Wednesday, November 04, 2015

Bibliotecas na Inglaterra


A biblioteca onde Marx e Engels escreveram o Manifesto Comunista, outra onde pode-se tocar bateria e jogar videogame, ou uma homenageando John Lennon.

Estas são algumas das maravilhosas e incríveis bibliotecas por onde passei aqui na Inglaterra.

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Monday, November 02, 2015

O Escritor e as Redes Sociais



A maior dificuldade da escrita não é escrever, mas sim vender os livros.
Por isto, é crucial que o autor torne o seu trabalho visível, e a maneira mais barata e eficaz atualmente para isto é através da internet e das redes sociais.

Sabia mais sobre isto neste vídeo.

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Monday, October 26, 2015

O que é Indústria Cultural


Na década de 40, os filósofos Theodor Adorno e Max Horkheimer se reuniram para escrever a obra Dialética do Esclarecimento.
Em um dos ensaios, eles analisam a Indústria Cultural, como ela tem alterado a relação das pessoas com a Arte, e transformado tudo em produtos e todos nós em consumidores.

Neste vídeo, analiso alguns dos principais pontos para compreender esta crucial análise sobre a cultura de massas.

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Friday, October 23, 2015

Henry responde - Como e Por que Comecei a Escrever


Neste vídeo, contarei como e por que comecei a escrever, e também como consegui o sucesso de uma maneira bem inusitada.

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Wednesday, October 21, 2015

A Internet Matou a Minha Escrita


A internet representou transformações drásticas no modo como armazenamos e compartilhamos conhecimento, e também em nossos relacionamentos pessoais.

Mas como isto afetou negativamente a nossa escrita?

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Monday, October 19, 2015

O que acontece na Feira do Livro de Frankfurt?


A Feira do Livro de Frankfurt é a principal feira do mercado editorial.
Saiba o que acontece por lá.

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Sunday, October 18, 2015

Os livros que vendem mais, vendem mais porque vendem mais

(Livraria Ateneo, em Buenos Aires)

Escrever um livro não é um desafio.

Tire da cabeça que redigir uma obra de 200 páginas é um feito extraordinário, só possível de ser realizado por grandes gênios.
Eu lhe asseguro que escrever um livro do começo ao fim é muito mais simples do que parece, e os muitos milhares de novos títulos, publicados todos os anos por editoras comerciais ou em edições do autor, não me desmentem.

Escrever é fácil. Escrever bem é um pouco mais complicado. Agora, escrever extraordinariamente bem, aí sim estamos falando de uma habilidade para poucos afortunados.

O problema real da maioria dos autores nunca foi o estágio de escrita, tampouco a publicação. O grande mistério da escrita é como fazer com que a sua obra chegue ao leitor certo.

Existem leitores para todos os tipos de livro, nem que este leitor seja o próprio autor. Dentre os vários bilhões de indivíduos ao redor do globo, esteja certo que haverá pelo menos uma meia dúzia de pessoas que se interessariam em ler seus textos, inclusive, dispostas até a considerá-lo como o melhor escritor que já leram em suas vidas.
Entretanto, este leitor-ideal pode estar em algum vilarejo da Ucrânia ou da China, ou trabalhando numa plataforma de petróleo ou numa mina de carvão, sem nenhuma livraria próxima.
Estamos apartados de nossos leitores potenciais por barreiras linguísticas e geográficas e, sinceramente, é um milagre que alguém consiga chegar a uma livraria e deparar-se com uma obra que o encante, levando em consideração que o catálogo universal des livros é imenso, tanto de obras contemporâneas quanto de pretéritas.

O drama de fazer um livro chegar às mãos certas é o que deveria afligir os autores. Como encontrar meus leitores?

Princípio de Pareto e cauda longa

Por que alguns poucos livros, filmes, ou canções vendem tanto, e o restante vende pouco ou nada?

O primeiro fator que devemos considerar é uma questão de distribuição.

Segundo alguns cálculos estatísticos, somente 20% de toda a produção cultural se tornam sucessos, gerando 80% dos lucros (princípio de Pareto).

Podemos pensar que haja no mercado uma razão muito específica para isto: a escassez.
Nas livrarias físicas, nas salas de cinema ou nas lojas de música, o espaço é limitado. Uma livraria ou uma loja só pode estocar um número determinado de livros ou CDs, uma sala de cinema só pode projetar um número restrito de filmes por um período específico.
Simplesmente, não haveria espaço físico suficiente para uma livraria, por maior que seja, armazenar e comercializar todos os livros publicados no planeta.
Deste modo, é feita uma triagem, tanto pelas editoras quanto pelos livreiros, considerando o potencial (hipotético) de mercado das obras que comercializarão.
Não estaríamos equivocados ao dizermos que estes 20% de sucessos não representam 20% de todas as obras publicadas, mas tão somente dentre aquelas que estão sendo distribuídas.
Nestes cálculos, há um buraco-negro onde estão todas as demais obras que não tinham nenhum canal de distribuição e divulgação.

É neste ponto que entramos no conceito de cauda longa, popularizado num artigo de 2004 da revista Wired. Segundo este conceito, todas as obras poderiam ser comercializadas, em maior ou menor escala, desde que houvesse uma distribuição adequada.
A internet permitiu uma inversão neste jogo, quando se descobriu que, com uma distribuição possível para todas as obras culturais, a proporção é de que o restante de livros, que não são best-sellers, também poderiam gerar, coletivamente, grandes lucros, ao fornecerem produtos para nichos.

Esta é uma questão que o autor deveria se fazer antes mesmo de começar a escrever um livro: para quem estou escrevendo?

E, depois, na hora de vender sua obra, tentar encontrar, de alguma maneira, este seu público-alvo, que pode ser imenso, ou pode ser um nicho bastante específico.

Efeito-manada

A princípio de Pareto parte de uma observação empírica, nem sempre acurada, porém ainda assim válida, que poucos tendem a concentrar muito.
Mencionamos o caso que 20% dos best-sellers correspondem a 80% do faturamento, mas podemos estender esta lógica para outras áreas: 20% das pessoas mais ricas concentram 80% das riquezas mundiais(*); 20% dos consumidores são responsáveis por 80% das compras; 20% dos criminosos cometem 80% dos crimes, e assim por diante.

A mecânica por detrás de tal princípio é difícil de ser determinada, por outro lado, pelo menos no cômputo comportamental, poderíamos encontrar um respaldo no efeito-manada.
A regra geral é que uma conduta ou crença dissemina-se entre as pessoas com "a probabilidade de um indivíduo adotá-la aumentando com a proporção daqueles que já o fizeram", ou, simplificando, se os outros fizeram, então é bom, e devo fazer também.

Acredito que quase todos nós, em algum ou em vários momentos de nossas vidas, fizemos algo porque todos estavam fazendo, para nos inserirmos, supondo que a coletividade possui algum tipo de sabedoria.

Não estaríamos errando ao afirmarmos que os livros que vendem mais, vendem mais porque vendem mais. O efeito-manada não é um comportamento consciente, pois, neste caso, nosso senso crítico facilmente o subjugaria; ele brota de uma íntima conexão social entre a espécie humana, que ao longo de sua trajetória evolutiva dependeu da coletividade para sua sobrevivência.
Respaldamo-nos nas decisões coletivas porque, de um modo ou de outro, elas nos permitiram chegarmos onde estamos.

Mas como podemos acionar o efeito-manada a nosso favor?

Não existe uma resposta simples e infalível para esta questão. Certamente que, em nossos tempos, a publicidade tem uma importância preponderante na divulgação de criações literárias, passando também pelo respaldo da mídia.
Não se consome aquilo que não se conhece. E quem paga mais, divulga mais.
Todavia, tampouco podemos menosprezar a relevância do boca-a-boca, já que casos de sucessos espontâneos são cada vez mais comuns. Uma obra conquista determinado nicho e, gradativamente, atinje e consolida-se também em outros públicos.
Há um ponto-crítico, quando a bola de neve converte-se numa avalanche, e todos desejam saber do que se trata aquele livro, mesmo que seja para criticá-lo.

Além disto, não se engane: o sucesso de um livro não tem relação alguma com sua qualidade literária.
Já presenciamos muitos casos de obras simplórias que caíram nas graças do público, bem como de grandes autores, como Saramago, García Márquez ou Haruki Murakami, que também já frequentaram as listagens de mais vendidos.
A princípio, obras sofisticadas não estão em desvantagem, apesar de os responsáveis pelo sucesso de alguns títulos serem, geralmente, leitores ocasionais, compradores por impulso e jovens se iniciando na leitura, o que indicada a predileção por leituras mais leves e descompromissadas.
Outro dado fundamental é que grande parte do público leitor é composto por mulheres entre 18 e 35 anos, o que justifica certos sucessos recorrentes no gênero de romance romântico, ou, quando muito, com marcantes protagonistas femininas.

Contudo, conquistar os leitores não é uma ciência exata, cujos resultados possam ser planejados ou previstos.
Seth Godin, um dos gurus da publicação e marketing na internet, afirma que "o melhor momento para começar a promover seu livro é três anos antes de ele ser lançado. Três anos para construir uma reputação, construir um marketing de permissão, criar um blog, criar seguidores, criar credibilidade e criar conexões que você precisará depois".
Como nunca antes, a noção de "plataforma", isto é, de uma rede de leitores potenciais que comprará quase qualquer coisa que você lançar, é extremamente fundamental no mercado cultural.
Você poderá lançar incontáveis livros, mas se não houver alguém interessado em comprá-los, sua carreira estará fadada ao fracasso e ao esquecimento.

Escrever um livro não é um desafio. Vender livros é a verdadeira tarefa monumental diante de nós.

(*) Este era um dado de 2010, pois estima-se que até o final de 2016, 1% dos mais ricos concentrará 99% das riquezas mundiais.

Friday, October 16, 2015

Ferramentas para Escrita, Revisão e Tradução



Há alguns programas e sites que podem ajudar um escritor na hora de escrever e revisar seus livros; principalmente se você estiver se arriscando a escrever em inglês.

Confira algumas sugestões neste vídeo.

Você usa algum? Qual?

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Wednesday, October 14, 2015

Escrever é Reescrever - O Processo de Editar um Original



Costumo dizer que a parte mais fácil de escrever um livro é a escrita. Depois que a primeira versão ficou pronta, depois vêm meses ou até anos de reescrita e revisão.

Entenda um pouco mais sobre este processo neste vídeo.

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Monday, October 12, 2015

O que é poesia?


Uma das mais antigas formas literárias da História é também uma das mais negligenciadas atualmente.

Saiba o que é poesia e quais são suas principais características.

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Thursday, October 08, 2015

And the Nobel goes to...


Hoje foi o anúncio do Prêmio Nobel de Literatura 2015, e eu estava acompanhando ao vivo.
Saiba quem é o ganhador (ou ganhadora).

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Wednesday, October 07, 2015

QUEM GANHA O NOBEL DE LITERATURA DE 2015?



O Prêmio Nobel de Literatura é um dos importantes prêmios desta área e o ganhador será anunciado amanhã. Saiba quem são os principais candidatos.

Quem você acha que merece ganhar?

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Monday, October 05, 2015

Um dia na vida de um escritor



Viver de escrita é uma proeza para pouquíssimos. A maioria dos escritores se vê obrigada a realizar outras atividades, como tradução, revisão, lecionar, ou até mesmo em profissões que não têm relação alguma com a escrita para poder sustentar seu ofício literário.

Acompanhe um dia na vida de um escritor, e prepare-se para aventuras inenarráveis.

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Saturday, October 03, 2015

Qual é a diferença entre conto e microconto?



Uma das mais novas e perceptíveis tendências na literatura é o encurtamento das narrativas.
Mas qual é a diferença entre conto e microconto?

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Wednesday, September 30, 2015

Quem foi Edgar Allan Poe?



Um dos mais importantes escritores norte-americanos foi também um dos pioneiros em dois gêneros que se tornariam extremamente populares posteriormente.

Ele teve uma vida difícil, cheia de altos e baixos, e só se consagrou de fato após a morte.

Saiba mais sobre quem foi Edgar Allan Poe neste vídeo.

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Monday, September 28, 2015

O que é romance?



O romance surgiu na Idade Média, mas, com a ascensão da burguesia e, posteriormente, da cultura de massas, acabou se tornando a principal forma literária de nossos tempos.

Saiba neste vídeo o que é e quais são suas principais características.

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Friday, September 25, 2015

Henry responde: Onde estão as escritoras?



Durante muitos séculos, as mulheres foram invisíveis no mundo literário.

Mas por quê?

Historicamente, as mulheres acabaram sendo relegadas a um papel secundário na sociedade e na cultura, incluindo na literatura.

Neste vídeo, tentaremos entender as razões por detrás disto e quando esta realidade começou a mudar.

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Wednesday, September 23, 2015

Lido: ULISSES, de James Joyce



O livro Ulisses, de James Joyce, é possivelmente o mais importante romance do século XX, e também foi particularmente influente em minha história pessoal.

Você já leu?

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Monday, September 21, 2015

O que é conto?



O conto é uma das formas narrativas mais antigas da espécie humana. Mesmo assim, continua se renovando e surpreendendo.

Entenda mais sobre isto neste vídeo.

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Wednesday, September 16, 2015

Escreva seu Livro, tudo que você precisa saber sobre o mercado editorial



Sempre é bom saber onde você está se enfiando quando se arrisca em uma nova carreira, mas esta é uma lição que nós, escritores, parecemos não dar importância quando escrevemos nosso primeiro livro.

Depois de ter recebido minhas primeiras recusas das editoras, fui pesquisar e encontrei o site Escreva Seu Livro (www.escrevaseulivro.com.br) da Laura Bacellar, e este foi o primeiro instante rumo a me profissionalizar como um escritor.

Neste vídeo relato a minha experiência para tentar compreender o mercado editorial.

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Monday, September 14, 2015

O Vlog do Escritor: não é texto, é vídeo!



Há muitos meses que tenho ensaiado começar um vlog para falar de escrita, então hoje gravei e publiquei o primeiro vídeo para meu novo canal.

Se você já acompanha o meu trabalho aqui no Blog do Escritor, então provavelmente vai dedicar um pouco de seu tempo para assistir os vídeos do Vlog do Escritor, onde pretendo abordar alguns assuntos que sempre tive vontade de analisar aqui, mas que ainda não havia encontrado a oportunidade.

Assista, curta, deixe a sua dúvida e assine o canal!
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Tuesday, August 04, 2015

O Personagem


Henry Alfred Bugalho

O personagem aparece por entre brumas no fundo da memória. É uma mescla de muitas pessoas, algumas que conheci, outras que vi em algum filme ou em livro, ou de mesclas de mesclas de várias outras pessoas das quais já me esqueci.

Não tem rosto, raras vezes sei quais são suas feições. Não me importa, deixe que o leitor preencha esta lacuna.

Ele permanece em silêncio, enquanto eu o fito demoradamente. Pondero sobre ele naqueles instantes inquietos antes de adormecer, ou dentro do metrô quando nada nos resta a fazer senão meditar, ou caminhando pelas ruas ao meu destino.

Às vezes, ele surge diante de mim em momentos inusitados, ao dispersar-me da leitura de um trecho enfadonho de Soljenítsin ou Beckett, durante o banho ensaboando o corpo, ou durante os intervalos comerciais da novela. Mas eu permito tais intromissões com a mesma tolerância que recebemos a visita inesperada de um caro amigo. Deixo que ele apareça e sente-se ao meu lado. Aguardo que ele me diga a que veio, mas ele insiste no silêncio.

Ele não está pronto, uma criatura incompleta.

Concebo cenas, planejo enredos, tento prever como ele se comportará. O que ele fará nesta situação? Como agirá? Apaixonar-se-á pela mocinha? Derrotará seu inimigo?

Mas dele só recebo um sorriso tímido. Também não sabe a resposta. Tem tantas dúvidas quanto eu, vazio de vontade e motivação, um títere sem vida dependurado cabisbaixo em fios. Aguarda meus dedos para manipulá-lo, insuflá-lo de ânimo, pô-lo em movimento.

Então chega o dia que tão ansiosos aguardávamos. Sento-me ao computador e cuido demoradamente a página em branco.

A página em branco, a grande adversária do escritor.

Sardonicamente, ela me desafia, zomba de mim e do personagem.

— Jamais conseguirá! — ela brada e, vez ou outra, ela me convence.

Escrevo qualquer frase, qualquer uma, mesmo que tenha de alterá-la, apagá-la, mesmo que seja ridícula, vazia, um clichê. Pois uma frase qualquer basta para calar, para macular a inquietante brancura da página, para pôr em marcha tudo aquilo que fervilha dentro de mim, para libertar a avalancha que, se não despencar montanha abaixo, arrancando árvores e sorretando tudo, poderá se voltar contra mim, lançando dúvidas e angústias, recordando-me dos dias em que eu ainda não sabia o que pretendia fazer da vida, nem se as minhas palavras tinham algum valor, se mereciam ser lidas por alguém.

A decisão é tomada: luto contra o mundo ou contra mim mesmo; empreender esta guerra em duas frentes não é possível — este havia sido o equívoco e prepotência de Napoleão e Hitler, superestimar suas forças.

A decisão é tomada: deflagro o turbilhão e me liberto. Uma frase somente basta, e tudo o mais decorre por si.

E os dias e meses planejando, concebendo, refletindo são postos abaixo. Assim que o primeiro esforço é realizado, o personagem mostra suas garras e assume o controle. A criatura se volta contra o criador. A marionete não era uma marionete porcaria nenhuma; sua inação era fingimento, apenas um disfarce para me enganar, atrair-me para sua rede e capturar-me.

Daquele instante até o fim, o personagem, o pobre “títere”, ata-me em fios e controla meus movimentos, enreda-me com a própria trama que eu pretendia dominar.

Dizem que, quando Robert E. Howard criou o personagem Conan, o autor sentia que o bárbaro cimério ficava postado ao seu lado, machado em punho, obrigando-o a escrever, aterrorizando-o caso fracassasse.

Creio que todo escritor encontra-se, pelo menos uma vez, nesta posição de prostração. Quanto mais isto ocorrer, melhor é. Quanto menos do escritor encontrarmos nas palavras, mais o personagem se engrandece, mais autêntico se torna.

Os maus escritores escrevem pela glória pessoal. Os bons escritores escrevem para que o personagem se torne completo, cumpra sua missão e diga plenamente a sua mensagem. A tarefa do autor é desaparecer por detrás do personagem que se forma.

Mas esta submissão nem sempre é pacífica. Somos falhos, meros humanos, cheios de orgulho e ambições. Pouco nos agrada sermos pisoteados por nossa cria. Todos os dias, a sociedade, os governos, os patrões, os poderosos nos oprimem, arremessam-se à lama da insignificância e subserviência. Acreditamos que, naqueles breves instantes de criação literária, de elaboração artística, nós seremos os senhores, a suprema autoridade.

— Este é o meu mundo! Minha criação! — berramos, debatendo-nos cheios de brio. E é neste embate que terminamos por destruir o que tanto almejamos. Pondo rédeas em nossos personagens, quase sempre os conduzimos para o precipício.

É impossível criar e, ao mesmo tempo, ter controle absoluto. Criar é permitir que o imprevisível se manifeste.

Aos poucos, o personagem começa a se despedir. Se conviveu conosco por horas, dias ou anos, tanto faz, pois, concluída a obra, ele viverá para sempre. Enquanto existir um leitor no mundo, o personagem estará pronto para ressurgir e contar sua história.

Retornamos, enfim, ao vazio, ao mundo cotidiano, à louça suja para lavar na pia, ao filme mais tarde na TV, ao trânsito congestionado, ao filho que não pára de chorar.

O personagem retorna a seu repouso.

O escritor tem outras páginas em branco para enfrentar.

Friday, July 31, 2015

Como a obsolescência está salvando a minha escrita

Henry Alfred Bugalho

A internet é uma maldição disfarçada de benção; é o que estou concluindo neste exato instante.

Foi um percurso progressivo. Em 1994, quando comecei a usar a internet pela primeira vez no trabalho, ela devia ocupar uma fração insignificante do meu dia. Afinal de contas, nem havia tanto o que se ver on-line.
Depois vieram as salas de bate-papo e o ICQ, varando a madrugada conversando com desconhecidos de todo o lugar do mundo. Mas isto era feito apenas depois da meia-noite, pois, com a conexão discada, você só pagava um pulso telefônico, senão a conta de telefone pararia nas nuvens.

A socialização da internet também significou a ruptura com a vida real fora dela. Tudo hoje é mediado pela rede: o que fazemos, comemos, vestimos, onde estamos, para onde fomos, o que vamos fazer.
Nossas existências não valem de nada se não forem compartilhadas nas redes sociais. A vida real não existe mais paralelamente à rede; elas estão entrelaçadas de um modo indistinguível.

Além disto, e como parte deste processo, vivemos na era da obsolescência. Toda nova tecnologia lançada hoje, amanhã já está ultrapassada, obrigando-nos ao consumo desenfreado para nos manter atualizados.
É um ciclo interminável e sufocante. Comprar, comprar, comprar. Mas tornando-nos sempre irremediavalmente obsoletos.

Eu trabalho on-line, mas, nos intervalos (ou simultaneamente a) do que deve ser feito, há todo um desperdício de tempo com aquilo que nos distrai. As notificações do Facebook, os e-mails que chegam sem parar e a avalanche de spams, a porra do Whatsapp sempre apitando, os comentários no blog, as notícias nos jornais, os vídeos no Youtube, ou qualquer coisa mais entretida do que o trabalho que devemos realizar.

Quando anos atrás li uma entrevista com João Ubaldo Ribeiro, "A Internet é a Perdição do Escritor", na qual ele afirmava que mal conseguia escrever por causa da internet, pensei que fosse um fenômeno que só realmente afetaria aqueles pertencentes a outras gerações, que não cresceram neste ambiente digital, que não estavam psicologicamente preparados para este mundo de distrações.
Entretanto, logo comecei a ouvir mais e mais reclamações de autores da minha idade sobre o mesmo problema, até que, enfim, eu também me senti afetado.

Os últimos meses foram devastadores para a minha produção literária. Semanas sem conseguir escrever uma única linha de ficção. Um desânimo sem fim, alimentado pelas distrações on-line.
É evidente que não poderíamos pôr toda a culpa na internet. Desde que meu filho nasceu, a minha rotina mudou drasticamente e, em seguida, senti que a minha relação com a escrita havia se desgastado.
No fundo, a culpa era inteiramente minha, mas a internet servia de catalisador.


Ao ouvir falar da Freewrite (antigamente conhecida como Hemingwrite), uma máquina de escrever digital para os tempos modernos, sem acesso à internet e que permitiria que seus usuários se concentrassem somente na escrita, logo pensei: está aí exatamente o que eu preciso!
Mas a Freewrite é um artigo de luxo para a maioria de nós. Seu preço de lançamento ficará na faixa dos 400 dólares. Convenhamos que é um valor considerável para um dispositivo dedicado à escrita, esta profissão ingrata que geralmente mal serve para pagar as contas.
Então, semana passada fiquei sabendo do AlphaSmart, que nada mas é do que um teclado com um visorzinho, e que serve apenas para isto: escrever.
O fabricante deixou de produzir estes dispositivos há alguns anos, mas, em seu auge, o AlphaSmart também tinha um preço alto, de aproximadamente 200 dólares.
Era um produto voltado principalmente às escolas e, aparentemente, era bastante popular nos EUA e na Europa.
Hoje, pode-se encontrar no eBay vários modelos por preços bastante acessíveis, mas confesso que fiquei com um pouco de medo a princípio.
Valeria a pena pagar 35 libras em uma porcaria destas?
Faria alguma diferença de fato nos meus hábitos de escrita ou seria apenas mais um cacareco a ficar sendo jogado de um lado ao outro pela casa?
Resolvi me arriscar...

Em três dias, escrevi umas 10 mil palavras, o que é muito mais do que consegui produzir em meses.
Pode ser apenas a empolgação da novidade, mesmo sendo um dispositivo obsoleto, mas o fato é que é extremamente prático para escrever.
Primeiro, porque me liberta das distrações da internet; são momentos que estou totalmente concentrado no que estou fazendo, e não há outra opção senão escrever.
Mas então alguém poderia argumentar: mas basta desligar o computador ou o notebook da internet.
Talvez, mas com o AlphaSmart, eu posso simplesmente me sentar em qualquer lugar sem me preocupar se o meu filho não vai pular no meu colo e quebrar alguma coisa, pois foi uma aquisição barata e também parece ser bastante resistente; lembre-se que era para as escolas, e alunos não são criaturas muito cuidadosas.
Além disto, pelos comentários que li, as pilhas duram uma eternidade (alguns mencionaram até mais de um ano sem trocá-las), ou seja, não é preciso ficar se preocupando em recarregá-lo ou ligá-lo na tomada toda hora.
Já escrevi com ele na minha mesa de trabalho, no sofá, sentado no quintal e, neste momento, estou com ele na poltrona enquanto meu filho brinca ao meu lado.
E para passar o texto para o computador é a coisa mais simples deste mundo, basta conectar o cabo USB e assistir enquanto tudo aquilo que você vomitou inconsequentemente no teclado é redigitado no processador de texto.
Eu lhe asseguro que a qualidade do que você escreve cai bastante quando a produção diária aumenta deste modo vertiginoso.
Mas a escrita é um exercício. É preciso mergulhar fundo no lodaçal para conseguir chegar a algum lugar. Em meio a tantas palavras, certamente haverá alguma que mereça ser lida por alguém.
Este tipo de processo criativo é somente para a escrita. Depois vem a edição, que é quando você separará o que merece sair para o mundo.

Até quando continuará esta empolgação?
Não tenho como dizer, mas se o AlphaSmart me ajudar a acabar o romance que tenho escrito intermitentemente durante os últimos sete anos, já terá valido muito a pena.
Terá ressuscitado um pouco daquele ímpeto criativo que eu pensava estar morrendo, mas que, no fundo, só estava meio dormente. Terá salvado, mesmo que temporariamente, a minha escrita.

Referências

Entrevista com João Ubaldo Ribeiro
http://www.istoe.com.br/assuntos/entrevista/detalhe/147801_A+INTERNET+E+A+PERDICAO+DO+ESCRITOR+

Freewrite (máquina de escrever digital)
https://astrohaus.com/

Teclado sem @ (artigo de André Timm sobre sua transição para uma máquina de escrever [analógica])
https://medium.com/@andretimm/teclado-sem-75846f2107ad

Thursday, July 09, 2015

O que faz de alguém um escritor?

Henry Alfred Bugalho

Escritor é aquele que escreve, mas qualquer um que escreve é escritor?

Durante muito tempo, tive vergonha (ou pudor) de me reconhecer como escritor. Afinal de contas, eu ainda não havia publicado nada e nunca havia ganhado um centavo sequer com a escrita.
Só comecei a me sentir confortável com este título quando realmente passei a vender meus livros, ao perceber que não bastava escrever; que era preciso ser lido também.

Então, deste momento em diante, quase todas as vezes que me perguntavam o que eu fazia para viver e eu respondia que era escritor, recebia a réplica inevitável:

"Que legal! Eu também escrevo!"

Esta é a primeira lição que você deveria aprender ao se tornar um escritor: todo mundo também escreve.
Suspeito que haja outras profissões nas quais qualquer diletante também se arroga ter competência para tal: cantor, jogador de futebol, ator, comediante, músicos em geral.
Neste nosso mundo digital, em que qualquer amador pode, pelos canais não tradicionais disponíveis, acabar se profissionalizando - e este também foi o meu caso -, houve um nivelamento para baixo. Todos são iguais, porém mediocremente iguais.
Nos anos que tenho editado uma revista literária, tive a oportunidade de ler materiais extraordinários, de autores desconhecidos ou diletantes que escrevem muito melhor do que eu suponho escrever, mas também pude constatar que há muita gente que não tem noção do que é dedicar seu tempo e sua vida para a construção de uma carreira literária.
Escrever bem não basta, aliás, hoje acredito que nem é um pré-requisito.
Ser talentoso não basta.
Acreditar em seu potencial não basta.
Ter apoio de amigos e parentes não basta.
Publicar não basta.
E a lista de tudo que não basta é infinda.
O que distingue um escritor daqueles que simplesmente escrevem é uma obstinação que não pode ser mensurada; um fogo interno que o alimenta mesmo quando há quase nenhuma esperança.
Um escritor tem um compromisso com a escrita que vai além da publicação, da fama, do dinheiro que provavelmente nunca virá e da aclamação da crítica.
O que importa é o que está traçado nas páginas escritas.

Tento me pôr no lugar daqueles grandes que jamais obtiveram reconhecimento literário em vida, como Kafka, Fernando Pessoa ou Edgar Allan Poe.
O que os movia? O que lhes insuflava ânimo para um novo dia de labor criativo? Reconheciam-se eles como escritores, ou digladiavam-se contra a incerteza que ocasionalmente assola a todos nós?
Escrever é mais do que simplesmente escrever, e também é mais do que autoproclamar-se escritor.

Mas o que é, enfim?

Talvez seja uma certeza fugidia que se encontra em cada linha deitada ao papel.
Uma irremediável sensação de ser um embuste.
O medo de jamais conseguir expressar o que deve ser expressado.
É um ser e um não-ser.
Fracassar, fracassar, fracassar e fracassar novamente.
E apesar de todos os seus erros e deslizes e incertezas, constatar que não poderia ter sido diferente. Era o que e como tinha de ter sido.
Escrever sim. Escrever sempre. Escrever porque.

Imagem: https://emocaoeeuforia.files.wordpress.com/2012/10/portrait-of-fernando-pessoa-1954-2.jpg

Friday, July 03, 2015

O pecado de não escrever sobre o Brasil

Henry Alfred Bugalho

É difícil avaliar o estrago que a frase "Se queres ser universal, começa por pintar tua aldeia" de Tolstói causou no imaginário coletivo da literatura.

Se fôssemos interpretar esta recomendação de um modo que não literal, suporíamos que tem a ver com a noção de Mark Twain: "Write what you know" (Escreva sobre o que você conhece).

Embora elas pareçam estar muito próximas, - afinal de contas, o que você conhece melhor do que sua própria aldeia? E que maneira melhor para falar sobre todas as pessoas do que falando das pessoas que você conhece, posto que, essencialmente, somos todos iguais? - há uma extrapolação desnecessária de uma para a outra.

Poderíamos citar uma variedade de casos de autores que seguiram à risca esta recomendação de Tolstói.
Grande parte das obras de James Joyce (Dublin), Dalton Trevisan (Curitiba), Charles Dickens (Londres), Érico Veríssimo (Rio Grande do Sul), Charles Bukowski (Los Angeles), Patrick Modiano (Paris), Jorge Amado (Bahia), entre vários outros, revolvem ao redor de suas aldeias, mesmo que estas aldeias sejam metrópoles com milhões de habitantes ou vastas regiões geográficas que eles conhecem bem.
Estes exemplos passam-nos o retrato incorreto de que este é o único modo de se aprofundar no espírito de um local ou população. Fugir disto seria uma deslealdade.
Um indivíduo pode conhecer tudo sobre a Grécia Antiga, seus mitos, histórias e personagens, sem jamais ter posto os pés na Grécia atual, sem jamais ter saído de sua aldeia, aliás, conhecendo-a melhor do que a sua própria cidade-natal. Não há absolutamente garantia alguma que conhecemos melhor nossa aldeia de modo que possamos falar com propriedade sobre ela e, assim, atingirmos algum nível de universalidade.

Recentemente ouvi que os editores brasileiros descartam imediatamente qualquer original que tenha personagens com nomes estrangeiros ou ambientados em outros países.
Eles devem ter suas razões para isto, pois não me parece sensato nem profissional abandonar um livro somente por este motivo, mas isto certamente revela também uma concepção enraizada no mercado brasileiro de que autor brasileiro bom tem de falar sobre o Brasil, ou pelo menos com personagens brasileiros, mesmo que seja em um ambiente estrangeiro (em Budapeste, de Chico Buarque, ou em Vidas Provisórias, de Edney Silvestre).
Logo me vem à mente Shakespeare. Suas biografias não informam se alguma vez ele viajou para fora
da Inglaterra, mas isto jamais o impediu de escrever, de maneira extremamente competente e universal, sobre a Dinamarca (Hamlet) ou a Itália (Verona, em Romeu e Julieta, Veneza, em Otelo, e Roma Antiga, em Júlio César e em Antônio e Cleópatra), isto para citarmos apenas algumas de suas peças.
Outro mestre que jamais teve qualquer receio de escrever em ambientes internacionais foi Jorge Luis Borges, sobre a Irlanda, Babilônia, China, Grécia, França, Inglaterra, Alemanha, Oriente Médio, entre vários cenários exóticos, mitológicos ou imaginários, com personagens das mais distintas nacionalidades, com elementos de uma vasta gama de culturas. Isto não foi um obstáculo para que ele escrevesse extensivamente também sobre Buenos Aires ou a Argentina, ou de ser considerado como um dos maiores expoentes da literatura de seu país.
O monumental romance 2666, considerada a obra-prima do chileno Roberto Bolaño, é uma verdadeira salada de personagens e ambientações internacionais, embora haja um personagem chileno perdido no enredo.
Mesmo entre os ganhadores do prêmio Nobel encontramos exemplos de narrativas que extrapolam os limites de suas aldeias: tanto o alemão Hermann Hesse (Sidarta) quanto o britânico Kipling (Kim e Livro da Selva) se inspiraram na Índia, o português Saramago (Evangelho Segundo Jesus e Caim) na mitologia bíblica, o peruano Vargas Llosa (Guerra do Fim do Mundo) escreveu um romance inspirado na Guerra de Canudos, e o sul-africano J. M. Coetzee (O Mestre de Petersburgo) um romance tendo como protagonista Dostoievski e ambientado na Rússia.
Isto porque nem estamos mencionando histórias que se passam em universos completamente fantásticos e imaginários, como a Terra-Média, Nárnia, Westeros, em outros planetas ou dimensões, em algum lugar indefinido no passado ou no futuro.
Além disto, algumas tramas de Kafka (Metamorfose e O Processo) ou de Beckett (Esperando Godot ou em sua trilogia de romances) não possuem qualquer tipo de ambientação específica, podendo ser transpostas para praticamente qualquer país ou cidade.

É evidente que, ao tentar se escrever sobre um país estrangeiro, corre-se o grande risco de recorrer a estereótipos étnicos e nacionais, mas o que é mais estereotipado do que a quadra clássica da literatura nacional de selva, sertão, praia e favela?
E o que é mais tedioso do que a tendência autorreferencial atual entre os escritores brasileiros, escrevendo sobre escritores de classe média escrevendo um livro, pois o que conhecemos melhor do que a nós mesmos e aquilo que nos circunda?

Parece-me que o que é bom para os outros, não serve para nós, fadados a escrever irremediavelmente sobre nossas próprias aldeias.
Para um brasileiro, não há futuro além das fronteiras.
Nossa nacionalidade é também a nossa prisão criativa.
Pintar algo que não seja nossa aldeia é inconcebível, com a maior punição possível: o descarte. Não merece sequer ser avaliado.

fonte da imagem: http://footage.framepool.com/shotimg/qf/474462139-earth-orbit-earth-planet-sfere-form-black-color.jpg

Monday, March 30, 2015

Colega escritor, sinto lhe dar estas más notícias


Advertência: este texto brotou das profundezas do desespero e da descrença.


Assim como você, eu também pensava que um dia daria certo. Que se eu tentasse pra valer, que, em algum momento, as coisas tinham de dar certo.

Mas há um grande problema nisto tudo. Somos escritores brasileiros. Não temos direito a ter este tipo de expectativas, pois as coisas não funcionam assim por aí.

Nunca tive muitas ilusões, nunca pensei que seria fácil. Ou melhor, talvez tenha me iludido por um ano, mas depois você logo aprende a baixar suas expectativas, e fazer o que precisa ser feito.
Já escrevi de tudo que você pode imaginar: contos, poemas, crônicas, romances, críticas de cinema, críticas literárias, hiperficção, dicas de viagem, dicas de fotografia, dicas de escrita, reflexões, memórias, microcontos e fragmentos diversos.
Se um dia eu resolvesse contar quantas palavras já escrevi (o que não vou fazer), certamente já passaram de 1 milhão. Não tenho problema algum para me sentar e escrever sobre o que for. Não tenho bloqueio criativo, não me faltam ideias, não me faltam projetos.

Mandei originais para editoras. Foram recusados.
Mandei outros originais para editoras. Foram recusados também.
Foi quando entrei de cara na publicação independente. Primeiro, distribuí de graça e meus livros foram baixados por alguns milhares de leitores.
Não sei se leram. Provavelmente não.

Depois, comecei a vender meus livros. Quase ninguém compra. Devo vender uma centena de romances ao ano, quando muito. É melhor do que nada.

Por outro lado, já vendi dezenas de milhares de guias de viagem. Pensei que, um dia, isto me abriria as portas para as editoras.
Mas também descobri que pouco importa se você vendeu 100 livros ou se vendeu 15 mil.
Na verdade, ainda não sei o que realmente importa.

A última estratégia foi tentar encontrar um agente literário para representar meu trabalho. Encontrei dois. Um no Brasil e outro no exterior.
Pensei: agora vai!
Mas ainda não foi, nem sei se irá.
Até onde eu saiba, dentre as mais de 30 editoras brasileiras que receberam o original, apenas uma demonstrou interesse, mas sem contrato (ainda?).
No exterior, o buraco é mais embaixo.
A pergunta que a minha agente mais recebe é: "O livro é ótimo. Gostaríamos de publicá-lo, mas por que ele ainda não foi publicado no Brasil?"
Não sei o que ela responde, mas certamente o fato de um autor brasileiro que ainda não foi publicado no Brasil é um deal breaker. Deve ter alguma coisa de errado.
Certamente eles não devem entender muito como as coisas funcionam por aí.

Não sei se pretendo escrever mais em português. Acabando os projetos nos quais estou trabalhando, depois só escreverei em inglês.
Começar do zero tudo de novo. Tudo de novo. Do zero. Do nada. Do zero.
Entretanto, a diferença é brutal. O mercado em inglês é muito diferente; é ele que cria as tendências, não é colonizado, não é amador, não é limitado.
Nada garante que esta nova tática funcionará. Nada garante nada.
Mas vou tentar. É o que resta. Tentar em uma língua que não é minha, em países que não são o meu, para um público que não me conhece. Sinto que é o que me resta.

Colega escritor, sinto lhe dar estas más notícias.
Você não será publicado.
No entanto, na remota possibilidade de ser, você não venderá livros.
No entanto, na remota possibilidade de vender, você não ganhará dinheiro com isto.
No entanto, na remota possibilidade de ganhar, seus livros serão pirateados e tudo deverá começar do começo.
Como eu sei isto?
Porque passei por tudo isto, mas também porque é o ciclo natural desta carreira. Já conheci uns mil escritores nestes anos. Não estou brincando nem exagerando. Só eu já publiquei uns 500 na revista que edito.
Dentre todos, conheço uns 4 que conseguiram ser publicados.
Apenas 1 vende alguma coisa, mas para um nicho, e mesmo assim ele não consegue fazer a transição para o mercado que o interessa.
Nenhum deles é famoso ou rico.

E sobre a pirataria?
Até o ano passado, eu ainda conseguia viver com a venda dos meus guias de viagem. Cinco anos escrevendo em tempo integral. Um sonho tornado realidade! Não mais.
Foram pirateados e agora de estou de volta aos freelas.
Tudo o arrasta para baixo. Todos o sabotam. Todos desejam o seu fim.
Esta é a sina da escrita nesta terra má e seca.
Tudo definha. Tudo morre de inanição.

Se você quer o meu conselho, eu lhe digo: a única solução é a publicação independente. Será o único instante em que você sentirá a satisfação de ser um escritor de verdade.
Terá de arregaçar as mangas e fazer tudo por conta própria. E que se fodam as editoras, as seções literárias nos jornais, os holofotes, as listagens de mais vendidos, a imortalidade literária.
Serão você, seu talento, seus livros embaixo do braço e seus poucos e fiéis leitores.
E isto será bom e legal.

Agora, só em inglês. Quem sabe, um dia traduzam meus textos para o português. Ou não. Ou tanto faz.
Good luck and see you around!

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