Monday, April 30, 2007

Escrevendo Ficção com The Gotham Writers' Workshop (Lição 5) - parte 1

(voltar para a parte 4)

Plano da Lição
Lição 5: Como Revelar Contando

Visão Geral

Nesta lição, você compreenderá como revelar os personagens "contando" -- o que o narrador conta e o que os personagens contam.

Tempo Estimado

Levará algo em torno de 2 horas para completar esta lição.

Objetivos

Após completar esta lição, você:

- compreenderá o conceito de revelar gradualmente os personagens.
- compreenderá como narrador conta sobre os personagens.
- compreenderá as várias maneiras como personagens contam sobre personagens.

Atividade

Durante esta lição, você completará a seguinte atividade:

Atividade de Pesquisa: O que as pessoas contam sobre si mesmas

Dissertação e Debate

Lição 5: Como Revelar Contando

Então, até agora você criou um ou mais personagens ficcionais. Talvez você os tenha baseado diretamente em pessoas que você conheça bem, ou não tão bem. Talvez você tenha combinado as características duma variedade de parentes, amigos, conhecidos e desconhecidos. Talvez você até tenha montado perfis.

Em outras palavras, você fez sua lição-de-casa. E agora? Como relevar esta informação cuidadosamente observada, compilada e registrada aos seus leitores? Como fazer seus personagens se tornarem seres viventes, respirando, nas páginas?

Revelar Gradualmente

Bem, você pode simplesmente mostrar aos leitores sua lição-de-casa. Assim que o personagem aparecer, você põe as cartas da mesa, revelando aos leitores tudo que você sabe sobre o personagem. Este método seria, certamente, eficiente, para não dizer fácil.

Porém, ele não resultaria em boa ficção. Imagine se Fitzgerald houvesse seguido este fácil caminho. Você se lembra da cena na qual Nick conhece Gatsby numa das suas suntuosas festas? Bem, suponhamos que, neste momento, Fitzgerald houvesse apenas nos dado um perfil semelhante ao que vimos na última lição. Você com certeza estaria se questionando o porquê de este livro ser considerado um clássico.

Na vida real, nós não descobrimos tudo sobre alguém assim que o conhecemos. Nós temos a primeira impressão, e só. Leva tempo para conhecer uma pessoa. Do mesmo modo, leva algum tempo para conhecer os personagens, especialmente os redondos. É também mais divertido se os leitores tiverem de juntar as peças por conta própria, ao invés de receberem o quebra-cabeça todo montado.

O modo como Gatsby é gradualmente revelado ao leitor -- partindo duma tênue silhueta até uma pessoa totalmente acabada -- é um dos maiores encantos da história. Este tem sido um tema recorrente em nossa análise de "O Grande Gatsby" e, na verdade, o personagem de Jay Gatsby é uma obra-prima de relevação gradual.

Pense no narrador em "Catedral" de Raymond Carver. Nós recebemos alguma informação sobre ele no começo da história, mas nós não o conhecemos profundamente até que a história acabe. É claro que há coisas que nunca saberemos sobre ele, o mesmo vale para Gatsby. Mas refletir sobre este homem, então compreendê-lo aos poucos -- talvez ser surpreendido pelo que ele faz -- isto é parte do fascínio desta história.

Via de regra, você vai querer fornecer aos poucos o material que você preparou sobre seu personagem redondo, de certo modo imitanto o modo como pessoas nos são reveladas na vida real.

Narradores Contam

Mas como você fornece aos poucos esta informação? É aqui que as coisas começam a ficar interessentes pra valer. Como escritor, você pode revelar seus personagens através de dois modos fundamentais:

- Contando

- Mostrando.

Vamos nos concentrar em "contando" agora, e em "mostrando" na próxima lição.

Contar é uma maneira perfeitamente legítima para revelar personagens. Você está, em última instância, contando uma história. Contar sobre um personagem pode ser feito pelo autor/narrador, ou por um personagem. Isto pode ser feito através de descrição narrativa ou diálogo.

Em "Catedral", o rapaz que vive na casa serve como narrador, contando a história em Primeira Pessoa. (O interessante é que ele nunca nos diz seu nome e, também interessante, ele se refere a Robert apenas como "o homem cego". O que isto indica sobre o narrador?) O narrador está freqüentemente contando sobre outros personagens. Aqui ele está nos contando sobre Robert:

"Este homem cego estava na casa dos cinqüenta anos, constituição pesada, careca, ombros caídos, como se carregasse um grande peso. Ele vestia calças marrons, sapatos marrons, camisa marrom-claro, gravata, um casaco esporte. Ajeitado. Ele também tinha uma espessa barba."

Aqui, ele está contando sobre sua esposa:

"Ela está sempre tentando escrever um poema. Escrevia um poema ou dois por ano, geralmente após algo importante ter acontecido a ela."

Perceba que Carver não está dramatizando esta informação, como um dramaturgo ou roteirista faria -- talvez fazendo com que Robert dissesse, "Eu acabei de completar quarenta e sete anos", ou mostrando a esposa intencionalmente trabalhando num poema. Carver (através do narrador) apenas nos diz o que precisamos saber.

Podemos presumir que todas estas informações são precisas. Não há razão alguma para que o narrador minta sobre a idade ou vestimenta de Robert, ou sobre os hábitos poéticos da esposa. Geralmente, o narrador da história está dando ao leitor informação fidedigna. Porém, precaução. Nem sempre este é o caso. Especialmente se o narrador for também um personagem na história, como no caso de "Catedral".

(continua...)

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Friday, April 27, 2007

Escrevendo Ficção com The Gotham Writers' Workshop (Lição 4) - parte 2

(continuação...)

Lição 4: Usando Perfis para Conhecer seus Personagens - parte 2

Fazendo uma Lista de Perfis

Como você pode imaginar, conceber personagens planos é bastante fácil. Basta oferecer aos leitores a informação necessária e esperada, e está feito! Um garçom anota os pedidos, traz a comida, deixa a conta -- ponto final. Um avô é sábio e bondoso. Um investidor jovem é igualmente ambicioso e viril. Quer dizer, se você souber que o papel do seu personagem será pequeno, você não precisa se esforçar muito em fazer o perfil dele.

Mas quando se trata de personagens redondos, às vezes ajuda criar perfis elaborados para eles. Alguns escritores fazem uma lista, à qual eles preenchem com várias características dos personagens. Aqui está uma lista que talvez seja útil para você.

Características Físicas

Gênero:
Idade:
Etnia:
Altura:
Tipo corporal:
Cor dos cabelos:
Cor dos olhos:
Características faciais:
Vigor físico:

Características Sociais

Local de nascimento:
Pais:
Família:
Infância:
Trabalho:
Renda:
Religião:
Inclinação Política:

Características de Personalidade

Hábitos:
Melhores Qualidades:
Piores Defeitos:
Comidas Favoritas:
Destinos de férias favoritos:
Esportes favoritos:
Filmes/Programas de TV favoritos:
O que o faz feliz?
O que o deixa triste?
O que o enfurece?
O que ele mais ama?
O que ele mais odeia?
Do que ele mais se orgulha?
Do que ele mais se envergonha?
Qual é seu segredo mais negro?

(O que se segue no curso é a realização do perfil do personagem de Fitzgerald, Jay Gatsby; no entanto, não vi razão para traduzir esta seção)

E sobre a Mulher Misteriosa?

Retornemos à nossa Mulher Misteriosa, aquela do ponto de ônibus. Se você a estiver usando como personagem numa história, você pode terminar revelando uma infinidade de informações sobre ela até o fim da história até que ela se torne, bem... um livro aberto. Ou você pode seguir por outro caminho, mantendo-a misteriosa durante toda a história.

Nos dois casos, você apenas se beneficiará ao conhecê-la o melhor que puder. Mesmo que você não revele muito sobre ela no decorrer da história, você estará mais apto para escrever melhor, mais completamente, mais convincentemente, se você, o escritor, souber quem ela é.

Suponhamos que você tenha de dar um nome a ela? Que tal -- Maria Rialto. Ah, a personagem foi batizada. E você já começa a vê-la com mais detalhes. Imagine, então, quão melhor você a conhecerá se puder responder algumas ou todas as questões da lista de perfil acima.

Construir um perfil é, na verdade, um método seguro para conhecer seus personagens.

Debate

Após ler a dissertação, tente responder algumas ou todas as questões seguintes:

1. Esta técnica de fazer perfis parece ser útil para você?

2. Ou você prefere criar os personagens enquanto escreve?

3. Quais características da lista de perfil você acha ser mais esclarecedora? Você consegue pensar em alguma característica importante que não tenha sido incluída na lista?

Atividade de Escrita

Lição 4: Usando Perfis para Conhecer seus Personagens

Visão Geral

Após completar esta atividade, você terá criado um perfil detalhado dum personagem ficcional, baseado numa pessoa completamente desconhecida.

Tempo Estimado

Levará mais ou menos uma hora para completar esta atividade.

Fazendo o Perfil dum desconhecido

Vamos dar uma chance para a técnica do perfil. Muito escritores acham esta ferramenta muito útil para conhecer seus personagens.

1. Saia de casa e encontre um completo desconhecio que pareça ser, de algum modo, interessante. Você pode conversar com ele, se quiser. Ou pode simplesmente observar a pessoa por algum (ou muito) tempo.

2. Dê a esta pessoa um nome ficcional e pense nela como base para um personagem ficcional.

3. Preencha a lista de perfil deste personagem, semelhante à lista citada na dissertação.

A informação que você colocar no perfil deve ser, ao menos parcialmente, inventada. Não hesite em criar quase tudo. O desconhecido será apenas o ponto de partida para seu personagem ficcional.

Debate

Após completar esta atividade, responda a algumas ou a todas as questões seguintes:

1. Conte para a gente sobre o desconhecido que você utilizou como personagem.

2. Você achou fácil ou difícil preencher o perfil desta pessoa? Por quê?

3. O personagem que você criou se daria bem numa história ficcional?

(Ir para Lição 5)

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Tuesday, April 24, 2007

Escrevendo Ficção com The Gotham Writers' Workshop (Lição 4) - parte 1

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Plano da Lição

Lição 4: Usando Perfis para Conhecer seus Personagens

Visão Geral

Nesta lição, você compreenderá como encorpar seus personagens utilizando um perfil - - uma lista detalhada de características do personagem.

Tempo Estimado

Levará mais ou menos 2 horas e 30 minutos para completar esta lição.

Objetivos

Após completar esta lição, você:

- compreenderá os tipos básicos de características de personagens -- física, social e pessoal.
- compreenderá a diferença entre personagem plano e redondo.
- compreenderá como compilar perfis detalhados dos personagens.
- terá construído um perfil detalhado dum personagem.

Atividade

Durante esta lição, você completará a seguinte atividade:

- Atividade de Escrita: Fazendo o perfil dum Estranho

Dissertação e Debate

Lição 4: Usando Perfis para Conhecer seus Personagens

Se você for criar grandes personagens para suas histórias, você precisará conhecer bastante sobre eles. Talvez não tão profundamente, como debatemos na lição anterior, mas você terá que conhecer um bocado sobre eles. Na verdade, personagens são como icebergs. Apenas algumas pontas dos personagens são visíveis para o leitores, mas a parte sob a superfície é que dá peso e estabilidade a cada personagem.

Conhecer personagens é parte da etapa de criação, e muito deste trabalho é feito antes da escrita de fato da história. Tenha em mente, porém, que alguns escritores preferem simplesmente começar escrevendo e ver para onde os personagens os levam. Isto também é legal.

Muitos escritores experientes fazem, freqüentemente, a "lição-de-casa" deles intuitivamente, enquanto escrevem suas histórias. Em ambos os casos, em algum momento, o escritor precisa conhecer bem seus personagens.

Aspectos dos Personagens

Um método altamente eficiente para conhecer seus personagens é construir perfis de personagens. Você faz isto simplesmente pensando e, talvez, escrevendo, todo tipo de informação sobre seus personagens. Por exemplo:

Físico

Quais são as características físicas do seu personagem? Logicamente, isto ajuda os leitores a visualizarem aquela pessoa com a qual passarão seu tempo. Você não pode julgar um livro, mas o físico pode afetar como uma pessoa é. As loiras têm mais graça? Não necessariamente. Mas, se alguém tingir o cabelo dum loiro Marilyn Monroe, isto revela algo sobre ela -- sobre quem ela é e sobre quem ela quer ser. A deformidade afeta, inegavelmente, a personalidade do Concurda de Vitor Hugo.

Social

E sobre as influências sociais? Mesmo se você não for um freudinano linha-dura, você provavelmente concordará que a formação duma pessoa ocorre, principalmente, durante a infância. Se seus pais era ambos alcoólatras, isto deve ter tido algum efeito sobre você. Se você cresceu pobre no Nordeste, você será diferente do que se houvesse crescido rico no Morumby. Religião influencia profundamente a visão de alguém em relação à vida. Se um personagem é casado ou não, se tem filhos ou não: tudo ajuda para formar quem este indivíduo é.

Personalidade

A personalidade é, basicamente, uma função das duas categorias anteriores. (Por outro lado, gêmeos nascem, às vezes, com personalidades diametralmente diferentes; a natureza sobrepuja a criação.) Personalidade é onde a verdadeira ação acontece, e ela que afetará a maioria das coisas que o personagem fizer na história.

Em breve, nós segmentaremos estas categorias ainda mais. Mas se você for um dos que está pensando: "Meu Deus, eu vou ter que fazer tudo isto para cada um dos personagens?" -- então, faremos um pequeno desvio.

Personagens Planos versus Personagens Redondos

O fato é: você não precisa dedicar a mesma quantidade de tempo para fazer o perfil de cada personagem em suas histórias.

Pense em "O Grande Gatsby". Alguns personagens (Nick Carraway) aparecem página após página no romance, enquanto outros (Meyer Wofshiem) menos freqüentemente, e alguns quase não aparecem e são rapidamente esquecidos pelo leitor (o homem que dá indicações a Nick para chegar em West Egg). Uma história que desse atenção igual a cada um de seus personagens seria muito longa, ou muito superficial, ou extremamente chata.

Dito isto, há duas categorias básicas de personagens, numa história bem contada:

Personagens Planos

Personagens planos não são muito diferentes duma mobília, e não devem ser. Eles fazem exatamente aquilo que se espera deles (no caso mencionado acima, dar indicações a Nick para chegar em sua casa) e nada mais. Nas palavras do grande escritor inglês E. M. Forster (em seu livro "Aspectos do Romance"), eles são "planos" -- unidimensionais.

Então, não procure no homem que dá direções para West Egg, ou para muitos dos convivas nas festas de Gatsby, por riqueza ou complexidade de personalidade. Fitzgerald manteve estes personagens planos de propósito, sabendo que, se de outro modo fosse, eles diminuiriam a importância dos personagens principais. A maioria dos personagens secundários devem ser planos.

Personagens Redondos

Personagens redondos são, como a maioria das pessoas reais, complexos. Eles possuem mais de uma dimensão. Geralmente, isto resulta em contradições internas nestes personagens. Caso você ainda não tenha notado, as pessoas se contradizem quase todo o tempo. Na verdade, de acordo com E. M. Forster, um personagem é redondo se ele ou ela puder fazer algo surpreendente, a qual você aceita e acredita porque o personagem é dimensional. Uma boa orientação para quando for criar personagens.

Você vai querer que os personagens principais em sua história sejam redondos, dimensionais, contraditórios e completamente humano.

(continua...)

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Thursday, April 19, 2007

Escrevendo Ficção com The Gotham Writers' Workshop (Lição 3) - parte 2

(continuação...)

Lição 3: O método composto para criação de personagens - parte 2

Pedaços de Pessoas

Talvez o modo mais eficiente para se fazer a transição entre pessoas reais e personagens ficcionais é compô-los. Este modo realiza duas coisas: 1) força você a ficcionalizar, e 2) permite você moldar pessoas que se encaixem nas necessidades específicas da sua história.

Ao utilizar o método de composição, você cria personagens que são, na verdade, a mistura de várias pessoas diferentes que você conhece ou que ouviu falar. Você junta as partes de várias pessoas, duma maneira bastante parecida com a qual Dr. Frankenstein criou seu famoso monstro.

Por exemplo, você pode criar um personagem que possui a personalidade do seu melhor amigo, mas com a aparência de seu primo. Ele pode falar como seu chefe, possuir o cheiro do seu pai e comer como aquele nojento que você viu no jantar, na noite passada. Repare que tudo isto foi inspirado em pessoas reais do mundo ao seu redor; isto não mudou. Mas o modo como estamos utilizando a matéria-prima é mais envolvente, mais ativa e mais criativa -- e, em última instância, servirá melhor para a história.

Já falamos como a situação de Jay Gatsby mantém algumas semelhanças com a do jovem F. Scott Fitzgerald. Gatsby é um homem sem status que se apaixona por uma moça sulina socialmente proeminente, e direciona toda sua energia para se transformar em alguém que ele pensa ser merecedor do amor dela.

Mas esta não é toda a história sobre a criação de Jay Gatsby.

Pesquisadores descobriram que um homem chamado Max von Gerlach enviou um bilhete, uma vez, a Fitzgerald na qual aparecia a expressão "velho camarada" (old sport). Este von Gerlach tinha uma porção de identidades conflitantes; ele era reputado como sendo um barão, um contrabandista de bebidas e um negociador de carros em Flushing, Queens -- o local do "Vale de Cinzas" em "O Grande Gatsby". Parece familiar? Muitos acreditam que Fitzgerald conheceu von Gerlach em Great Neck, em Long Island, durante a década de 20. (acredita-se que Great Neck e Manhasset Neck correspondem a West e East Eggs, no romance).

Em outras palavras, Fitzgerald combinou uma situação autobiográfica com algumas características de um homem peculiar, aos qual ele não deveria conhecer tão bem assim. Ele provavelmente também deve ter adicionado detalhes obtidos de outras pessoas que ele conhecia ou observou. O resultado: um personagem brilhante.

Ou pense em Daisy. Dissemos, anteriormente, que ela foi provavelmente inspirada em Zelda, a esposa de Fitzgerald. Entretando, há algumas coisas de Daisy que não valem para Zelda. Apesar de ser socialmente proeminente, a família de Zelda não era, na verdade, rica. Daisy era muito, mas muito rica mesmo -- tão rica que mesmo sua voz era "cheia de dinheiro". A Sra. Fitzgerald veio do Alabama, não do Kentucky. Ela também não traiu o marido com um cara como Gatsby ou atropelou a amante do marido com seu carro. Tais detalhes vieram, provavelmente, do comportamento de outras pessoas, testemunhado pelo escritor.

Ou pense na Mulher Misteriosa. Talvez você tenha apanhado um pedaço de alguém com a qual você trabalha -- o fato de ela ler um livro diferente a cada dia. Mas outros pedaços dela vieram de outros lugares. Talvez seu irmão seja extremamente tímido, então, você empresta esta característica dele. Talvez sua colega de faculdade seja do interior, então você empresta esta informação dela. Brincando de Dr. Frankenstein e compondo, você criou uma extraordinária personagem ficcional, disposta a ir onde sua imaginação quiser que ela vá. Quem sabe o que ela fará?

Uma última observação, reflita sobre isto: o primeiro romance de Fitzgerald, "Este Lado do Paraíso", mantém-se muito próximo dos fatos da vida de Fitzgerald, muito mais do que "O Grande Gatsby". Apesar de ter sido um grande sucesso quando foi lançado, "Este Lado do Paraíso" não é nem de longe tão bom quanto "O Grande Gatsby". E os personagens também não são tão marcantes quanto Gatsby, Daisy, Nick e o restante daquele maravilhoso elenco ficcional.

O método de composição funcionou bem com Fitzgerald, e também pode funcionar com você.

Debate

Após ler a dissertação, tente responder uma ou todas estas questões:

1. Você consegue pensar em outros problemas em colocar um personagem numa história sem ficcionalizar a pessoa que lhe deu origem?

2. Este conceito de composição parece ser interessante para você? Parece ser intrigante?

3. Você está mais interessado em criar personagens que são semelhantes ou diferentes de você?

Atividade de Escrita

Lição 3: O Método Composto de Criação de Personagens

Visão Geral

Após completar esta atividade, você terá criado um personagem utilizando o método composto.

Tempo Estimado

Você levará algo em torno de 30 minutos para completar esta atividade.

Instruções

Tente criar um personagem usando método composto.

1. Crie um personagem inspirado em 3 pessoas diferentes. Se esta instrução for vaga demais, inspire seu personagens em seu pai ou mãe. Mas use um "pedaço" da personalidade deles. Então, use um "pedaço" de alguém daquela lista compilada na Lição 2.

2. Dê um nome ao personagem ficcional e escreva uma breve descrição dele. Sua descrição pode variar dum parágrafo até várias páginas. Se você achar mais fácil imaginar seu personagem agindo -- fazendo algo -- sinta-se livre para fazê-lo.

Debate

Após completar esta atividade, responda a uma ou todas as questões seguintes:

1. Foi estranho criar uma "pessoa", compondo-a assim?

2. Você acha que você criou um personagem mais interessante usando o método composto?

3. Você conseguiu encontrar um nome apropriado para o personagem?

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Tuesday, April 17, 2007

Escrevendo Ficção com The Gotham Writers' Workshop (Lição 3) - parte 1

(voltar para a Lição 2)

Plano da Lição
Lição 3: O método composto para criação de personagens

Visão Geral
Nesta lição, você aprenderá como criar personagens ficcionais através de composição -- combinando características de várias pessoas reais.

Tempo Estimado

Levará umas 2 horas para completar esta lição.

Objetivos

Após completar estas lição, você:

- compreenderá os riscos de se usar pessoas reais tais como elas são, numa obra ficcional.

- aprenderá como você construir, com sucesso, personagens compostos.

Atividade

Durante esta lição, você completará a seguinte atividade:

- Atividade de escrita: criando um personagem composto

Dissertação e Debate

Lição 3: O Método composto para criação de personagens

Na última lição, falamos sobre como basear seus personagens ficcionais em pessoas reais, aquelas que estão no mundo ao seu redor. Agora, nosso enredo está prestes a ficar intrincado. Este processo está prestes a se tornar mais complexo.

Você verá que, geralmente, não basta apenas catar uma pessoa real e jogá-la nas páginas de sua história. Mesmo se um personagem for inspirado numa pessoa de fato, ele ainda precisa se tornar um personagem ficcional -- algo bastante diferente de um ser humano verdadeiro. Personagens são realistas, mas ainda assim eles não são reais.

Conseqüentemente, ao escrever ficção, você deve criar personagens. Para a maioria dos escritores, a maior parte deste ato de criação ocorre antes que a escrita da história comece de fato. Isto pode soar um pouco como lição de casa... Bem, mas é! Porém, geralmente, o resultado vale o esforço.

Os Riscos de Fotocopiar Pessoas

Primeiro, vejamos algumas razões por que personagens devem ser ficcionalizados. (Sua lição de casa será mais prazerosa se você entender o propósito e a necessidade dela).

Falando bem a verdade, há inúmeros riscos de se fotocopiar pessoas, isto é, lançando pessoas reais numa história sem ficcionalizá-las. Um deles, você pode perder alguns amigos. Mas esta não é a única razão.

Pessoas reais vivem vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, e tanta coisa se passa em suas vidas e dentro de suas cabeças que é literalmente impossível capturar tudo no papel, dum modo que seja verdadeiramente realista. Simplesmente, há muito material. Personagens ficcionais exigem muito mais foco do que pessoas da vida real. Senão, os leitores, isto para não mencionar o próprio escritor, se perderão.

Além disto, é difícil -- na verdade, impossível -- acessar o íntimo de alguém além do seu próprio. A despeito de quão bem você conheça alguém, você nunca terá certeza absoluta sobre o que ele ou ela está pensando, sentindo, almejando e temendo. E estas são coisas que você, o escritor, desejará saber sobre a maioria de seus personagens.

Reflita sobre Jay Gatsby. Ele é um mistério total para nós, a princípio, e para nosso narrador, Nick. Gradativamente, começamos a descobrir o que está por detrás do aparentemente impenetrável exterior. No capítulo 6, nos é desvelada a verdade sobre a humilde proveniência centro-ocidental de James Gatz -- uma verdade que é bem diferente da verdade que o próprio Gatsby revela. Em certo sentido, Gatsby é duas pessoas. No final deste capítulo, temos um vislumbre da apresentação, que muda a vida dele, entre Gatsby e Daisy, revelada no rapsódico trecho, que começa com "Numa noite de outono...". Descobriremos ainda mais sobre Gatsby nos capítulos subseqüentes. Se você for inspirar seus personagens em pessoas reais da sua vida, você terá de conhecê-las tão bem quanto Fitzgerald conhecia Gatsby. Muitos de nós não conhecem as pessoas bem deste modo.

Mas se você estiver pensando, nesta altura, "Eu conheço alguém muito melhor do que Fitzgerald conhecia Gatsby. Eu me conheço. Eu inspirarei um personagem, vários deles, em mim mesmo. Isto será fácil!"

Ah é? Você acha que se conhece tão bem? Hum, talvez. Mas pense um pouco sobre isto. Seu conhecimento sobre si mesmo é subjetivo, isto é, você se conhece apenas interiormente, não pode se ver a si mesmo desde fora. Você não possui objetividade sobre quem você é e sobre o que você faz. Escrever ficção totalmente autobiográfica é um empreendimento muito imprevisível. Isto é algo que vemos, de tempos em tempos, nas aulas de ficção na Gotham Writer's Workshop. Personagens inspirados no próprio autor são, comumente, sempre os mais planos, os menos distintos e os menos convincentes.

Paradoxicalmente, é também possível conhecer algumas pessoas bem demais. Ao escrevermos sobre nós mesmos, nossos parentes ou melhores amigos, possuímos a tendência de pressupor boa parte das informações. Você sabe que seu pai levou você, seu irmão e sua irmão, de Anaheim a Orlando várias vezes, quando vocês eram crianças, porque ele era obcecado pelo Mickey Mouse. Talvez você saiba disto tão entranhadamente que se esquece do contar aos leitores.

Por fim, um personagem inspirado num indivíduo próximo do escritor dificilmente o surpreenderá, tampouco agradará o leitor. Uma das melhores coisas, durante a escrita de uma história, é quando os personagens levam o escritor a direções inesperadas. Eles se mantém fiéis aos fatos, ao invés de simplesmente seguirem os mandatos ou as orientações da história.

Você se lembra da Mulher Misteriosa da última dissertação -- aquela que aparece no seu ponto de ônibus com um livro diferente em mãos todo dia? E se ela fosse, ao invés duma estranha, uma colega de trabalho ou amiga casual? Então, você saberia porque ela está com um livro diferente todo dia. Você saberia que ela está fazendo um curso de leitura dinâmica e, assim, ela pode devorar um romance de 350 em pouco mais de uma hora.

Se você se apegar demais a quem a pessoa é de verdade, dificilmente você teria inventado o aprazível cenário que criamos, no qual a mulher de fora da cidade finge ler um livro diferente a cada dia, na esperança de conhecer um estranho. Não lhe ocorreria que a razão fosse algo diferente do que leitura dinâmica. Ao ficcionalizar a pessoa, você abre um leque de possibilidades interessantes para escolher.

Complicado, não é? Nada disso. Aqui, há uma solução simples para todos os problemas discutidos acima.

(continua...)

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Sunday, April 15, 2007

Escrevendo Ficção com The Gotham Writers' Workshop (Lição 2) - parte 2

(continuação...)

Lição 2: É quem você conhece - parte 2

Você também conhece pessoas

Se este foi um método bom o suficiente para o grande Fitzgerald, então também é bom para você. Olhe para o mundo ao seu redor à procura por personagens, ou por personagens potenciais, porque é lá que eles estão, à sua volta. Inúmeras pessoas. Todo santo dia.

Considere as seguintes opções:

- Pessoas que você conhece bem

- Pessoas que você não conhece bem

- Pessoas que você viu apenas uma vez

- Pessoas que você gostaria de conhecer

- Pessoas que você nunca conheceu

- Pessoas que você viu à distância

- Pessoas que você viu na TV

- Pessoas sobre as quais você leu

As possibilidades são inesgotáveis.

Com certeza, você já conheceu alguém intrigante numa festa. Provavelmente, esta pessoa não devia chamar você de "old sport" (velho camarada), como Gatsby chama Nick, mas talvez tal pessoa tenha usado outra expressão de afeto ou invertido a ordem das palavras numa frase de modo que pudesse inspirar um personagem.

Talvez você já tenha se sentado num restaurante cheio e percebido um sujeito "sombrio" realizando negócios, num canto afastado. Você pode não descobrir que esta pessoa esteja dando um jeito nos resultados do Campeonato de Beisebol, como fazia Meyer Wolfsheim, mas deve haver algo naquela pessoa que possa ser útil para um personagem.

Porém, se você não tem saído muito de casa ultimamente, bem... olhe-se no espelho.

Como Fitzgerald fez, tome notas de si mesmo, e do amor da sua vida. Olhe para sua família e amigos, e para os amigos deles, e mesmo para a mulher que você vê todo dia no ponto de ônibus.

Cada um deles é interessante, marcante, pelo menos em um único ponto, provavelmente em muitos. Cada um é potencialmente uma fonte de inspiração para um personagem.

Como usar pessoas em Ficção

Funciona mais ou menos assim. Vejamos a mulher que você encontra todo dia no ponto de ônibus. Todo dia, ela está lendo um livro diferente. Isto surpreende você. Será que ela acaba de lê-los todos, em pausas furtivas durante o trabalho, devorando páginas, ao invés da sopa ou salada do almoço, então, lendo à noite, até que ela atinja, enfim, a última página? Ou talvez ela apenas comece a ler os livros, perdendo o interesse antes que o dia acabe.

Talvez, ela nem leia os livros de fato, apenas os segure abertos diante dela, esperando que algum estranho puxe conversa sobre "Carrie, a estranha" ou sobre a "Letra Escarlate". Ela é incrivelmente tímida, não conhece ninguém na cidade, acabou de chegar do interior. Ela trabalha numa livraria, e lá, eles permitem que os funcionários emprestem livros, para que assim se tornem vendedores que conhecem o que vendem.

Um dia, um elegante homem mais velho a interroga sobre o livro que ela está segurando: "Os Nus e os Mortos" de Norman Mailer. Como os personagens do livro, ele diz a ela, ele serviu no Oceano Pacífico, durante a Segunda Guerra Mundial, porém, não era como Mailer descreveu. Gaguejando, no começo, ela lhe diz que, apesar de gostar, ela não costuma ler muito.

Este já parece ser o começo para uma boa história, não parece? Você não ficou curioso sobre esta mulher? Na última lição, aprendemos que personagens são a fonte da ficção, aqui, estamos comprovando isto. Uma pequena observação duma pessoa real, mesclada com um pouco de imaginação, deu origem ao que poderia ser uma maravilhosa história.

E isto tudo começou com alguém que faz parte da sua vida.

Debate

Após ler a dissertação, tente responder uma ou todas as questões seguintes:

1 - Você olhar para estranhos e imagina qual poderia ser a "história" deles?

2 - Você consegue imaginar alguma outra razão para que a mulher do ponto de ônibus leia um livro diferente todo dia?

3 - É importante que os personagens sejam cativantes?

Atividade de Descoberta

Lição 2: É quem você conhece

Visão geral

Após completar esta atividade, você terá compilado uma vasta lista de pessoas que você conhece, das quais você pode extrair personagens ficcionais.

Tempo Estimado

Levará uns 30 minutos para completar esta atividade.

Pessoas que você conhece

Desde que você nasceu, você conheceu e viu incontáveis pessoas, das quais você pode extrair personagens. Mesmo se você escrevesse milhares de histórias, ainda assim elas não se esgotariam. Por que não escrever, então, sobre alguma destas pessoas? Assim, você possuirá uma lista donde extrair personagens, sempre que precisar. Tente este exercício:

- Faça uma lista com todo mundo que você já conheceu. Inclua pessoas que você conheça bem, e aquelas que você só avistou, à distância. Ponha os nomes. Pare após haver preenchido duas páginas, listando os nomes em colunas. Se você não souber o nome destas pessoas, escreva algo como "a menininha que vive na outra quadra". Todo mundo nesta lista é uma inspiração possível para um personagem.

- Pegue uma das pessoas desta lista e escreva um breve trecho sobre como esta pessoa lhe impressionou.

Debate

Após realizar esta atividade, responda a uma ou todas as questões seguintes:

1 - Divida conosco o trecho que você escreveu sobre a pessoa que lhe impressionou.

2 - Você se lembrou de alguém em quem não pensava há muito tempo?

3 - A pessoa que você escolheu daria um personagem interessante? Por quê?

(Ir para Lição 3)

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Saturday, April 14, 2007

Escrevendo Ficção com The Gotham Writers' Workshop (Lição 2) - Parte 1

(voltar para Lição 1)

Plano da Lição

Lição 2: É quem você conhece

Visão geral

Nesta lição, você compreenderá como personagens ficcionais derivam de pessoas reais, de carne e osso -- e como você pode transformar pessoas reais em personagens ficcionais.

Tempo Estimado

Levará umas 2 horas para completar esta lição.

Objetivos

Após haver completado esta lição, você:

- compreenderá como personagens derivam de pessoas da vida real.

- compreenderá como autores famosos se basearam seus personagens em pessoas da vida real.

- compreenderá como utilizar pessoas que você conhece como base para personagens ficcionais.

- terá compilado uma vasta lista de pessoas que você conhece que podem servir como personagens ficcionais.


Atividade

Durante esta lição, você completará a seguinte atividade:

- Atividade de descoberta: Pessoas que você conhece

Dissertação e Debate

Lição 2: É quem você conhece

Se você seguir o exemplo de nove em dez escritores, você começará a escrever suas obras ficcionais elaborando personagens. Mesmo se você for o inusitado décimo deles, e preferir começar por outra coisa -- enredo, cenário, tema, etc. -- você precisará de personagens, em algum momento. Sempre há personagens em ficção. (Ou você consegue pensar em alguma exceção?)

Então, a próxima questão lógica deveria ser: de onde vêm os personagens ficcionais? Mais exatamente: de onde seus personagens ficcionais virão?

Personagens vêm de pessoas

Esta é fácil. Personagens virão, na sua ficção, de pessoas da sua vida.

Mas, você se pergunta, e quanto todos aqueles grandes personagens da literatura, que os grandes autores simplesmente inventaram -- feitos do nada? Personagens que simplesmente se materializaram na página desde o vácuo, como se fossem convocados pelo estalar de dedos de David Copperfield? E sobre estes personagens? Tais personagens não existem na vida real.

Pense um pouco sobre isto. Mesmo se um personagem ficcional não seja inspirado diretamente e concientemente num único indivíduo conhecido do autor, o personagem agirá, interagirá e reagirá, provavelmente, como outras pessoas. Se de outro modo fosse, nós não acreditaríamos nele ou nela, portanto, não acreditaríamos na história.

Em outras palavras, não importa quão diferente, quão original, quão único um autor queira que seu personagem seja, mesmo assim, este personagem deve se comportar de maneira reconhecidamente humana. E o único modo como um escritor atinge isto é, em algum âmbito, se inspirando em pessoas que o escritor tenha observado na vida real.

Então, não fique pensando que o sucesso dos grandes autores é uma questão de poderes criativos que você não possui. Jane Austen, as Irmãs Brönte, Dickens, Vitor Hugo, Henry James, Edith Wharton, Raymond Carver e Toni Morrison, todos eles trabalharam com a mesma matéria-prima.

A matéria-prima é a raça humana. Independente de serem extraordinários, se Heathcliff e o Corcunda (de Notre Dame) não fossem, essencialmente, inspirados em pessoas, mesmo que de longe, parecidas com as que conhecemos, nós não nos interessaríamos o bastante por eles para continuarmos lendo. Mesmo os cidadãos quadrúpedes de A Revolução dos Bichos são inspirados em pessoas identificáveis. Na verdade, os porcos no livro de George Orwell são caricaturas de figuras históricas bem específicas: Stalin, Trotsky, entre outros envolvidos na Revolução Russa.

A Origem dos Personagens em O Grande Gatsby

E sobre F. Scott Fitzgerald? Ele também busca os personagens de O Grande Gatsby em pessoas da vida real? A resposta é um energético "SIM".

Nick Carraway é inspirado no próprio Fitzgerald, um rapaz do centro-oeste que vem para a costa Leste, para freqüentar a liga universitária, e é arrebatado pela excitação e glamour da Era do Jazz. Porém, Fitzgerald não vende títulos, nem retona ao Centro-Oeste, como Nick faz no final do romance. Entretanto, suas reações ao que testemunha são muito semelhantes às do autor. Como suas anotações sugerem, Fitzgerald respondia aos excessos dos anos 20 de um jeito parecido com o de Nick: desaprovação, mesclada com a admiração e apreensão de um rapaz interiorano numa grande cidade. (O prefácio do livro revela algumas informações interessantes sobre Fitzgerald.)

Daisy Buchanan parece haver sido inspirada, parcialmente, em Zelda, esposa de Fitzgerald. Nascida Zelda Sayre, ela era a bela filha de um proeminente juiz da Suprema Corte do Estado, em Montgomery, Alabama. Fitzgerald a conheceu quando ele era um soldado, dezoito anos de idade, aquartelado nas proximidades, durante do fim da Primeira Grande Guerra. Por ele não ser rico nem socialmente bem-relacionado, Zelda se recusou a casar com Fitzgerald. Somente após a venda do primeiro romance dele, Este Lado do Paraíso, que ela concordou em se casar.

Se você leu o capítulo 5, você deve estar percebendo algo interessante aqui. Não houve um rompimento amoroso entre Gatsby e Daisy? Por que Gatsby está tão desesperado, tentando impressionar Daisy com sua coleção de camisas? Sim, parece que Jay Gatsby também foi inspirado, em algum nível, em Fitzgerald. Pense sobre isto: um homem sem dinheiro ou conexões sociais conhece uma bela senhorita sulina, aquartelado nas proximidades durante tempo de guerra. Posto que ela não quer se casar com ele, ele mergulha no mundo e se transforma num sucesso em sua área (Este Lado do Paraíso foi um grande bestseller), antes de retornar para conquistar o amor da mulher que, um dia, o desprezou.

Obviamente, os personagens deste romance foram inspirados por algumas pessoas muito próximas do lar de Fitzgerald, ou, mais exatamente, em seu lar.

(continua...)

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Friday, April 13, 2007

Escrevendo Ficção com The Gotham Writers' Workshop (Lição 1) - parte 3

(continuação...)

Lição 1: A Verdade sobre Ficção - parte 3

Personagens são a fonte

Contudo, o propósito deste curso não é devanear filosoficamente sobre ficção. Estamos aqui porque queremos aprender a escrever esta joça, não é? Então, mãos à obra.

Diz-se que há três elementos aos quais devemos prestar atenção acima de tudo. Aqui estão eles:

- Personagem.
- Personagem.
- Personagem.

Esta é a verdade: ficção é sobre pessoas. Se você puder escrever sobre pessoas interessantes, há grande chance de você poder escrever ficção interessante. É (quase) simples assim.

Não apenas são os personagens o aspecto mais marcante numa ficção, mas tudo numa história -- enredo, ponto de vista, cenário, descrição, voz, etc. -- emana das pessoas. Você pode dizer que os personagens são a fonte da ficção, a coisa da qual tudo mais surge.

Se você perguntar a dez ficcionais como começar a escrever uma história, nove deles lhe responderão, "Eu começo com um personagem." Não está escrito em pedra que você deva fazer assim. Mas, inegavelmente, é uma grande maneira -- talvez a melhor -- para se começar.

Discussão

Após a leitura, tente responder alguma ou todas as questões seguintes (sinta-se livre para postar suas respostas aqui no blog):

1. Por que eu gosto de ler ficção?

2. Você concorda que os personagens são, geralmente, o aspecto mais marcante duma obra de ficção?

3. Por que você quer escrever ficção? Você já escreveu ficção anteriormente ou isto é algo novo para você?

Atividade de Reflexão Pessoal


Lição 1: A verdade sobre Ficção

Apresentação

Nesta atividade, você identificará quais personagens ficcionais são mais marcantes para você e refletir quais são os ingredientes para se fazer um personagem ficcional.

Tempo Estimado

Levará algo em torno de 20 minutos para completar esta atividade.

Refletindo sobre Personagens Marcantes

Dica de Escrita: Muitos escritores acham útil manter um diário ou caderno para concentrar sua escrita. Você pode querer armazenar o resultado dos exercícios deste curso num caderno ou num arquivo no computador.

Vamos testar nossa teoria de que personagens ficcionais são o aspecto mais marcante da ficção.

1. Pense em três ou quatro de suas obras de ficção favoritas.

2. Para cada uma, diga o personagem que você acha ser mais marcante.

3. Escreva alguns aspectos que fazem deste personagem marcante.

Discussão

Após completar a atividade, responda algumas ou todas as perguntas seguintes:

1 . Quais histórias você escolheu, quais personagens, e o que você gosta neles?

2. Você acha que aquele personagem é a razão principal pela qual aquela obra lhe agrada tanto?

3. Você poderia pegar aquele personagem e escrever uma outra história com ele?


(ir para Lição 2)

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Thursday, April 12, 2007

Escrevendo Ficção com The Gotham Writers' Workshop (Lição 1) - parte 2

(continuação...)
Traduzido por: Henry Alfred Bugalho

Lição 1: A Verdade sobre Ficção - parte 2

Nós nos importamos com os Personagens

Personagens são, literalmente, o elemento humano no interior das histórias -- a parte que vive, respira, ri e chora. Não existe uma história que não possua, pelo menos, um personagem, mesmo que este seja um cavalo, como no conto de Bruce Jay Freedman, "Post-Time", ou computador HAL, de 2001: Uma Odisséia no Espaço de Arthur C. Clarke.

Quando nos apaixonamos por uma história, na maioria das vezes, amamos os personagens, não detalhes do enredo, diálogos brilhantes ou o estilo original do autor. O que nos lembramos das histórias são os personagens, e são por eles que voltamos a ler. Nós nos comovemos com a condição fundamental deles, porque ela é também a nossa. Eles são pessoas, e nós somos pessoas. Nós nos relacionamos.

Talvez a melhor razão para lermos ficção seja conhecer personagens. Ao lermos sobre pessoas em ficção, nós vislumbramos a natureza humana. Estranhamente, ficção pode nos ofertar tais vislumbres com maior propriedade do que a vida cotidiana.

Por exemplo, o comportamento de sua colega de trabalho pode não fazer sentido para você, pois você não sabe, exatamente, como ela cresceu, muito menos o que ela está pensando em determinado momento. Todavia, é possível compreender um personagem complexo, como Sethe, na obra Beloved de Toni Morrison, exatamente porque nos é dado acesso ao passado dela e à sua vida interior. Este vislumbre pode, por outro lado, ajudar-nos a compreender e nos comover com nossos próximos, humanos de carne-e-osso, melhor. Até mesmo àquela intrigante colega de trabalho.

Você já leu o romance O Apanhador no Campo de Centeio de J. D. Salinger? Você se lembra dele? (É claro que sim. É um dos mais idolatrados livros de todos os tempos.) Tudo bem, agora, do que você se lembra do romance? Você pode resumir o enredo? Provavelmente não. Você consegue descrever Holden Caulfield? Sim! Talvez, você se lembre de seu chapéu vermelho de caça (ele o usa virado para trás) ou como ele chama tudo de "enrolação" (phony). Você se lembra como ele se relaciona com a irmã pequena, Phoebe, e o intenso sentimento de solidão de Holden, expressado por sua identificação com os patos do Central Park? Muitos leitores sentem como se houvessem conhecido, de fato, Holden Caulfield, um dia. Talvez você também tenha sentido isto.

Mesmo que você tenha lido O Morro dos Ventos Uivantes duas ou três vezes, pode ser que você tenha se perdido em tudo que acontece, especialmente na complicada segunda parte. Mas você nunca, nunca se esquecerá do ardente amor entre Catherine e Heathcliff.

Já mencionamos Dickens antes. Ao lado do dramaturgo Shakespeare, ele é, provavelmente, responsável pelo maior número de personagens marcantes em língua inglesa. Pense em Sra. Havisham de Grandes Esperanças, assombrada pelo malfadado dia do casamento. Ou Madame Dafarge, notoriamente tricotando enquanto a Revolução Francesa nascia, em Uma História de Duas Cidades.

Esta atração pelos personagens é o motivo pelo qual escritores bem-sucedidos de romances policiais trazem novamente o protagonista várias vezes. Esquecemo-nos rapidamente do enredo intrincado de qualquer romance de mistérios, mas nós nos lembramos de Sam Spade, Kinsey Millhone e Easy Rawlins -- e queremos passar mais tempo na companhia deles.

O Grande Gatsby de F. Scott Fitzgerald agrada de várias maneiras, mas, para a maioria dos leitores, o aspecto mais marcante e divertido deste grande romance são os personagens. Nos primeiros três capítulos, há um desfile de personagens que você pode gostar ou não, mas aos quais dificilmente você se esquecerá tão cedo.

Há Jay Gatsby, um dos mais inesquecíveis personagens em toda literatura. Se você conseguiu chegar no capítulo 3, há grande chance de que este homem tenha gravado um forte impressão em você, mesmo que você tenha tido acesso a poucos vislumbres dele. Ao continuar lendo o romance, perceba quão dimensional e fascinantes este personagem se torna, capítulo após capítulo. Ele é simpático, mas de algum modo trapaceiro. Ele é ricamente descrito, mas nunca completamente conhecível. Ele é muito humano, e muito maior que a vida. Podemos encontra Gatsby no mundo ao nosso redor. Ele é uma lenda americana -- o self-made man. Hoje, é difícil não pensar em Gatsby quando se ouve sobre celebridades como Ralph Lauren, Martha Stewart ou Bill Gates.

Quando você terminar de ler o livro, mesmo então, Gatsby não será esquecido. Ele se debruça sobre a memória, de pé no gramado, abrindo os braços em direção à luz verde no fim do cais, sonhando sobre as infinitas possibilidades do futuro.

(continua...)

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Escrevendo Ficção com The Gotham Writers' Workshop (Lição 1)

(Começo agora a tradução deste excelente curso, ofertado online em 2006. Composto de 8 lições)
Traduzido por: Henry Alfred Bugalho

Plano da Lição
Lição 1: A Verdade sobre Ficção


Apresentação:

Nesta lição, você compreenderá como os personagens são, geralmente, o aspecto mais marcante duma obra de ficção e, por isto, aprender e dominar a criação de personagens ficcionais é vital para qualquer escritor de ficção.

Tempo Estimado:

Aproximadamente, 1 hora e 40 minutos para completar esta lição.

Objetivos:

Após haver concluído esta lição, você poderá:

- compreender o que impele as pessoas a lerem ficção.
- compreender que personagens são, geralmente, o aspecto mais marcante duma obra ficcional.
- compreender que personagens são a fonte de tudo que se desenvolve numa obra ficcional.

Atividade:

Durante esta lição, você completará a seguinte atividade:

- Atividade de Reflexão Pessoal: Avaliando Personagens Marcantes
Dissertação
e Debate
Lição 1: A verdade sobre Ficção

Introdução


No curso de escrita de Ficção no Gotham Writer's Workshop, não é necessário, na primeira aula, perder muito tempo definindo o que é ficção. A resposta é bastante óbvia: ficção são histórias inventadas, narradas em forma de prosa. Ficção é composta de romances, novelas e contos. Assim, ficção foi definida. Fácil demais.

Mas é útil para escritores de ficção compreender
o por quê de as pessoas lerem ficção. Se você possuir algum entendimento sobre o assunto, terá, então, idéia de como safisfazer seus leitores quando chegar o momento de conceber sua própria ficção. Mergulhemos, assim, nesta questão, e vejamos quais pérolas de conhecimento nós encontraremos.

Razões para ler

Por que, então, lemos
ficção? De fato, a resposta para isto não será tão simples. Na verdade, há, provavelmente, tantas razões quanto há leitores. Porém, nós poderemos indicar algumas razões predominantes.

Muitos de nós lemos para sermos transportados para diferentes épocas e lugares, para a Londres do século XIX de Charles Dickens ou para a Terra Média de J. R. R. Tolkien. Por acaso você já foi literalmente "transportado" por um livro, a ponto de se esquecer onde você estava, perdendo a parada do ônibus ou deixando a comida queimar no forno
?

Outros lêem para se aperfeiçoarem, para expandirem seus conhecimentos do mundo e como ele funciona. Se você quiser entender como era a vida no front, durante a Primeira Grande Guerra, você pode ler "Adeus às Armas" de Ernest Hemmingway. Se você tiver curiosidade sobre a extinta indústria baleeira na Nova Inglaterra, você pode navegar através do Moby Dick de Herman Melville.

Algumas histórias oferecem, é claro, divertimento escapista. Pense em O Parque dos Dinossauros de Michael Crichton, com seus dinossauros fazendo a terra tremer, ou as aventuras de tribunal de John Grisham. Apesar destas histórias parecerem ser um fenômeno contemporâneo, literatura escapista existe há muito tempo. No século dezenove, A Ilha do Tesouro de Robert Louis Stevenson era uma popular trama escapista. Você já ouviu falar de A Odisséia
? Homero oferece um penentrante vislumbre da natureza humana neste poema épico, mas também nos dá aventuras, arrepios e reviravoltas proverbiais.

As melhores histórias nos oferecem algo a mais, independente das razões pelas quais as lemos. Este algo a mais é intensidade. "Que fascinante!", nós pensamos, concordando com nossas cabeças, maravilhados, enquanto viramos páginas após páginas. Ou: "Nossa! Isto é tão estimulante." Ficção pode nos fazer rir, chorar, conferir se a porta está trancada -- apesar do fato de que é "fazer de conta", e de nós sabermos disto.

É por isto que não conseguimos largar os livros que amamos. Não queremos abandoná-los por causa de seus mundos intensos, em contraposição com nossa vida diária monótona -- dirigir para o trabalho, pagar as contas ou encerar o carro.

A vida real pode ser, certamente, muito intensa (às vezes, intensa até demais), mas mesmo assim, ela costuma não ter organização, foco. Ela é ilógica, deixando dezenas, talvez centenas, de pontas soltas, através dos anos. A vida é bagunçada. Uma história bem contada, porém, tem um começo, um meio e fim definidos. Este foco faz da experiência da leitura duma história muito mais intensa.

Ainda assim, é bastante plausível escrever um história que possua todas as características acima e ainda fracassar como narrativa. Você já deve ter lido uma história assim, ou, pelo menos, começou, não agüentou, fechou e colocou-a de novo na prateleira ou a devolveu na Biblioteca. Todas as partes da história pareciam estar no lugar. Mas, mesmo assim, você, o leitor, não se importou. E sobre a ficção que nos importa
?

A resposta é simples: personagens.

(continua...)

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