Tuesday, August 19, 2014

22 regras da Pixar para uma narrativa fenomenal



Por Emma Coats (ex-funcionária da Pixar)
Trad.: Henry Alfred Bugalho

1: Você admira um personagem mais por suas tentativas do que por seus sucessos.

2: Você precisa ter em mente o que é interessante para você como público, não o que é divertido fazer como escritor. Podem ser coisas bastante diferentes.

3: Investir num tema é importante, mas você não verá sobre o que sua história realmente é até o final dela. Agora reescreva.

4: Era uma vez ___. Todos os dias , ___. Um dia ___. Por causa disto, ___. Por causa disto, ___. Até que finalmente ___.

5: Simplifique. Mantenha o foco. Combine personagens. Salte por sobre desvios. Você sentirá que está perdendo material valioso, mas isto o libertará.

6: No que o seu personagem é bom, com que se sente confortável? Jogue contra ele o extremo oposto. Desafie-os. Como eles lidam com isto?

7: Faça o final antes de conceber o começo. É sério. Os finais são difíceis, adiante o seu.

8: Conclua a sua história, deixe-a partir mesmo se não estiver perfeita. Num mundo ideal, você consegue os dois, mas siga adiante. Faça melhor da próxima vez.

9: Quando você estiver encalhado, faça uma lista do que NÃO DEVERIA acontecer em seguida. Muitas vezes, o material para desencalhá-lo vai aparecer.

10: Separe as histórias que você gosta. O que você gosta nelas é uma parte de si; você tem de reconhecer isto antes de poder usá-las.

11: Pô-la no papel permite-lhe começar a arrumá-la. Se ela ficar em sua cabeça, uma ideia perfeita, você nunca a compartilhará com ninguém.

12: Desconte a primeira coisa que lhe vier à mente. E a segunda, terceira, quarta, quinta – tire o óbvio do caminho. Surpreenda-se.

13: Dê opiniões a seus personagens. Passivo/maleável pode parecer agradável enquanto você escreve, mas é um veneno para o público.

14: Por que você precisa contar ESTA história? Qual é a crença queimando dentro de você da qual sua história se alimenta? Esta é a alma dela.

15: Se você fosse um personagem, nesta situação, como você se sentiria? Honestidade dá credibilidade para situações inacreditáveis.

16: Quais são os riscos?  Dê razão para torcermos pelo personagem. O que acontece se eles não forem bem-sucedidos? Ponha as probabilidades contra eles.

17: Nenhum trabalho é desperdiçado. Se não estiver dando certo, desista e siga adiante - ele voltará e será útil um dia.

18: Você tem de conhecer a si próprio: a diferença entre fazer o seu melhor e exagerar. A história é um teste, não é refinamento.

19: Coincidências para porem personagens em problemas são ótimas; coincidências para os tirarem delas é trapaça.

20: Exercício: pegue os elementos constitutivos de um filme que você não gosta. Como você os reorganizaria para que se torne um filme que você goste?

21: Você tem de se identificar com sua situação/personagem, você não pode apenas escrever "legal". O que faria com que VOCÊ agisse daquele jeito?

22: Qual é a essência de sua história? A narrativa mais econômica para ela? Se souber isto, pode construir a partir daí.

Sunday, August 17, 2014

A Ditadura da Gramática

 
Apesar de ser um artigo sobre a gramática da língua inglesa, o começo é bastante esclarecedor sobre a gramática em geral.

Por Steven Pinker, autor de "The Sense of Style: the Thinking Person's Guide to Writing in the 21st Century" (tradução livre: Henry Bugalho)

"Entre os muitos desafios da escrita está o lidar com as regras do uso correto (...). Supostamente, um escritor tem de escolher entre duas abordagens radicalmente diferentes para estas regras. Os 'prescricionistas' prescrevem como a linguagem deveria ser usada. Eles defendem padrões de excelência e um respeito pelo melhor da nossa civilização e são um baluarte contra o relativismo, o populismo vulgar e a imbecilização da cultura letrada. Descritivistas descrevem como a linguagem é usada de fato. Eles acreditam que as regras do uso correto nada mais são do que um cumprimento secreto da classe dominante, designado para manter as massas em seu lugar. A linguagem é um produto orgânico da criatividade humana, dizem os descritivistas, e as pessoas deveriam ser permitidas a escrever do jeito que elas quiserem.

Esta é uma dicotomia contagiante, mas falsa. Qualquer um que tenha lido um trabalho de um aluno inepto, uma má tradução do Google, ou uma entrevista com George W Bush pode avaliar que os padrões de uso são desejáveis em muitos territórios de comunicação. Eles podem lubrificar a compreensão, reduzir mal-entendidos, fornecer uma plataforma estável para o desenvolvimento de estilo e graciosidade e indicar que um escritor se dedicou ao elaborar um trecho.

Mas isto não quer dizer que cada implicância, que cada elemento de folclore gramatical, ou cada lição que vagamente nos recordamos da aula da nossa professora Carrancuda merece ser mantida. Muitas regras prescritivas se originaram por razões despropositadas e têm sido desprezadas pelos melhores escritores por séculos.

Como você pode distinguir as preocupações legítimas de um escritor cuidadoso de folclore e superstições? Estas são as perguntas a se fazer. (...) Escritores cuidadosos que inadvertidamente ignoraram a regra concordam, quando a violação é indicada, que houve algum erro? A regra tem sido respeitada pelos melhores escritores pretéritos? É respeitada por escritores cuidadosos hoje? Há um consenso entre escritores com discernimento que isto transmite uma interessante distinção semântica? E são violações da regra produtos óbvios de se ouvir mal, de leitura descuidada, ou uma tentativa fajuta de soar pomposo?

Em contrapartida, uma regra deve ser rejeitada se a resposta para qualquer uma das seguintes questões for "sim". A regra é fundada em alguma teoria bizantina, tal como que o inglês (ou o português) deveria imitar o latim, ou que o sentido original da palavra é o único correto? (...) Ela se originou a partir da implicância de um especialista auto-ungido? Tem sido rotinariamente desprezada por grandes escritores? É fundada num diagnóstico incorreto de um problema legítimo, como declarar que uma construção que às vezes é ambígua é sempre não-gramatical? As tentativas para consertar a frase para que ela obedeça a regra apenas faz com que ela fique mais desengonçada e menos compreensível?

Finalmente, a regra putativa confunde gramática com formalidade? Cada escritor domina uma gama de estilos que são apropriados para diferentes épocas e locais. Um estilo formal que seja apropriado para uma inscrição num memorial do genocídio diferirá de um estilo casual apropriado para um e-mail para um amigo íntimo. Usar um estilo informal quando um estilo formal é requisitado resulta numa escrita que parece ser leve, conversasional, casual, irreverente. Usar um estilo formal quando um estilo informal é requisitado resulta numa escrita que pode parecer constipada, pomposa, afetada, soberba. Ambos os tipos de descompasso são erros. Muitos guias prescritivos se esquecem desta distinção e confundem estilo informal com gramática incorreta.

O modo mais fácil para distinguir uma regra legítima de uso de um conto-da-carochinha é incrivelmente simples: pesquise. Consulte um guia moderno de uso ou um dicionário com observações de uso. Muitas pessoas, particularmente as mais obstinadas, têm a impressão que qualquer mito sobre o uso já solto neste mundo por algum purista autoproclamado será endorsado por algum importante dicionário ou manual. Na verdade, estas obras de referência, com sua cuidadosa atenção à História, literatura e uso atual, são as demolidoras mais fervorosas dos absurdos gramaticais. (Isto é menos verdadeiro para guias de estilo escritos por jornais e sociedades profissionais, e manuais escritos por amadores, como críticos e jornalistas, que tendem a reproduzir irrefletidamente o folclore de guias anteriores.)

http://www.theguardian.com/books/2014/aug/15/steven-pinker-10-grammar-rules-break

Monday, August 04, 2014

O Fantasma da Promessa



Foi uma reportagem do El País que me apresentou a Marina Keegan, uma escritora americana que morreu aos 23 anos. Era considerada uma promessa, "brilhante" segundo seus professores de Escrita Criativa em Yale.

Procurei o livro dela e dei uma folheada. Há um frescor inusitado para alguém que estuda para ser escritora. Tenho lido uma infinidade de contos produzidos nestes cursos, que são quase um pré-requisito para qualquer americano com pretensão a literato; todos se parecem, o mesmo tom, os mesmos temas, a aversão extrema à voz passiva, o uso formulaico de advérbios e adjetivos para evocar "todos os cinco sentidos". Contos longos e tediosos que se prolongam por uma vintena de páginas. Contos para tentarem publicar em The New Yorker ou na Paris Review.

É certo que se pode ensinar a escrever, mas pode-se ensinar alguém a ser escritor?
Tenho as minhas dúvidas.

Corri os olhos pelos contos e crônicas de Keegan, mas não li nenhum integralmente. Interessava-me mais a promessa da escritora que ela não se tornou do que a escritora que de fato ela era. Interessava-me mais a sua breve carreira literária interrompida pela tragédia. Interessava-me o aristotelismo do que poderia ter sido ao invés do que foi.
Pois eu também já fui uma promessa aos vinte e um anos quando escrevi meu primeiro romance e passei a frequentar os círculos literários curitibanos.
Era um rapazola quase concluindo a faculdade embrenhando-me entre os ilustres nomes desconhecidos da Academia Paranaense de Letras, ou com as elegantes senhoras do Centro Paranense Feminino de Cultura. Eu estava lá para ver e ser visto, para ser descoberto, para constatar positiva ou negativamente se havia algum espaço para mim.
No prólogo do meu primeiro livro, a atual presidente da Academia escreveu "o autor, que se prenuncia como uma promessa, trabalha com desenvoltura os múltiplos acontecimentos que afligem homens e mulhres o transcorrer de suas existências", o que me envaidecia e me assustava. Promessa de quê? E como se cumpre uma promessa?

Tive medo. Principalmente, medo de fracassar, de ser uma das várias promessas feitas apenas da boca para fora.
Eu tinha quase a mesma idade de Keegan ao morrer e estava longe de ser um escritor competente. Talvez fosse somente isto, "uma promessa", ou melhor, "o prenúncio de uma promessa", que nem promessa ainda era.
Treze anos se passaram desde então e várias vezes me perguntei: se eu morresse hoje, o que seria da minha obra literária?
É uma indagação tola, reconheço, pois após morrermos não há nada, somente o fim.
O fim das promessas e das realizações, dos sonhos sonhados e dos realizados, do que é e também do que seria.
É triste ser uma promessa, mas é mais triste ser uma eterna promessa.

Até onde ela iria? Quão boa poderia ter se tornado? Qual seria sua obra-prima?
Estas dolorosas perguntas permanecerão para sempre sem resposta.
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