fato, o movimento para seu estilo geralmente leva a pô-lo em risco, quebrá-lo, até mesmo explodí-lo. Longe de respeitar certas formas imutáveis, cada novo livro tende a constituir as leis de seu próprio funcionamento, ao mesmo tempo em que produz a própria destruição destas leis. Uma vez que a obra esteja concluída, a reflexão crítica do autor lhe servirá posteriormente para ganhar uma perspectiva em relação a ela, imediatamente nutrindo novas explorações, uma nova partida.

Portanto, a tentativa de pôr visões teóricas e obras de arte em contradição não é muito interessante. A única relação que pode existir entre elas é precisamente duma característica dialética: uma interação entre acordos e oposições. Não será surpreendente, então, que haja desenvolvimento dum ensaio a outro, entre estes que se seguem. Não, é claro, o cru repúdio equivocadamente denunciado por leitores que foram um pouco descuidados - ou mau dispostos -, mas reconsiderações dum nível diferente, reexaminações, outro lado duma mesma idéia, ou seu complemento, e, em alguns casos, apenas um aviso contra um erro de interpretação.



Além disto, é óbvio que idéias possuem pouca conseqüência em relação a obras, o que nada pode substituir a última. Um romance que não é mais do que um exemplo gramatical ilustrando uma regra - mesmo acompanhada por sua exceção - seria naturalmente inútil: a asserção da regra bastaria. Ao exigir o direito do autor sobre a inteligência da sua criação, em insistindo no interesse proporcionado pela consciência de sua própria exploração, sabemos que principalmente no nível do estilo que esta exploração é feita, e que nem tudo é claro no momento da decisão. Assim, tendo indisposto os críticos ao falar sobre a literatura que ele sonha escrever, o romancista sente-se repentinamente desarmado quando este crítico lhe pergunta: "Agora, explique por que você escreveu este livro, o que ele significa, o que você estava tentando fazer, o que você pretendia ao utilizar esta palavra, ao escrever esta sentença!"

Diante de tais questões, a "inteligência" do romancista não parece ajudá-lo mais. O que ele estava tentando fazer era apenas o próprio livro. O que não significa que ele sempre esteja safisfeito com ele; mas a obra permanece, em todo caso, a melhor e a única expressão possível de sua empreitada. E se ele houver tido capacidade para fornecer uma definição mais simples, ou resumir suas duas ou três centenas de páginas a alguma mensagem em linguagem clara, explicar seu funcionamento palavra por palavra - em suma, dar-lhe uma justificativa, ele não teria sentido a necessidade de escrever o livro. Pois a função da arte nunca é a de ilustrar uma verdade - ou mesmo uma interrogação - sabida de antemão, mas a de trazer ao mundo certas interrogações (e também, talvez, na hora certa, certas respostas) ainda não conhecidas como tais por elas.

A consciência crítica do romancista pode ser útil apenas no nível das escolhas, não no da justificação delas. Ele sente a necessidade de utilizar certa forma, ou rejeitar certo adjetivo, de construir este parágrafo de certo jeito. Ele põe todo seu esforço à procura da palavra certa, e do lugar certo onde colocá-la. Mas desta necessidade ele não pode produzir prova alguma (excetuando, ocasionalmente, após o fato). Ele nos implora que acreditemos nele, que confiemos nele. E quando nós perguntamos a ele por que ele escreveu este livro, ele possui apenas uma resposta: "Para tentar e descobrir por que eu queria escrevê-lo".

E, dizer para onde o romance está se encaminhando, ninguém pode, é claro, fazê-lo com certeza. Mais do que isto, é provável que caminhos diferentes continuarão a existir para o romance, em paralelo. Ainda assim, um caminho já parece estar assinalado mais claramente que o restante. De Flaubert a Kafka, uma linha descendente é traçada, uma ancestralidade que sugere uma progênie. Esta paixão por descrever, que anima a ambos, é certamente a mesma paixão que discernimos no novo romance atual. Além do naturalismo de Flaubert e do onierotismo de Kafka aparecem os primeiros elementos dum estilo realista dum gênero desconhecido, que agora está vindo à tona. É ao esboço deste novo realismo que a presente coleção tenta descrever.

(1953 e 1963)


ROBBE-GRILLET, Alain, For a New Novel, Essays on Fiction. New York: Grove Press, 1965. p. 7-14

Tuesday, June 05, 2007

A Grande Lista de Clichés da Ficção Científica - Índice


Por: John VanSickle

Tradução de: Henry Alfred Bugalho

Aqueles de nós que lêem ou vêem bastante ficção científica devem ter percebido que há certos elementos da história que aparecem várias, várias, várias e várias vezes. Alguns destes elementos eram, na verdade, idéias muito boas, e quando bem manipuladas produzem uma história divertida, mas se tornaram desgastadas por causa daqueles com pouca imaginação. Outros elementos surgiram justamente num esforço para evitar outro cliché. E outras idéias já nasceram deficientes desde o começo, e deveriam ter sido dispensadas pela mente do autor.
Clichés não são necessariamente maus, mas o excesso de uso demonstra que o escritor se esqueceu do que separa uma narrativa consistente de outra oca: "o coração humano em conflito consigo próprio", como disse Faulkner. Onde há conflito, a narrativa se suporta; onde o conflito está ausente, a narrativa sucumbe, e em nenhum dos dois casos importa quantas espaçonaves explodiram.

O leitor sofisticado (aquele que lê mais do que apenas FC) perceberá que alguns destes clichés não são encontrados apenas em FC, mas em outros gêneros também, e, é claro, o ridículo dos clichés é um prato cheio para a boa comédia.

OBSERVAÇÃO: O uso dos pronomes masculinos/feminos e designações genéricas de papéis não pretende negar a inversão dos papéis de gênero. Porém, pretende ofender aqueles que pensam que o cromossomo Y é a raiz de todo o mal do mundo. Humpf!

Esta lista não está mais "atualizada e revisada". As "revisões" já eram trabalho demais para se fazer.

Índice

Primeira Parte
Seção 1: Enredos e Storylines Desgastados

Segunda Parte
Seção 2: Ambientações e Caracterizações Desgastadas

Terceira Parte
Seção 3: Eventos da História e Recursos do enredo desgastados

Quarta Parte
Seção 4: Ciência Boçal

Sunday, June 03, 2007

A Grande Lista de Clichés da Ficção Científica - Quarta Parte

Fonte: http://www.geocities.com/evilsnack/cliche.htm

(Voltar para a Terceira Parte)

Por: John VanSickle
Tradução de: Henry Alfred Bugalho

Os Símbolos

Os vistos verdes são aqueles itens que não são tão ruins, mas que foram usados tantas vezes que precisa dum ótimo tratamento para tirá-los da pilha de lixo. Eles não destruirão uma história bem escrita, e alguns dos clássicos empregaram estes elementos (e os empregaram bem).

Os três Zs são itens que foram ligeiramente interessantes quando da primeira vez, mas que provocam a reação de "já vi isto, já vi aquilo" quando reutilizados. Apenas alterações verdadeiramente bizarras nestas idéias podem rejuvenecê-las.

As cruzes verdes são para besteiras, mas toleráveis para manter o efeito dramático, desde que o enredo não dependa delas.

As interrogações vermelhas indicam aqueles itens que sustentam o enredo, mas que levantam questões que deveriam ser respondidas para que a história seja levada a sério. Por exemplo, um robô sagrando óleo quando acertado por um tiro é insatisfatório. Um vazamento de fluído hidráulico num robô hidráulico acertado por um tiro é convincente.

O boi é para aqueles itens que, pela razão que for, seja algo de paquidermes. Tais razões incluem contradições óbvias a conhecidas leis da física, apresentar uma contradição irreconciliável, requerendo que os personagens envolvidos tenham o QI duma casca de banana ou sejam abismalmente estúpidos por alguma outra razão.

O logo da Nave é para aqueles itens aos quais "Jornada nas Estrelas" ofendeu.

O porco é para aqueles itens inconscientemente chauvinistas.

A suástica é para aqueles itens que demonstram preconceitos raciais, étnicos ou religiosos.

Seção IV: Ciência Boçal

  1. Computadores superinteligentes explodem quando o herói os confudem.
  2. Computadores superinteligentes se confundem quando o herói diz para eles "tudo que eu digo é uma mentira" ou alguma asserção paradoxal.
  3. Naves espaciais não possuem fusíveis, disjuntores, supressores de surto, assim, quando uma parte distante da nave é danificada, os painéis de controle explodem.
  4. Computadores são reprogramados por alguém que não possui conhecimento sobre o sistema operacional do computador.
  5. Terminais de computadores apresentam a operação corrente (exemplo: "CARREGANDO VÍRUS") em letras enormes e piscantes.
  6. As falhas óbvias de design dum veículo ou sistema armamentício não são corrigidas durante toda a vida útil destes sistemas.
  7. Veículos e/ou sistemas armamentícios são postos em um ambiente completamente impraticável.
  8. Características das naves espaciais são inspiradas incompreensivelmente em design de transportes marítimos.
  9. Um tratamento médico não comprovado é utilizado. Ele é 100% eficiente e não possui efeitos colaterais.
  10. Alguém adquire um problema médico que será fatal num determinado tempo; a cura é encontrada e ministrada dentro do tempo estipulado, permitindo uma recuperação de 100%.
  11. Um robô é alvejado e sangra óleo.
  12. Uma nave, quando atingida, explode como se estivesse cheia de gasolina e oxigênio líquido.
  13. Computadores, quando atingidos, explodem como se estivessem abarrotados de fogos de artifício.
  14. Retroengenharia é feita rapidamente num item de tecnologia por um grupo de pesquisadores menos avançados.
  15. Um grupo de alienígenas é esperto o bastante para roubar a tecnologia de alguém, mas estúpido demais para aperfeiçoá-la.
  16. Um avanço tecnológico parte duma teoria incompleta para aplicação em quinze minutos, ao invés de quinze meses.
  17. Após os tripulantes seres arremessados dum lado para outro como bolas num globo de bingo por trinta anos, a nave ainda não possui cintos-de-segurança.
  18. Armas nucleares possuem efeito em proporção bem menores do que racionalmente deveriam produzir.
  19. Protocolos de segurança dum computador são violados ao se dizer um mero "violar" para o computador.
  20. Um clone cresce até alcançar o estado de desenvolvimento físico da pessoa clonada em questão de minutos.
  21. Clones pensam, agem e fala de maneira idêntica à pessoa clonada.
  22. Clones saem do tubo de clonagem com o mesmo corte de cabelo que o indivíduo clonado.
  23. Programas de Inteligência Artificial possuem propriedades únicas que o impedem de serem copiados ou transmitidos como quaisquer outros dados.
  24. Programas de Inteligência Artificial são capaz de ultrapassar os protocolos de segurança do sistema operacional no qual eles funcionam.
  25. Computador de bordo sabem exatamente quanto tempo levará para que o mal funcionamento exploda a nave.
  26. Computadores que existem num futuro distante e que são considerados como "de ponta", demonstram menos funcionalidade que um XT.
  27. Duas raças nunca tiveram contato antes, não falam as línguas uma da outra e não há possibilidade de terem desenvolvido protocolos compatíveis para transmissão de dados, mesmo assim, os computadores delas são capazes de se comunicarem a primeira vista, através dos monitores das naves.
  28. Armas-de-fogo do século vinte são abandonadas, mesmo que as substitutas de alta tecnologia sejam significantemente mais complexas para serem projetadas, custem mais para serem construídas, não sejam tão mortíferas, nem com maior alcance ou maior precisão.
  29. Quando um figurante ou personagem secundário é atingido, eles imediatamente caem mortos; quando um personagem principal é atingido, ele sobrevive com um ferimento horrível, ou ele agoniza tempo suficiente para murmurar algumas palavras.
  30. Lasers são visíveis ao atravessarem o vácuo do espaço.
  31. Um robô que não consegue subir escadas é colocado numa área em que elas sejam comuns.
  32. Um sistema tático que só pode mirar alvos visíveis a olho nu ainda é considerado útil.
  33. Um sistema tático do futuro que não possua capacidade de mira ainda é considerado satisfatório.
  34. "Reverter a polaridade" é a solução para qualquer problema de engenharia.
  35. Feixes de laser viajam com a velocidade duma flecha.
  36. Heróis/naves podem se esquivar de feixes de laser porque estes viajam com a velocidade duma flecha.
  37. Artefatos alienígenas continuarão funcionando mesmo após terem sido abandonados há milhões de anos.
  38. Naves espaciais fazem um whoosh enquanto voam.
  39. Naves gigantescas e caras são usadas para transportar mercadorias baratas e em pequenas quantidades.
  40. Estrelas passam aceleradas ao lado da nave, quando esta voa no espaço.
  41. Uma grande dose de radiação causa superpoderes, ao invés de supertumores.
  42. Uma grande dose da radiação faz com que uma criatura "evolua" para uma forma mais avançada.
  43. A solução para um problema resolvido há quatro semana é descartada e nunca mais utilizada.
  44. Quando um personagem envelhece prematuramente, ou é curado de velhice prematura, o cabelo já crescido muda de cor para combinar..
  45. Uma nave é enviada em missão antes que seus sistemas estejam completamente operacionais.
  46. O Herói sabe como desativar a bomba, mas não se lembra qual dos fios cortar.
  47. Quando um computador está trabalhando num problema difícil, os requerimentos de maior potência fazem com as luzes diminuam ou pisquem.
  48. A despeito de seus tamanhos e funções, robôs são projetados com as mesmas características que os humanos (dois braços e pernas, dez dedos, mesmas juntas, etc.)
  49. Alguém ergue um carro (ou algum outro objeto pesado) com seu braço biônico, mesmo que o resto de seu corpo seja carne e ossos normais e não possa suportar o peso.
  50. Os planos para um complicado aparelho cabe num disquete de 1.44 megas.
  51. Aperfeiçoar um computador além de certo nível de velocidade, capacidade de memória ou complexidade, faz com que ele se torne autoconsciente.
  52. Criaturas capazes de mudar de forma também podem alterar suas massas.
  53. Um buraco do tamanho duma casa é feito no casco da nave; a despressurização da nave ocorrerá em mais ou menos meio minuto.
  54. Um buraco do tamanho duma moeda é feito no casco da nave; a despressurização da nave ocorrerá em mais ou menos meio minuto.
  55. Uma explosão nuclear pode ser obtida ao se juntar vários dispositivos menores.
  56. O mesmo feixe de energia que causa pedras, edifícios e robôs explodirem violentamente, quando utilizado contra seres vivos produz apenas uma fumacinha, um pouco de carne queimada e roupas amontoadas.
  57. Os esgotos/dutos de ventilação fornecem fácil acesso através da cidade/nave/castelo.
  58. Todos computadores possuem rolos de fita que rodopiam freneticamente.
  59. Quando algo explode no espaço, a onda de choque tem forma anelar.
  60. Quando uma embarcação espacial orbitante é danificada ou posta fora de ação, ela imediatamente sai de órbita.
  61. Um metamorformo cuja forma natural é homogênea, pode ser nocauteado com um golpe na cabeça quando em forma humanóide.
  62. O fino raio de energia desintegra a pessoa inteira, suas roupas e pertences, com seu tiro, mas não deixa nem uma mancha na cadeira em que ela está sentada ou no chão no qual ela pisa.
  63. Ao invés de sólidas portas físicas, celas de prisão no futuro são protegidas com campos de força, qualquer falta de energia é sinônimo de rebelião.
  64. Naves espaciais se inclinam para fazerem a curva.
  65. Quando a nave entra em alerta vermelho, as luzes diminuem e ficam vermelhas.
  66. Apesar do tremendo perigo de segurança que representam, objetos de vidro são permitidos em grandes quantidades em naves que possuem gravidade artificial.
  67. Cristais irregulares coloridos são fonte de energia no futuro.
  68. Gravidade artificial é o último sistema de todos a pifar.
  69. Tempestades iônicas.
  70. Formas de vida alienígena que aumentam suas massas sem ingerir nada.
  71. Quando duas naves se encontram, ambas estão sempre viradas para cima, a não ser que uma delas esteja desativada, neste caso, ela está sempre emborcando.
  72. Senhas de segurança dum computador são ditas em voz alta. A possibilidade de grampo ou espiões nunca inibem esta prática.
  73. O aparelho de transmissão de matéria não pode duplicar organismos vivos, a não acidentalmente. Reproduzir as circunstâncias deste acidente sempre fracassa.
  74. Aparelhos de processamento de dados emitem uma série randômica de sons inócuos enquanto processam informação. Cada caracter que aparece na tela do computador é acompanhado por um som.
  75. Apesar de teclados de computador do futuro ainda possuírem a barra de espaço, ninguém a utilizará mais.
  76. Espaçonave que é, na verdade, uma criatura viva com significativa inteligência.
  77. Armas laser têm recuo.
  78. Tecnologia alienígena roubada é compatível com nossos sistemas energéticos e pode ser instalada e usada imediatamente.
  79. Armas de feixe só podem ser disparadas com um raio fino, numa direção contínua, não podem rastrear um alvo ou disparadas com amplitude.
  80. Forças alienígenas são dependentes da nave-mãe, assim, ao destruí-la, todo o resto é desativado.
  81. Todo planeta habitado possui o mesmo tempo de rotação da terra, acrescendo ou subtraindo algumas horas.
  82. Os produtos químicos num laboratório são bem coloridos. Os venenosos têm sempre uma cor verde vivo.
  83. Telas de computadores projetam o conteúdo na face dos usuários.
  84. Diminuir as luzes da ponte da nave conserva energia suficiente para permitir considerável aumento de velocidade duma espaçonave pesando várias toneladas.
  85. Você tem acesso a áreas restritas da nave, partindo de áreas públicas, através dos dutos de ventilação e manutenção. Nunca há precaução alguma que evite isto.
  86. Um computador pode ser destruído ao se disparar contra a tela.
  87. Vírus de computador são sempre catastróficos e danosos. Nunca são inofensivos ou apenas perturbadores.
  88. Quando a fala dum alienígena é traduzida para os tripulantes, os lábios do alienígena se movem de acordo com a língua dos ouvintes. Além disto, não podemos ouvir a fala de fato do alienígena.
  89. Quando uma nave é encontrada à deriva no espaço, há sempre energia suficiente para ligar as luzes, a gravidade artificial e o suporte de vida. Um ou mais destes sistemas está ligado quando o herói embarca na nave.
  90. Não sabe o código da fechadura? Apenas atire no teclado. A porta se abrirá.
  91. Um robô ou outra Inteligência Artificial fala progressivamente mais devagar ao se desligar por causa de algum defeito.
  92. Quanto mais rápido uma Inteligência Artificial pensa, mais rápido as luzes dela piscam.
  93. As naves de duas espécies que nunca se encontraram antes podem se acoplar mesmo sem alguns dias de trabalho de engenharia.
  94. A arma que vaporiza pessoas no nível alto, apenas as atordoa (sem causar dano) num nível baixo.


Seção V: Sugestões rejeitadas que recebe aos montes

  1. A nave é tripulada por um bando de caras brancos.
    Razão para rejeição: Cada produção de FC reflete a sociedade que a produziu. Por exemplo, em filmes japoneses de FC a maioria dos personagens são japoneses, com exceção dum figurante não-japonês (sul-americano nas duas produções que me lembro). Eu prefiro que uma produção reflita a sociedade que a produziu do que uma que o produtor gostaria que existisse.

  2. Explosões no espaço têm som.
    Razão para rejeição: Explosões são consituídas, em parte, duma quantidade de gases superaquecidos que se expandem em alta velocidade. Quando esta matéria atingir o observador, ele ouvirá algo.

A Grande Lista de Clichés da Ficção Científica é um esforço coletivo. Graças a minha falha em manter registro de tudo, nem todas as pessoas receberam crédito pelos clichés que elas identificaram. Mas aqui estão algumas às quais posso dar crédito:

  • Jon Acheson
  • Julius Ackermann
  • AvantPop
  • Axis of Praxis
  • Greg Barr
  • Chuck Beard
  • Paul Beardsley
  • Chistopher L. Bennett
  • Eric Berge
  • BEV erins
  • Lou Blake
  • Yves Boudreault
  • Ron Breznay
  • Steve Brinich
  • Scott Brownlee
  • Cambias
  • CFVici
  • Christina
  • Philippa Chapman
  • Steve Charlton
  • Vincent Cheung
  • Richard Clark
  • Cosmin Corbea
  • Fernando Peña D'Andrea
  • Kate Daniel
  • Tony Daniel
  • Edmond Dantes
  • Martin Dawson
  • dcnutcase
  • Frank Diekman
  • Dogscoff
  • Scott Doty
  • Christina Dunigan
  • Brian P. Dunn
  • Eslington
  • John Fairhall
  • Miguel Farah
  • William George Ferguson
  • Matthew Fields
  • Bob Finlay
  • Fufi
  • Matteus S. Gadd
  • Alan Gil
  • Gillman
  • Dan Goodman
  • Guy Gordon
  • Mikko Granlund
  • Peter H. Granzeau
  • Steve Green
  • Bob Greenwade
  • Stephen Hagyard
  • Alfred Hailey
  • Dave Higgo
  • Brett Hendricks
  • John Homer
  • Jim Hurley
  • Ian
  • Joseph W. Jackson
  • Alex Johnson
  • Brad Jones
  • Joshua Kane
  • Jens Kilian
  • Leszek Karlik
  • Ian Kerr
  • Peter Klumbach
  • Peter Knutsen
  • Michael Kupari
  • Bill Lancaster
  • Ryan Laws
  • Nancy Lebovitz
  • Dan Lee
  • Roy Lent
  • Ed Lincoln
  • Lizard
  • Luke
  • Bert March
  • James Matthews
  • Scott McEwan
  • Matt McIrvin
  • Derrick McNeill
  • Louann Miller
  • Mike15007
  • Don Mllkn
  • Jason Moon
  • Nick Nallick
  • Pres Nevins
  • James Nicoll
  • Michael Noble
  • Fred Nuttall
  • Christopher Owens
  • Todd Pagden
  • Keith Palmer
  • Andrej Panjkov
  • Don Perkins
  • Lawrence Person
  • Brian Pickrell
  • Siegfried Pietralla
  • Dan Piponi
  • Michael Powers
  • Barnaby Rapoport
  • Scott Raun
  • Jeff Rhodes
  • Matthew Robinson
  • Mark Rosefield
  • Stacie Rosenzweig-Whitacre
  • Rubinstein
  • Lee Ann Rucker
  • Mike Schilling
  • André Schmidt
  • Steve Schonberger
  • Shadow
  • Yuri Shukost
  • Somebody Unknown
  • Murray Smith
  • Julie Stampnitzky
  • Boris Stanimirovic
  • Adam Louis Stephanides
  • Victoria Strauss
  • Streak
  • Charlie Stross
  • Iain A. Sutherland
  • Michael Suttkus
  • Mike Thomspon
  • William R. Thompson
  • Rob Thornton
  • thumbwarriors
  • Turtle
  • User
  • Vegard Valberg
  • Art van Scheppingen
  • David Vandenbroucke
  • Rex Vaughn
  • William Vetter
  • Brett Watson
  • Lawrence Watt-Evans
  • Dave Weingart
  • Bill Welch
  • Colin Whipple
  • John Whitson
  • Roger M. Wilcox
  • Richard Wright
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