Friday, December 28, 2012

Escrever profissionalmente ou por hobby: o que é melhor para a sua carreira literária?


A ambição de muitos escritores diletantes é a de poder largar seu emprego atual e, um dia, viver somente com o lucro de sua escrita. Normalmente, este anseio é resultado de uma visão distorcida dos sucessos estrondosos de alguns best-sellers, ou pelo romantismo de algumas sofridas figuras clássicas da Literatura.

Durante anos, como vários autores, escrevi amadoramente em meu tempo livre, sonhando com a possibilidade de tornar-me um autor profissional.
E, desde algum tempo, tenho sido escritor em tempo integral, ganhando o pão com a vendagem de meus livros e com a minha escrita.

Vou lhes apresentar as duas faces desta moeda, duas perspectivas sobre cenários literários que se complementam.

Escritor amador X escritor profissional

Muita gente se aproxima cheia de dedos quando se trata de realizar uma distinção clara entre escritor amador e profissional. Inclusive, alguns defendem que é de definição impossível, pois existem amadores que se dedicam muito mais à carreira literária do que profissionais.

Longe de querer esgotar esta discussão, apresentarei a minha definição.

O critério único e fundamental de determinação entre escritor amador e profissional é monetário.

Um escritor profissional difere-se do amador por obter toda sua renda, ou boa parte dela, através de seu ofício.
Como ser escritor não é um título, que se possa obter numa faculdade, qualquer um que decida sentar-se para escrever meia dúzia de páginas já pode ser considerado um escritor amador, independentemente do grau de competência ou comprometimento.
Já um escritor profissional é aquele que faz da escrita a sua carreira e seu sustento, que paga suas contas com a escrita, que depende dela para sobreviver.

Não se trata de nenhuma distinção qualitativa, como se profissional fosse melhor do que amador. Inclusive, em se tratando de liberdade criativa, um escritor profissional possui restrições muito maiores do que um amador, pois depende de vários critérios exteriores, como a aprovação de editores, do público, ou de outras instâncias de legitimação.
Um escritor amador pode querer agradar somente a si próprio, sem se importar muito com a opinião dos demais e, muitas vezes, esta é uma das condições para a criação de obras-primas.

A escrita como passatempo

Entendamos a escrita como passatempo não como falta de seriedade, mas como alguém que se dedica à atividade somente em suas horas vagas, às vezes, sem pretensão alguma de abandonar sua ocupação atual para converter-se em escritor profissional.

Muitíssimos grandes autores da Literatura possuíam um emprego principal, escrevendo durante o tempo livre. Guimarães Rosa e Vinícius de Moraes eram diplomatas; Jorge Luis Borges foi funcionário público; Kafka, advogado; Cortázar e Fernando Pessoa, tradutores; existe um sem fim de grandes escritores que possuíam ocupações tradicionais, como professores, engenheiros, médicos, psicólogos, políticos, donas de casa, etc. e que, às escondidas, produziam seus contos, romances e poemas.
Alguns até chegaram a realizar a transição entre o diletantismo e o profissionalismo, mas vários prosseguiram em suas profissões, produzindo Literatura num segundo-plano.

Existem algumas vantagens em escrever como hobby:
- liberdade criativa irrestrita. Não há ninguém para lhe ditar o que você pode ou não escrever, tampouco para impor-lhe prazos ou condições;
- produzir não é uma obrigação; você pode escrever quando bem entender, se quiser, como quiser.
- não há a necessidade em pensar na Literatura como um produto;
- ter um trabalho que o ponha em contato constante com outras pessoas é uma rica fonte de inspiração para histórias.

Já as desvantagens podem ser:
- falta de disciplina; como não se trata de um trabalho, pode não haver um compromisso real com a escrita;
- pouco tempo para dedicar-se ao ofício. Ao dividir seu tempo disponível entre um trabalho oficial e a escrita, haverá menos oportunidades para produzir, promover seu trabalho e aperfeiçoar-se;
- o risco de alienar o leitor. Quando um escritor devota-se a escrever somente para si, há a possibilidade de produzir obras que ninguém, além dele mesmo, queira ler.

A escrita como profissão

Geralmente, esta é uma etapa posterior. Inicialmente, começa-se a escrever por puro prazer, porém, aos poucos, quando a atividade se torna mais séria, é dado um passo além para a profissionalização.

Antes de tudo, vale lembrar que são bem poucos os autores que realmente fazem a vida somente com a venda de livros. Não é impossível, mas é pouco provável que isto ocorra com a maioria dos escritores.
Os ditos escritores profissionais podem até receber valores consideráveis com a venda de seus livros, mas frequentemente suas obras os projetam para outros tipos de atividades remuneradas, como palestras, oficinas, traduções, jornalismo, e assim por diante.
De certo modo, mesmo com muitos autores profissionais, a escrita acaba sendo uma atividade remunarada secundária, que alavanca ganhos através de outros canais. Pois para sobreviver exclusivamente com a vendagem de livros é preciso vender muito e vender sempre, o que não é para todos os escritores.

A escrita profissional é relativamente recente e os grandes autores profissionais se concentram nos países desenvolvidos, com mercados editoriais fortes. No Brasil, quem se propõe a escrever profissionalmente acaba recaindo, em algum momento, no periodismo, e há uma lista imensa de grandes autores brasileiros que dividiram seu tempo com crônicas em jornais e revistas, ou mesmo como repórteres.
Há um duplo benefício em se aliar à imprensa, pois através dela é que o autor poderá comunicar-se com seus colegas e conseguir atrair publicidade para seus trabalhos literários.
Com uma oferta tão imensa de obras sendo publicadas todos os meses, o compadrio acaba sendo uma poderosa força no mercado editorial brasileiro. "Quem não se comunica, se trumbica", já diria o sábio Chacrinha.

Não é fácil ser um escritor profissional e, não raro, alguns se decepcionam com o cenário que encontram. Um caso notório foi o de Aluísio Azevedo, autor de "O Cortiço", que assim que conseguiu um emprego público, largou a escrita para nunca mais voltar.
Nada prepara um escritor para as agruras da profissionalização, pois produzir um livro de sucesso é uma loteria. Não há garantias que uma obra venderá, ou que a crítica a aprovará. Ser um escritor profissional é caminhar na corda bamba, sem segurança alguma, sem nenhuma certeza.

As vantagens de ser um escritor profissional são:
- todo o tempo para produzir e pesquisar;
- há um prazer especial em ganhar para fazer aquilo que gosta.

Já as desvantagens da profissionalização são consequências diretas dela:
- obrigação de escrever constantemente, mesmo quando não há disposição;
- é uma carreira incerta, repleta de altos e baixos, com momentos de grandes sucessos e outros de total indiferença;
- nem sempre se ganha tanto quanto se imaginava.

Conclusão

Para muitos autores, a profissionalização é uma grande etapa almejada e, certamente, possui algumas evidentes vantagens. Todos nós queremos trabalhar com aquilo que amamos, que nos dá alegria, que nos realiza, mesmo que nossa renda não seja tão extraordinária.
Por outro lado, há uma diferença brutal entre escrever por prazer quando se tem vontade e a obrigação cotidiana de acordar sabendo que você terá de escrever qualquer coisa, mesmo que não acredite mais no que está fazendo.

Há escritores que produzem mais e com maior qualidade quando são amadores, mas que se desesperam no momento em que se profissionalizam. Enquanto há aqueles que, ao poderem se dedicar completamente ao ofício, florescem e atingem seu máximo potencial.

Certamente, não existe uma fórmula aplicável a todas as pessoas, o que é a realização para uns é a ruína de outros. O essencial é jamais perder o deslumbramento pelo ofício da escrita e, a partir do momento em que escrever começar a tornar-se um martírio, rever as escolhas feitas.

Tuesday, December 11, 2012

Ebooks: só mais uma modinha passageira?


A gigante amazon.com finalmente invadiu o Brasil e já chegou assustando. Aparentemente, os livreiros estão aterrorizados e tentando se organizar para forçarem regulamentações contra os ebooks, ainda mais agressivas do que aquelas em vigor na França.

Publico e vendo ebooks desde 2007 e, já naquela época, debatia calorosamente com outros autores sobre o futuro desta tecnologia. Ainda hoje, penso que muita gente está tentando tapar o sol com a peneira e, vez ou outra, leio a frase: "o livro impresso nunca vai morrer. Ler na tela de um computador não é a mesma coisa de ler um livro impresso, sentir o cheiro do papel, virar as páginas".

Será que os livros digitais são apenas uma modinha, que não chegaram para ficar?

Antes de tudo, não leio por causa do cheiro do livro, inclusive, se for um livro muito antigo, tenho até alergia, apesar de adorar uma biblioteca e um sebo.
Leio por causa das ideias contidas em um livro, não pela materialidade do livro. Realmente, não me importa muito se o livro vem num formato de bolso, com capa dura, ou na tela de um computador.
O relevante numa obra é justamente aquilo que é intangível, que não está circunscrito nas páginas, ou em qualquer outro suporte físico.

Quem lê somente por causa do livro impresso, não tem amor pela leitura, mas um fetiche pelo objeto livro.

O segundo aspecto que devemos considerar é sempre o do conflito de gerações. Só tem problemas com o livro digital aqueles que cresceram lendo livros impressos. Para uma geração que crescerá lendo livros digitais, a questão "ebooks substituirão o livro impresso?" nem se propõe.
Do mesmo modo que nenhum adolescente hoje se questionaria se as câmeras digitais substituirão, um dia, câmeras de filme. Aliás, muitos deles nunca viram câmeras analógicas na vida, assim como jovens do futuro talvez nem tenham contato com livros impressos.

O dilema é nosso, que estamos vivendo esta transformação tecnológica, e morrerá conosco.

Para entendermos o advento do livro digital, e principalmente a sua chegada ao Brasil, temos de olhar para trás, considerando outras tecnologias recentes.
As primeiras transmissões de televisão começaram no final da década de 20 nos EUA e Inglaterra. Em 1939, estimava-se que já haviam 2 mil aparelhos de TV em lares americanos, enquanto em 1947 já haviam 44 mil aparelhos.
A primeira transmissão no Brasil só ocorreria em 1950, com 200 aparelhos espalhados pela cidade de São Paulo. Hoje, praticamente todos os lares brasileiros possuem pelo menos um televisor.

Apesar de sua rápida propagação, ainda assim surgiram vários críticos deste novo meio de comunicação. Um dos pioneiros da rádio afirmou, em 1926: "Enquanto que, teórica e tecnicamente, a televisão seja possível, comercial e financeiramente eu a considero uma impossibilidade... devemos desperdiçar pouco tempo sonhando com tal desenvolvimento."
Numa das edições de The New York Times de 1939, uma das críticas era que "o problema da televisão é que as pessoas devem se sentar e manter seus olhos grudados numa tela; uma família americana normal não tem tempo para isto."
Entre incontáveis outros ataques, muitos inspirados pela Escola de Frankfurt, defendiam que a cultura de massas, entre elas a TV, era um dos braços de dominação do capitalismo para emburrecimento das pessoas.

Esta história se repetiu com o computador portátil, com o surgimento dos CDs e também com a internet. A própria invenção da imprensa por Gutenberg, no século XV, foi alvo de ataques, considerada por parte do clero como obra do demônio.

O livro digital está sofrendo, de alguma maneira, os mesmos ataques contra o livro impresso há quase 600 anos, uma demonização sistemática e retrógrada. Pois a era digital não veio para por um fim ao livro, à Literatura, ao escritor, ou ao conhecimento, mas projetá-los a um nível diferente de publicidade, distribuição e volume.
Nunca foi tão fácil publicar e distribuir um livro, e talvez nunca tenha sido tão fácil fazer com que um livro chegue aos leitores.

O problema dos ebooks, por ainda se tratarem de uma nova tecnologia, é que ainda não há uma uniformidade, estamos falando línguas diferentes.
Acreditava-se, até alguns anos atrás, que o .PDF seria o formato universal. Todavia, a falta de proteção de um arquivo deste tipo instigou a criação de novos formatos, capazes de resguardar o copyright. Assim, o ePUB ganhou terreno com várias editoras e livrarias virtuais. Além deste, há o formato .MOBI, proprietário da amazon.com, em seus projetos monopolistas de manter-se como a principal livraria online, bem como, aos poucos, de maior editora virtual.
Neste momento, não é possível prever o futuro dos ebooks, qual formato prevalecerá e como toda a tecnologia se desenvolverá nos próximos anos. Há uma grande probabilidade de vermos o nascimento de uma nova linguagem literária, que una elementos de mídias distintas, permitindo uma maior interatividade, até cooperação autoral, do leitor.
Em 2012, pela primeira vez o número de ebooks vendidos ultrapassou a de livros impressos nos EUA, e esta margem aumentará daqui em diante.

O fato é que a literatura da era digital está transformando a economia do livro e não poderá ser detida.

Isto implicará na extinção do livro impresso?
Possivelmente ainda não por algumas décadas, mas a escala de publicação de material impresso se reduzirá progressivamente até tornar-se insignificante no mercado editorial, convertendo-se enfim em itens de colecionadores de saudosistas.

Wednesday, December 05, 2012

A Literatura está morrendo?



Um dos maiores prazeres dos teóricos é decretar a morte de alguma forma de expressão artística ou de alguma linha de pensamento.

Nietzsche foi um dos primeiros a decretar a morte da Filosofia e, depois dele, já sepultaram esta disciplina uma dezena de vezes. Foi após anunciarem a morte do romance que o nouveau roman, na França, e o realismo mágico latino-americano insuflaram uma sobrevida neste gênero literário, com algumas das obras mais brilhantes do século XX. Recentemente, li sobre a morte do cinema em The New York Times e, vez ou outra, escuto de alguns autores desesperados a prédica que a literatura também está, uma vez mais, agonizando.

Estamos, de fato, diante do fim da Literatura?

As transformações no mercado literário

Não podemos correr o risco de confundir o fim de um modelo de negócios com a extinção de uma forma artística.

Assistimos em tempo real a ruína do mercado literário, ou, pelo menos, suas profundas transformações. Nunca se escreveu, publicou-se e se comprou livros como em nossos tempos.

Definitivamente, a Literatura, entendendo isto de maneira abrangente como a atividade de escrita e publicação, não está nem perto de morrer. Contudo, o mercado editorial tradicional, com toda sua hierarquia de editores até imprensas, está seriamente comprometido. O mercado editorial está passando pela mesma crise que sofreu o mercado fonográfico alguns anos atrás e, assim como ocorreu antes, ninguém tem certeza que direção tomará esta revolução.

Atualmente, qualquer pessoa pode reunir seus textos num livro digital e publicá-lo online, para download gratuito ou para venda, através de inúmeros canais de distribuição. A quantidade de obras disponíveis é avassaladora e assustadora. Já existem casos de grandes sucessos dentre estes autores autopublicados, que, enfim, conseguiram cortar os intermediários, isto é, editoras e livreiros, aumentando seus lucros ou mantendo total controle criativo sobre seus trabalhos.

Alguns predizem que esta cacofonia literária implicará na impossibilidade de encontrarmos obras de valor em meio a tanto lixo, enquanto outros acreditam que esta enxurrada produtiva poderá conduzir-nos a um novo apogeu literário. Ainda não sabemos ao certo, pois estamos no meio deste furacão. Só teremos alguma clareza quando o pior houver passado.

O suposto fim do mercado editorial não significa, de maneira alguma, o fim da escrita ou da Literatura.

Formas decadentes

Por outro lado, devemos reconhecer que todas as formas artísticas possuem um ciclo de vida, de nascimento, disseminação, apogeu e declínio. Ao longo dos séculos, assistiu-se ao florescimento de várias formas artísticas que obtiveram grande adesão entre os artistas até que, finalmente, sucumbiram ao esquecimento ou se tornaram elitistas: a poesia épica, a música erudita, o balé e até mesmo o próprio teatro, para citarmos alguns exemplos.

Várias expressões artísticas outrora populares hoje são divertimentos mais sofisticados, para públicos restritos, como o jazz, a música de câmara, a poesia, pintura a óleo academicista; estão circunscritas a grupos especializados, mas que ainda são apreciadas e perpetuadas: ainda existem compositores de música erudita, ainda existem bailarinas.

Possivelmente, o cinema esteja mergulhando neste universo mais elitista, pois, com o advento da internet, quando há a possibilidade de baixar ou assistir qualquer filme online, o ato coletivo de dirigir-se a uma sala de cinema pode tornar-se mais raro. Ainda não estamos vendo este fenômeno no mundo da Literatura, mas nada nos garante que não ocorrerá num futuro (próximo).

Todavia, a decadência não implica necessariamente numa queda qualitativa. O soneto já era uma forma decadente quando Shakespeare produziu algumas das mais belas obras desta forma. O teatro já não tinha um apelo popular tão forte quando Beckett revolucionou a linguagem dramatúrgica. Portanto, uma eventual decadência da Literatura, ou seja, a perda de sua popularidade, poderia representar uma revolução interna, com o nascimento de obras inovadoras e extraordinárias.

Ficção literária X Mainstream

Outro problema que enfrentamos quando tentamos determinar a morte da Literatura é a famosa distinção entre “verdadeira literatura” (ou ficção literária, para os americanos) e a “literatura comercial” (mainstream).

O fato é que a vida nunca foi muito fácil para a ficção literária, com um número de leitores muito menor, apesar de ser recebida com uma complacência maior pela posteridade. Geralmente, os clássicos da Literatura pertencem à categoria da “verdadeira literatura”, apesar de haver casos de obras que eram comerciais em suas épocas e que sobreviveram ao teste do tempo.

Já a literatura mainstream é feita para o consumo instantâneo. É um produto de entretenimento, sem sérias pretensões literárias. São obras de fácil leitura, com escrita ágil e, não raro, mecânica, sem grande sofisticação estilística e com personagens unidimensionais. Usualmente, seus autores possuem consciência que não estão produzindo ficção literária e nem têm esta pretensão; desejam somente contar uma boa história e, se possível, lucrar bastante com isto.

Nem sempre é muito simples fazer esta distinção entre ficção literária e a mainstream, pois não podemos nos basear somente em dados quantitativos de vendas. Um livro pode ter características de uma obra mainstream mesmo que não venda um único exemplar, enquanto um livro continuará sendo ficção literária apesar de ter se tornado um best-seller (como costuma ocorrer com vários ganhadores do Nobel de Literatura). Esta diferenciação depende muito da intenção do autor e da materialidade da obra concluída. “A Trilogia de Nova York”, de Paul Auster, mune-se de detetives e de algumas características dos romances de mistério noir, porém, de maneira alguma se assemelha à narrativa ou à dinâmica de uma obra mainstream, é obviamente um romance literário. Já “Zahir”, de Paulo Coelho, por mais que se inspire num conto do argentino Jorge Luis Borges, por próprias propriedades narrativas, é uma obra mainstream, como todas as demais deste mesmo autor.

O que percebemos em nossos dias é que a literatura mainstream continua com grande força, enquanto a ficção literária permanece enfrentando as mesmas dificuldades de sempre.

O mercado editorial está passando por profundas e imprevisíveis transformações, mas a Literatura não está morrendo. Pelo menos, não por enquanto...

Sunday, October 28, 2012

Revista SAMIZDAT é Top 100 do Topblog 2012. Ajude-nos, votando!





Revista SAMIZDAT (www.revistasamizat.com) está entre os 100 blogs mais populares da categoria de Literatura no Topblogs 2012.

Por isto, viemos aqui para pedir o seu apoio e o seu voto, clicando no botão acima.
Existem três opções de voto, através do e-mail, por sua conta do Facebook ou Twitter, sem complicação alguma.
Inclusive, você pode votar três vezes, uma para cada opção.

Se você é nosso leitor habitual, já conhece a qualidade do nosso trabalho e compreende a importância de publicações como a SAMIZDAT para o panorama literário atual, apresentando o melhor da Literatura que ainda não aparece nas grandes livrarias, feiras literárias ou nos cadernos de Literatura dos jornais.

Nossa missão, hoje e sempre, é a de contornar o brutal processo de exclusão do mercado literário, que tenta relegar às sombras grandes talentos que, por qualquer razão que seja, não se enquadrem em seus restritos perfis de negócio.
Simplesmente não vamos nos calar nem deixar de lutar.

Se você está nos visitando pela primeira vez, gostaríamos de compartilhar com você algumas informações sobre a Revista SAMIZDAT.


 - criada em 2008, a SAMIZDAT foi uma das primeiras revistas digitais distribuídas gratuitamente em .PDF, apresentando autores brasileiros e portugueses, além de grandes nomes da literatura nacional ou internacional;
- foram 34 edições regulares e 1 edição especial;
- mais de 1000 obras publicadas no blog, com a participação de mais de 170 autores consagrados e estreantes, dos mais diversos gêneros;
- acessada por mais de 140 mil leitores no site;
- e lida por outros 130 mil leitores nas edições da Revista SAMIZDAT em .PDF.

Contamos com seu apoio, caro leitor, pois nosso labor e nosso esforço é e sempre será o de lhe trazer o melhor do nosso talento, com obras instigantes, profundas, divertidas, angustiantes ou informativas.

Se ainda estamos aqui, dia após dia e ano após ano, é pelo simples prazer de sermos lidos por vocês.

A votação vai até dia 10 de novembro de 2012.

Obrigado,

Henry Alfred Bugalho
editor

Friday, October 05, 2012

O Muro de Indiferença, ou a invisibilidade dos candidatos a escritores



Você teve uma ideia brilhante para um livro? Gastou os últimos meses, ou talvez anos, desenvolvendo-a e pondo-a no papel? Sua obra está pronta e agora só falta publicá-la?

É neste ponto que o sonho de ser um escritor converte-se em pesadelo, ou melhor, é quando a realidade se mostra em sua mais crua e angustiante forma: qualquer um pode escrever um livro, mas não é qualquer um que poderá publicá-lo comercialmente.

A proliferação do talento

Até pouco tempo atrás, a ­escrita, ou pelo menos a escrita enquanto ­profissão, era uma tarefa para poucos ­afortunados.

Não era todo o mundo que tinha acesso a educação de qualidade, nem o domínio técnico da escrita para produzir bons livros. Assim como em outras atividades artísticas – nas artes plásticas, na fotografia, na dança, na música e no cinema – era necessário muito tempo de estudo e prática para se consolidar numa carreira, além de ter de estar no lugar certo, relacionando-se com as pessoas certas.

Inclusive, a quantidade de livros escritos, peças de teatro, filmes, canções, fotografias, etc., era muito inferior, apesar de já ser num volume muito maior do que qualquer ser humano pudesse assimilar.

O fato é que, da década de 80 para cá, publicou-se mais livros do que nos cinco séculos precedentes, ­quando ­Johannes Gutenberg inventou a ­imprensa.

A primeira constatação a partir desta explosão criativa foi que talento artístico não é uma exclusividade de uns poucos gênios.

Todavia, a segunda descoberta é que sempre haverá muito mais lixo do que obras de qualidade, pois nem todos que pensam ter algum talento o têm de fato, ou, o que é pior, às vezes um escritor talentoso acaba desperdiçando seu potencial em projetos ruins, somente na intenção de ganhar dinheiro ou ficar famoso.

O muro da indiferença

O capitalismo é brutal.

Ninguém precisa que eu afirme isto para perceber que o capitalismo funda-se na desigualdade econômica: alguns poucos ganham muito dinheiro, enquanto a maioria oferece sua força de trabalho por míseros trocados.

O sucesso de poucos depende necessariamente do fracasso de muitos.

Não sou contra o mercado de consumo, aliás sou o primeiro a reconhecer seus inúmeros benefícios. No entanto, quando se trata da criação artística e literária, estamos do lado de fora da indústria, fomos esquecidos por ela. Somos e fomos ignorados.

Se você, caro candidato a escritor, já enviou seus originais para algumas editoras e foi recusado, então já deve ter alguma ideia do que estou falando, senão, está na hora de você tentar.

Em janeiro de 2012, entrei em contato com quase trinta editoras para confirmar se estavam recebendo originais para análise, pois estas informações nem sempre estão muito claras nos sites delas.

Destas, somente três responderam, sendo que duas delas não recebiam mais material por não terem equipe suficiente para dar conta de todos os manuscritos que já haviam recebido anteriormente.
De trinta, somente três respostas!

As que informam que só analisam material enviado através de agentes literários já delimitaram sua política: “não trabalhamos com autores estreantes”. Pois qual autor em início de carreira possui um agente literário influente?

Em julho deste mesmo ano, contatei dez editoras, enviando algumas breves perguntas sobre o processo de seleção de autores estreantes e apenas a ­Soraia Reis, diretora editorial da Editora ­Planeta, respondeu*.
Agora, cá entre nós, se a equipe de uma editora é incapaz de ler e responder simples e-mails, você ainda acredita que eles lerão e darão alguma atenção ao seu livro de trezentas páginas?

Como escritor, eu não me importo se receberei uma carta de recusa na qual o editor afirma que meu livro é um lixo, que meus personagens são fracos, que não sei escrever, que não tenho nenhum futuro no mercado literário, pois, pelo menos, terei a certeza que fui lido, que alguém realmente dedicou um pouco de seu tempo para tentar encontrar algum valor naquelas páginas que me tomaram tantos dias para serem escritas e revisadas.

Pior do que a crítica negativa, ou até mesmo do que a crítica destrutiva, é a indiferença, a sensação que você é tão insignificante que não merece sequer uma resposta por e-mail.
Este é o cenário que você, escritor iniciante, encontrará diante de si.

Após mais de uma década escrevendo, conversando com centenas de escritores e participando de oficinas literárias, editando obras e revistas independentes, não conheço nenhum autor que tenha sido publicado por uma das grandes editoras do Brasil. Nenhum, absolutamente zero!

E isto porque eu, que não tenho nenhuma influência no mercado literário, já pude me deparar com escritores brilhantes, daqueles que escrevem histórias que reverberam em sua mente por dias e dias, de fazer os pelos de suas costas se arrepiarem durante a leitura. Vários deles não suportaram o muro de indiferença e hoje nem escrevem mais.

Alguns simplesmente não aguentam. Alguns não estão prontos para arcarem com o peso da invisibilidade.

A culpa é dos escritores?

Talvez os dois grandes erros de um escritor iniciante sejam a ingenuidade e a presunção.
Ingenuidade porque ele não dedicou algumas horas para tentar entender o mercado de livros, o que se tem publicado e como se aproximar das editoras.

Segundo Laura Bacellar, editora e autora da obra e site “Escreva seu ­Livro”: “qualquer nível de profissionalismo é tão raro entre autores brasileiros que ao fazer isso você já se diferencia do bando de uma maneira extravagante”. ­Soraia Reis, diretora editorial da Planeta, também defende o mesmo argumento: “Outro ponto importante é enviar o original para as editoras certas, ou seja, antecipadamente, verificar quais áreas e gêneros as editoras publicam, para não perder ­tempo.”

E não temos porque questionar que grande parte da responsabilidade do fracasso é do escritor, e é aí que entra a presunção, pois vários autores acreditam que suas obras são muito melhores do que realmente são, ou eles imaginam que revolucionarão o mundo da Literatura com suas “obras-primas” e que ninguém é capaz de reconhecer a sua genialidade.

Como aponta Bacellar, não basta que um romance seja bom, ele “precisa ter diferencial”, recomendação que se assemelha muito à visão de Soraia Reis, que um escritor deve “preparar um belo texto que se diferencie dos demais”.

Muitos escritores em início de carreira tendem a parasitar o estilo e os temas de seus autores favoritos, tentando reescrever, a seu modo, o próximo best-seller. Por mais que existam tendências recorrentes no mercado ­literário, é fundamental que o autor encontre sua própria voz, aquela que o distinga tanto dos grandes escritores do momento quanto de outros que também estão lutando por um lugar ao sol.

A indiferença das editoras talvez seja uma consequência direta da grande quantidade de material que recebem e que não possui o nível mínimo de qualidade para sequer ser considerada com atenção em um parecer inicial.

É incrível quanta gente se autoproclama escritor, mas que não consegue escrever com competência uma linha sequer de literatura relevante. E é justamente esta legião de pretensos autores que deflagra a avalanche de originais que se amontoam nas editoras por todo o Brasil, dificultando não somente o trabalho dos departamentos ­editoriais, como também a descoberta de algum trabalho de mérito entre tantos ­entulhos.

Mesmo assim, Soraia Reis é categórica em afirmar que “recebemos muitos originais, como já citado, mas dentre estes, podemos descobrir grandes pérolas, afinal, todo escritor um dia foi inédito, não é mesmo?”

Qual é o caminho das pedras?

Se eu pudesse lhe indicar este caminho, provavelmente nem estaria escrevendo este artigo. Talvez nem haja um caminho, a não ser o simples rolar dos dados da Fortuna.

Alguns conseguem, outros não: uma verdade definitiva da existência.

No entanto, nem tudo está perdido. O panorama é cinzento, as nuvens são carregadas, mas sempre há uma esperança.

Seguem algumas alternativas para o candidato a escritor:

1 - publicação independente

Autopublicar-se nunca foi visto com bons olhos por editores nem por ­leitores.

No entanto, tudo tem mudado tão rápido que, hoje em dia, com tantos casos de megassucessos instantâneos de autores publicados independentemente nos EUA, a autopublicação não apenas não tem sido mais observada com desconfiança, como agora a crítica tem se voltado contra as grandes editoras americanas.

“Como é que vocês não perceberam o potencial comercial deste autor que ­acaba de vender milhões e milhões de livros digitais?”, é a questão que se levanta, e muita gente tem começado a dar-se conta que nem sempre os editores são um bom referencial na hora de determinar o que é que os leitores realmente gostam.

2 - concursos literários

Ganhar algum prêmio literário importante, além de inflar seu ego e dar-lhe uns tostões, pode também atrair a atenção de alguma editora.

No entanto, cautela! Nem todos os concursos são confiáveis e alguns deles são obviamente com cartas-marcadas.

Os grandes concursos, entenda-se os que possuem um prêmio em dinheiro apetitoso, atraem tanto autores anônimos quanto consagrados, e você pode estar certo que, entre premiar ­Dalton Trevisan e você, eles escolherão o ­famoso.

3 - tente as pequenas editoras

Fechar um contrato com uma grande e influente editora é o ideal de todo o escritor, motivado principalmente pela ilusão que assim ele terá muito mais visibilidade nas livrarias e venderá muito mais livros.

Contudo, é preciso começar por algum lugar e existe uma porção de pequenas casas editoriais, às vezes no fundo do quintal do editor, dispostas a encontrar e publicar novos talentos.

Mas também não se engane... Quase sempre você terá de meter a mão no bolso e liberar uma verba para custear parte do (ou todo o) processo de publicação. E também divulgar muito e, comumente, vender de porta em porta seu próprio trabalho.

4 - oficinas literárias

Além de ser uma boa maneira para aprender técnicas novas e refinar a sua escrita, algumas oficinas literárias ministradas por escritores influentes podem lhe abrir as portas do mercado editorial, desde que seu material seja bom o bastante para ele querer ­recomendá-lo.

5 - escreva um blog

Se não é para ficar rico, nem famoso, nem conseguir publicar por uma editora grande, por que não criar um blog e divulgar seus textos lá?

Pelo menos assim você conquistará alguns leitores e, se seu blog fizer sucesso ou for muito polêmico, talvez até acabe fisgando alguma editora.

Há alguns casos de autores publicados que começaram desta maneira e que hoje estão por aí, vendendo livros e ganhando prêmios.

Mas, no final das contas, o que mais importa mesmo é ser lido e confirmar que as suas obras têm valor, que merecem muito mais do que indiferença.

Conclusão

Não existe fórmula para ser publicado, assim como não existe fórmula para o sucesso.

Se você pôs na cabeça que deseja ser escritor, então prepare-se para ser ignorado, rejeitado, recusado e criticado. Estas são as provas de fogo que você terá de enfrentar para confirmar esta sua decisão.

O fracasso estará aí, sempre espreitando do outro lado da porta, e, atrás do muro da indiferença, não está o fim nem as respostas, somente outras lutas e outras dificuldades a serem ­enfrentadas.

Às vezes, o caminho que parece ser o mais glorioso pode ofuscar as estreitas e obscuras trilhas secundárias, mas elas continuarão lá, prontas para quem ousar percorrê-las.

 * A Editora Globo nos enviou um e-mail informando que os “diretores estão fora da empresa e não poderemos dar a atenção que você merece.”


Soraia Reis, diretora editorial da Planeta, responde:

 1 - além de escrever um livro interessante, como deve proceder um escritor em início de carreira para despertar a atenção das grandes editoras?

Como você disse, escrever bem em primeiro lugar. O autor de ficção deve criar uma história encantadora, aquela que o leitor não tem vontade de parar de ler. Para isto o texto deve ter fluência. Já no livro de não-ficção, o autor deve conhecer profundamente sobre o que está escrevendo. Deve pesquisar, se atualizar. Em ambas as áreas, o escritor precisa se preparar. Após preparar um belo texto que se diferencie dos demais, pois as editoras recebem centenas de originais por mês, o autor deve fazer uma boa apresentação do seu trabalho e encaminhar a sua biografia anexa. Outro ponto importante é enviar o original para as editoras certas, ou seja, antecipadamente, verificar quais áreas e gêneros as editoras publicam, para não perder tempo. O autor deve ter paciência para receber a resposta também. Às vezes os autores inéditos enviam textos para avaliação e querem resposta em um mês. O processo não funciona assim, pois a pressa pode atrapalhar a avaliação.

 2 - um agente literário ou uma indicação influente facilita o processo, ou o escritor pode confiar que um livro com potencial será descoberto em meio aos demais originais que a editora recebe todos os meses?

 O texto precisa ser bom, condição primordial, mas quando um agente conhecido acredita no livro, já sabemos que devemos ler, pois ele já fez a primeira leitura. Afinal você conhece o trabalho de cada agente. Mas inúmeras vezes não contratamos livros vindos dos agentes e contratamos livros que recebemos direto. Normalmente o agente ajuda na divulgação do livro, como também a melhorar a forma do livro.

 3 - apostar em um autor nacional estreante é um risco? Por quê?

Tudo é risco. Por exemplo: compramos direitos de livros estrangeiros que venderam 1 milhão de cópias nos EUA, mais 1 milhão na Europa, e no Brasil não acontece nada. O editor apostou em um tema que agrada ao público brasileiro e que vendeu bem; a princípio, isto seria um bom parâmetro, mas não o é. Desta forma, o que pode vender? No que apostar? O editor não tem bola de cristal, mas o seu conhecimento e o seu faro podem ajudar. Seja o autor inédito ou não. Recebemos muitos originais, como já citado, mas dentre estes, podemos descobrir grandes pérolas; afinal, todo escritor um dia foi inédito, não é mesmo?

Laura Bacellar, editora, consultora editorial e autora de “Escreva seu Livro”, responde:

 1 - além de escrever um livro interessante, como deve proceder um escritor em início de carreira para despertar a atenção das grandes editoras?

Deve mostrar que sabe a quem se dirige, em primeiro lugar. Ter conhecimento do público com quem fala e, se possível, já se entender com ele – através de um blog ou rede social ou cursos ou palestras ou lá o que seja – é um megaponto a favor para ser levado a sério pelo editor.

Em segundo lugar, deve demonstrar que conhece o mercado. Os autores americanos já têm uma formulazinha para isso, sempre que apresentam um original a uma editora dizem com que outros livros e autores ele concorre, o que tem de melhor ou parecido com esses livros publicados (de sucesso) e como vai conquistar esse mesmo público que gostou desses outros livros, elencando as razões para gostar do seu.

Aqui isso não é tão difundido, mas uma postura como esta impressiona muito bem. Qualquer nível de profissionalismo é tão raro entre autores brasileiros que ao fazer isso você já se diferencia do bando de uma maneira extravagante, recomendo.

Em terceiro lugar, o livro precisa ter diferencial. Não é só interessante, precisa não ser igual aos milhares de outros na praça. É por isso que livros de contos costumam ser recusados, que romances sem algo marcante não sejam considerados. O autor deve pensar em algum diferencial que combine com seu estilo, sua vontade de contar histórias ou seu tema, e aprofundar essa diferença.

 2 - um agente literário ou uma indicação influente facilita o processo, ou o escritor pode confiar que um livro com potencial será descoberto em meio aos demais originais que a editora recebe todos os meses?

Já vi sucessos sem conta pelos dois caminhos. Um agente muitas vezes facilita a entrada numa grande editora, porque a obra tem todo o perfil de boas vendas ou muito prestígio. Mas o caminho por conta própria também é trilhável e ainda possível em nosso mercado; é mais uma questão de tentar. O que não pode é desistir na primeira. Muita gente me diz que enviou para duas editoras, foi recusado e desistiu. Eu rio. Duas? Eu já tive um original recusado por dez editoras, apesar de ser do meio e saber a quem me dirigir. Depois esse original foi aceito e publicado...

 3 - apostar em um autor nacional estreante é um risco? Por quê?

É um risco enorme, todo escritor tem que entender isso. Porque o editor não tem a menor ideia de como o público vai reagir àquele novo nome, àquele novo título. Pode não acontecer nada e todo o esforço resultar em livros parados no depósito. O autor precisa entender que é uma loteria publicar e fazer de tudo, absolutamente de tudo, para o livro ser um sucesso. Tem gente que fica largada em casa, achando que divulgação é trabalho da editora. Não é. O autor precisa divulgar feito louco, colaborar de todas as formas possíveis para o livro acontecer. E nem vai ganhar muito dinheiro com isso, mas se ganhar um certo nome, uma famazinha, já vale, porque o segundo livro fica muito mais fácil. Quem quer viver de escrita ou ser levado a sério precisa pensar estrategicamente na carreira, não em ganhar dinheiro com a primeira obra.

(Artigo publicado originalmente na Revista SAMIZDAT 34 - http://www.revistasamizdat.com/2012/09/samizdat-34.html)

Friday, August 31, 2012

Quando desistir de escrever um projeto?


Recentemente, remexendo meus arquivos, descobri uma interessante estatística pessoal: para cada livro que concluí, há duas obras inacabadas.

Sendo mais específico, já escrevi na íntegra 7 obras longas, no entanto, tenho 15 obras inacabadas, ou seja, concluo aproximadamente 33% dos livros que já comecei a escrever.

Isto porque estou falando apenas daqueles livros que, de fato, iniciei a escrita, para os quais redigi parágrafos ou algumas páginas, pois, se fosse contar também somente as ideias para contos ou romances, esta proporção seria muito mais desigual.

Investir ou não seu tempo num projeto?

Você teve alguma excelente ideia para um livro, elaborou em sua mente ou no papel alguns pontos mais importantes da trama e também desenvolveu as características de alguns personagens.

E agora, como saber se vale investir seu tempo neste projeto?

Antes de tudo, saiba que não existem garantias algumas.

1 - você não tem como estar certo que começará e acabará o livro; e

2 - nem que seu livro será tão bom quanto você o concebeu inicialmente.

Estes são dois problemas distintos, com soluções diferentes.

No primeiro caso, você deve julgar se o projeto o estimula o bastante para você dedicar dias, semanas, meses e, às vezes, anos para desenvolvê-lo.
Nenhum livro se escreve sozinho e, apesar de haver exceções, são raros os casos de autores que conseguem produzir boas obras em poucos dias.

Se você escrever num ritmo frenético, produzindo uma dezena de páginas por dia, você levará em torno de umas duas ou três semanas para concluir um romance.
No entanto, se você for mais lento, digamos escrevendo uma página por dia, você precisará de uns seis meses para pôr o ponto-final em sua obra.

É fundamental também, antes de começar a escrever um livro, que você dedique um horário específico somente para isto. Se você não criar disciplina, você escreverá algumas páginas no primeiro dia, não escreverá nada no segundo nem no terceiro e, depois, terá perdido a mão, abandonando o projeto.

No segundo caso, se você terminou de redigir seu livro e ele não o agradou, o mais simples é deixá-lo descansar alguns meses e relê-lo depois.
É neste momento em que se inicia o trabalho de reescrita e revisão, quando você vai cortar as arestas, reduzir cenas mais longas e tediosas, desenvolver melhor um diálogo, dar uma sapecada na obra.
O trabalho de reescrita é tão lento e oneroso quanto o próprio trabalho inicial de escrita.
Demorei 10 anos reescrevendo o meu primeiro romance até ficar com a sensação de uma obra bem feita. 10 anos!

A escrita é um exercício de paciência e escrever um romance é uma tarefa frase após frase, parágrafo após parágrafo, é um ato de dedicação e perseverança.
Persistência é o segredo.

Quando abandonar um projeto pela metade?

Mas se você já começou a escrever e, lá pela metade do livro, perdeu o fogo, desapareceu aquele ânimo que o motivou a iniciar o projeto?

Isto é bastante comum e confesso ser muito frustrante para um escritor.

Pois se você escreve uma ou duas páginas e abandona o livro, você perdeu dois ou três dias de trabalho e é isto. Toca adiante para outro projeto!
Todavia, se você já escreveu 100 ou 200 páginas de um livro e, neste ponto, está começando a duvidar do que já produziu, esta é uma situação conflituosa para um autor.

Durante a escrita do meu segundo livro, um romance histórico, quando já estava na metade dele, li alguns livros de História que me fizeram mudar totalmente o rumo da trama.
Eu tinha duas opções: continuar na linha inicial, mesmo sem acreditar mais nela, ou abandonar tudo e reescrever o livro desde a primeira linha.
Escolhi a segunda alternativa. Foi muito mais trabalhoso, mas o resultado final ficou mais próximo do que eu esperava.
Não dá para investir seu tempo e labor num projeto no qual você não acredita mais.

No momento, estou escrevendo a segunda versão de um romance que iniciei em 2008. A primeira versão era com uma narrativa muito mais simples e ágil, mas não tinha a minha cara.
Depois de ter escrito umas 120 páginas neste tom, decidi que não dava mais, que aquela obra não me representava. Então, recomecei do zero, reutilizando um ou outro capítulo da primeira versão, mas com uma abordagem completamente diversa.
Repito: não dá para escrever um livro se sua alma não estiver ali.

Quando você atinge esta espécie de dilema - continuar escrevendo ou desistir? -, você precisa pesar as duas possibilidades: posso continuar o livro e depois consertá-lo na revisão, ou devo voltar para a primeira página e fazer tudo diferente?

Esta é uma decisão que somente você pode tomar.

O peso da desistência

Ao abandonar um projeto, a primeira sensação é de fracasso. Você se sentirá pequeno e questionará seu talento como escritor.
"É realmente esta a minha vocação?", você se perguntará.

A melhor terapia para estas indagações é mergulhar em outro projeto, ou recomeçar o malfadado livro que você acabou de abandonar, e trabalhar.

 Assim que você puser o ponto-final num livro, por melhor ou pior que ele seja, você se sentirá reconfortado, e isto lhe dará forças para projetos futuros.

Tudo que você precisa é escrever um livro do começo ao fim. Depois disto, você terá a certeza de que é capaz. Mesmo desistindo ou fracassando posteriormente, aquele livro concluído lhe dará força para começar e concluir outros projetos futuros.

Por fim, você sempre poderá retomar os livros ou projetos abandonados um dia, caso aquela ideia esteja mais madura e sofisticada.
Poder retornar a uma obra inacabada, com uma visão mais lúcida sobre ela e com maior experiência, e concluí-la é também uma grande desafio para qualquer escritor. E muitas vezes resulta em livros extraordinários.

Saturday, August 25, 2012

Quer publicar seu livro? Então abra o olho para as editoras picaretas


Finalmente, você acabou de escrever e revisar seu primeiro livro.

Esta já é uma grande vitória, posto que a maioria dos candidatos a escritores não consegue sequer superar esta primeira etapa.

Em seguida, vem o desespero da publicação. "Não basta ter escrito um livro, é preciso publicá-lo", pensa o autor e, para isto, ele estará disposto a fazer qualquer coisa, qualquer coisa mesmo.

Eu lhe asseguro que publicar um livro é até mais fácil do que escrevê-lo, desde que você tenha uma poupancinha para arcar com todas as despesas.

"Mas eu não tenho um tostão guardado", você pensa. Então sua vida não será nada fácil nos anos que se seguem à escrita de seu livro.

Como publicar seu livro?

Você terá algumas opções iniciais:

1 - pagar uma publicação independente;

2 - enviar originais para grandes editoras comerciais;

3 - enviar originais para editoras médias e pequenas;

4 - pagar para ser publicado pelo selo de alguma editora.

Se você for um autor desconhecido, sem costas quentes (entenda-se, sem padrinhos ou amigos importantes no mercado editorial), a possibilidade de ser publicado de cara por uma grande editora é próxima de zero. Sendo otimista...

Editoras médias e pequenas podem até ter uma abertura maior para autores estreantes, por outro lado, possuem catálogos mais enxutos e publicam bem menos livros anualmente.

Isto é, restaram duas opções pagas.

A tiragem independente, que custará mais caro, mas, se as vendas forem boas o potencial de lucro será muito maior, ou o selo pago de alguma editora, que pode ser uma editora picareta.

Explorando os sonhos alheios

Muitas destas pequenas editoras que cobram de autores nasceram de iniciativas honestas de também escritores que também tiveram dificuldades para publicarem seus primeiros livros.

Frequentemente, para você integrar o mercado editorial, o caminho mais rápido é, além de ser escritor, tornar-se também um editor.

Por outro lado, várias destas editoras também surgem somente de interesses comerciais, de gente que encontra no desespero dos escritores um filão mercadológico importante.
São editores que sobrevivem às custas da exploração dos sonhos alheios. E é aí que você tem de tomar cuidado.

Publicar não é o fim

Uma vez que você tenha seu livro pronto em mãos, editado e publicado, é quando você se dá conta que publicar não é o fim do caminho.

O mais difícil do ofício da escrita é fazer com que os livros cheguem às mãos dos leitores e, na maioria das situações, isto só ocorrerá com o esforço direto e constante do próprio autor.
As grandes editoras possuem os autores de renome que sempre receberão mais atenção do que os novatos.
As editoras medianas também investirão seus recursos, isto se chegarem a investir qualquer coisa, nos livros que vendem mais.
Já a editoras pagas, não investirão nada, isto se não cobrarem um adicional do autor por um pacote de marketing do livro.

Como identificar uma editora picareta?

Não é fácil separar o joio do trigo no mercado editorial brasileiro, pois mesmo grandes editoras pisam na bola com seus autores.

Mesmo assim, existem alguns indícios que você está caindo no conto do vigário quando:

a - existem taxas de leitura de originais.
Isto é simples. A editora cobra uma alta taxa de leitura, recusa a maioria dos originais recebidos e faz um caixa somente assim, sem precisar editar e publicar livro algum.

b - o valor cobrado pela revisão, edição, diagramação, impressão e distribuição é alto demais
Você precisa pesquisar antes de meter os pés pelas mãos. Faça orçamentos com gráficas para ter uma noção de quanto custaria para fazer uma tiragem de mil exemplares de seu livro.
Este será o seu referencial.
Se, por acaso, o que a editora está cobrando de você se aproximar do valor da gráfica, pense duas vezes.
Será que não compensaria mais que você mesmo arcasse com todas as despesas e vendesse seu livro de porta em porta?
Não é uma tarefa fácil, mas os retornos podem ser melhores, além de você estar lidando com uma pessoa na qual confia: você mesmo.

c - pesquise o histórico das editoras na internet
Hoje em dia, não há desculpas para cair no conto do vigário.
Com a internet, você pode descobrir sobre a reputação de qualquer editora/editor em questão de segundos, além de ouvir histórias de autores revoltados que já foram passados para trás.

Conclusão

Eu entendo que você queira ver seu livro publicado, mas não adianta se precipitar.

Se escrever um livro é como ter um filho, pare e reflita: "você entregaria seu filho nas mãos de qualquer imbecil, que poderia prejudicá-lo?"

A carreira de escritor exige muita paciência e cautela. O trabalho do autor não é somente escrever livros, mas também fazer decisões acertadas e vestir a camisa na hora de promover e vender suas obras.

Como se já não fosse difícil, os autores ainda tem de se esquivar dos pilantras de plantão.

Você conhece alguma editora picareta e possui uma história para compartilhar conosco?

Wednesday, July 25, 2012

Então, este é o dia do escritor?


Despertei hoje recebendo parabéns pelo "dia do escritor".
Nem sabia que existia, tanto que cheguei a pensar que fosse como o "dia do amigo", que ocorre umas 50 vezes por ano. Alguém espalha por aí é que dia de alguma coisa, e todos repetem irrefletidamente como na brincadeira do telefone sem fio.

É uma data universal ou apenas brasileira? Então corri para checar a informação e descobri que o 25 de julho é celebrado desde a década de 60, quando a data foi instaurada por Jorge Amado e João Peregrino Junior como o "dia nacional do escritor".
Na Argentina, celebra-se esta profissão em 13 de junho, data em que nasceu Leopoldo Lugones. Já nos países de língua inglesa, a data é comemorada em 3 de março, segundo estipulada pela Pen International.
Isto é, se fossemos pesquisar os dias do escritor ao redor do globo, seria mais ou menos como o "dia do amigo", e passaríamos festejando metade do ano.

E temos alguma coisa para comemorar?

Está mais fácil pesquisar e escrever. Ninguém precisa mais se enterrar em bibliotecas para encontrar alguma informação obscura sobre qualquer assunto que seja.
Ninguém precisa também passar horas e horas datilografando páginas e mais páginas, para depois efetuar revisões e ter de datilografar novamente todo o livro com as correções.

Sem dúvida, ficou muito mais fácil publicar livros, entenda-se, independentemente. Qualquer um pode escrever um livro, mandar imprimi-lo sob demanda e final da história.

Também ficou muito mais fácil encontrar leitores e divulgar suas obras. Com a internet, com alcance virtualmente ilimitado para todo o planeta, um autor dedicado pode criar do dia para a noite uma legião de leitores para seus textos, inclusive tornando-se até mais conhecido do que muito escritor publicado por grandes editoras, mas que não realizaram divulgação alguma.

E o que ainda há para melhorar?

Mesmo que publicar esteja mais simples, conseguir uma editora comercial está cada vez mais difícil. A concorrência entre os novos autores é cada vez mais acirrada, enquanto que a abertura das editoras para novos nomes é cada vez menor.
Isto é um sinal dos tempos, pois as editoras estão perdendo gradativamente o controle sobre o que merece ser publicado, a crise digital está começando a afetá-las, e o foco está se alterando para a autopublicação, que promete engolir boa parte do mercado tradicional de livros.

Mesmo que encontrar leitores e ser reconhecido como escritor esteja mais fácil, vender livros está muito mais difícil.
Atrair milhares de leitores para um blog é uma coisa, vender milhares de livros é uma situação completamente diferente, e muitos se decepcionam quando tentam realizar esta transição entre conteúdo livre e gratuito para um livro restrito e pago. Ser lido não é sinônimo de ganhar dinheiro com isto.

Além disto, o fenômeno recente é a difusão absoluta da crença que qualquer um pode ser escritor. No Brasil, somos mais de 200 milhões de escritores potenciais (mesmo analfabetos acreditam que podem escrever um livro, um dia), enquanto somos apenas uns 20 ou 30 milhões de leitores, ou seja, é muito complicado para que a quantidade absurda de obras literárias produzidas consiga algum tipo de vazão; particularmente se considerarmos que uma grande parcela do público-leitor nem gosta muito de ler, só compra livros e lê por obrigação escolar, um hábito que rapidamente desaparece assim que termina a coação.

E a festa?

Escrever não é uma profissão no Brasil, talvez jamais se torne. Existe sim uma porção de autores que ganham trocados, e raríssimos espécimes que enriquecem, mas a maioria não vê nem nunca viu a cor do dinheiro.
Escrever é diletantismo, é passatempo, e a falta de seriedade de muitos candidatos a escritores é a prova mais evidente disto. Quase nenhum deles considera - ou se considera é por pura ingenuidade - viver uma carreira como escritor. Escrever é hobby, uma atividade extra que fazemos depois do expediente, enquanto a esposa e o bebê dormem, quando nos resta um tempinho vago.

Há muito o que se comemorar, não nego.
Somos livres de quaisquer amarras, podemos escrever e publicar o que bem desejarmos; não há mais censura, nem restrições.

Mas temos muito o que lamentar, devemos reconhecer.
A escrita é menosprezada e o trabalho do escritor é achincalhado.
Se você tem talento e obtém sucesso, sempre haverá um pirata rondando pronto para roubar seu trabalho e distribuí-lo na rede.
Os leitores dão pouca importância para seus livros.
As editoras o ignoram.
E talvez você tenha até vergonha de se assumir como escritor, pois é uma carreira tão efêmera e abstrata que, para muitos, pode soar como um nada.

Celebremos, pois, a escrita! O belo ofício de deitar palavras numa folha em branco, compartilhando de nossas alegrias e angústias, que há milhares de ano é uma ferramenta incrível de comunicação entre as pessoas. A origem de toda a Literatura.
Nós, escritores, somos meros intermediários, estamos aqui apenas para servir a escrita, para dar-lhe forma.
Somos somente os mensageiros, pois a beleza está em outro lugar, num santuário intocado que apenas vislumbramos neste ato de entrega que é a escrita.

Sunday, July 08, 2012

O mito do bestseller brasileiro


Não ousarei generalizar e afirmar que todos os escritores sonham em se tornarem bestsellers, venderem milhões de exemplares, ficarem famosos e ricos, pois sempre existem as ovelhas negras...

Mesmo assim, acredito que internamente todos almejam a aprovação e o reconhecimento dos leitores, a apreciação de suas obras e, neste ponto, vender bem é uma prova disto: de que há gente que gostou do seu trabalho, indicou aos outros, que por sua vez indicaram aos outros, num círculo virtuoso.

O que é um bestseller?

As definições do que é um bestseller, isto é, de um autor que pertença ao rol dos mais vendidos, variam geograficamente. Em alguns países, é preciso vender muito mais livros do que em outros.

Basicamente, qualquer listagem dos mais vendidos parte de uma premissa básica: a compilação dos dados de vendas entre várias livrarias espalhadas pelo país, e isto vale para o Brasil, para os EUA, ou para a Suíça.

Um livro mais vendido não é aquele que vendeu 1 milhão de cópias somente na amazon.com, mas sim aquele que vendeu bastante na somatória de todas as livrarias pesquisadas.

Nos EUA e Canadá, vender 5 mil exemplares por semana pode ser o bastante para catapultá-lo ao status de bestseller, enquanto que, no Reino Unido, esta margem varia de 4 mil a 25 mil exemplares por semana.

E no Brasil?

Não é tão fácil determinar estes dados para o Brasil, primeiro porque há um certo hermetismo por parte das editoras quanto aos dados das vendagens, como se elas estivessem lidando com documentos ultrassecretos da CIA, depois, porque as tiragens e as vendagens médias de livros de ficção chegam a ser ridículas para um país enorme como o nosso, com mais de 200 milhões de habitantes.

Atualmente, a tiragem inicial média de um livro por uma grande editora é em torno de 3 mil exemplares, sem garantia alguma que será vendida a quantidade mínima de livros para se pagar o investimento.

Segundo os dados da Publishnews, um livro que venda 600 exemplares por semana já poderia se enquadrar como um bestseller. Além disto, uma rápida olhada nas listagems de mais vendidos em ficção basta para percebermos que a maioria dos sucessos é de obras de autores estrangeiros, constando apenas 1 ou 2 autores nacionais.

Para todos os fins, podemos dizer que uns mil livros vendidos por semana é o suficiente para considerar uma obra como um bestseller, enquanto que 5 mil por semana já estaria quase no topo desta listagem.

Quem são os bestsellers brasileiros?


É impossível falarmos de mais vendidos no Brasil e não mencionarmos o nosso maior fenômeno editorial dos últimos anos: Paulo Coelho.

Somando as estatísticas de todas suas obras, Paulo Coelho já vendeu mais de 100 milhões de livros em todo o mundo, quase o dobro do segundo colocado, Jorge Amado, com 55 milhões de livros vendidos.

Depois destes dois óbvios primeiros lugares, não há nenhuma informação conclusiva sobre quem ocuparia o terceiro posto entre os bestsellers brasileiros, mas nomes frequentes são Jô Soares, André Vianco e Augusto Cury, este último que transita, às vezes, entre auto-ajuda e ficção.

A verdade é que Literatura nunca foi um grande negócio entre os brasileiros, ou melhor, a Literatura nacional nunca foi um bom negócio, pois bestsellers estrangeiros geralmente causam mais furor em terras tupiniquins, como a histeria que pudemos presenciar em torno dos últimos volumes de Harry Potter ou da série "Crepúsculo".

Via de regra, um bestseller internacional fará muito mais sucesso e venderá muito mais livros no Brasil do que um bestseller nacional.

Bestseller e longseller, qual é a diferença?

Quando falamos em bestsellers, estamos nos referindo a um grande volume de livros vendidos num curto espaço de tempo.
No entanto, isto não quer dizer que um autor não possa vender muitos livros num longo intervalo de tempo, e isto é conhecido como longseller.

Quando se trata de Literatura, o Brasil possui muito mais longsellers do que bestsellers.
Muitos autores, e seus respectivos livros, podem demorar décadas até emplacarem o primeiro bestseller, se é que um dia conseguem esta proeza. Vários deles possuem vendagens relativamente pequenas, mas constantes, durante anos e anos.
Frequentemente, o segredo por detrás de um longseller são as compras governamentais, ou que os livros sejam adotados por escolas, universidades ou para vestibulares.
Alguns longsellers brasileiros são: Dalton Trevisan, Rubem Fonseca, Clarice Lispector, Érico Veríssimo, João Ubaldo Ribeiro, entre incontáveis outros nomes conhecidos, que às vezes até podem dar as caras nas listagens de mais vendidos, principalmente se ganharem algum prêmio importante ou se adaptarem algum livro deles para uma novela ou minissérie da Globo.
Mas a longevidade de suas obras não depende necessariamente de algum escândalo ou de um tema da moda, mas da qualidade da escrita e de muitos anos dedicados à carreira literária.

Os bestsellers nascem e morrem com uma rapidez incrível, os longsellers vieram para ficar (ou não).

Quem quer ser um bestseller?

Repito, Literatura nacional quase nunca é um bom negócio. Estima-se que aproximadamente 70% do que se publica em ficção no Brasil sejam traduções de obras estrangeiras. Nos EUA, apenas 3% dos livros publicados são traduções, a maioria das obras é de autores americanos, ou, pelo menos, de autores de língua inglesa.

Estamos diante de um mercado que não valoriza a prata da casa, que não dá a mínima para a produção literária nacional e que está interessado em obter o máximo de lucro no menor tempo possível.

Bem, ninguém disse que as editoras eram instituições filantrópicas! São empresas que oferecem produtos para atender à demanda de seus clientes.

São as editoras que tem aversão aos autores nacionais, ou são os brasileiros que não compram livros de escritores brasileiros?

Não há uma fórmula para o sucesso, assim como não há uma fórmula para conseguir publicar seu primeiro livro.
Cair nas graças do público e tornar-se um bestseller, ainda mais se você escrever ficção, é uma loteria: a cada milhões de apostadores, somente alguns tem o bilhete premiado.

Agora, para converter-se num longseller, é necessário muitíssima paciência e trabalho. Talvez demore anos para você começar a ver resultados, é preciso cativar leitor por leitor, mas, quem sabe um dia, sua carreira se estabilizará e perceberá que, de grãozinho em grãozinho, você realizou o seu sonho.

Pode não ser a trajetória mais gloriosa, mas será suada e honrada. Então, você se orgulhará de suas pequenas conquistas.

Fontes:
Publishnews
http://www.publishnews.com.br/telas/mais-vendidos/Default.aspx?cat=9
http://www.publishnews.com.br/telas/noticias/detalhes.aspx?id=67243

Gazeta do Povo
http://www.gazetadopovo.com.br/cadernog/conteudo.phtml?id=971058

Wikipedia: Bestseller
http://en.wikipedia.org/wiki/Bestseller

Sunday, July 01, 2012

Quer ser escritor? Então aprenda a escrever! - Dominando frases, parágrafos, ortografia, pontuação, verbos, adjetivos e advérbios


Juro que nunca deixo de me surpreender quando conheço algum pretendente a escritor que não sabe escrever.

Ninguém é obrigado a saber tudo, a conhecer perfeitamente todas as regras gramaticais e ortográficas, e até os grandes escritores ficam em dúvida, de vez em quando, como é a escrita correta de uma palavra ou outra. Além disto, existem erros de digitação ou de revisão, pois, como já diz o ditado, "errar é humano".
No entanto, geralmente é muito fácil perceber quando se trata de um deslize, ou quando se trata de desconhecimento mesmo das normas da Língua Portuguesa.

Não pretendo dar uma aula de português, pois para isto existem dezenas de gramáticas e referências na internet, capazes de sanar todas suas dúvidas. A minha intenção é ser muito mais prático, indicando-lhe alguns aspectos que você deveria prestar atenção durante a escrita.

Frases e parágrafos, ou como organizar seus pensamentos

A frase é a unidade mínima de expressão de uma ideia, que pode ser composta de uma única palavra, ou de várias, como:

"Vá!", ou

"João havia se perdido na mata, sem ter a mínima noção de como faria para retornar à trilha".

Nestas duas frases acima, temos a expressão de ideias completas. No primeiro caso, uma ordem foi dada por alguém para outra pessoa (ou animal) para que ela vá a algum lugar, no segundo, uma ideia mais complexa e elaborada.

É possível compor frases imensas, às vezes com várias linhas, e o grau de complexidade das frases dependerá de sua intenção enquanto escritor, mas também do domínio que você tiver do idioma e para quem se destinam seus textos.

Já os parágrafos podem ser compostos de uma ou mais frases, com uma ideia completa e, comumente, bem desenvolvida.
Na escrita literária, podem haver parágrafos bastante breves, especialmente em diálogos, ou parágrafos imensos, ainda mais em obras modernistas, às vezes com livros inteiros escritos num único parágrafo.

A extensão e sofisticação das frases e parágrafos podem ditar o ritmo de uma narrativa, tornando a leitura da história mais ligeira ou mais cerebral.

A não ser que você deseje se expressar obscura e confusamente, a meta de quase todos os escritores é que o leitor o compreenda da melhor maneira possível, evitando mal-compreendidos, ou, caso queira criar ambiguidade, fazendo-o propositalmente.

Ortografia, ou a escrita correta das palavras

A ortografia é uma convenção que determina qual é a escrita correta das palavras. Nem sempre houve um consenso quanto à ortografia e, até recentemente, as escritas no Brasil e em Portugal possuíam sutis particularidades.

Algumas palavras são difíceis mesmo de serem escritas, pois o português é uma língua difícil e com várias exceções ("exceção" é uma destas palavas que sempre causam confusão).

Existem várias palavras homófonas, isto é que, que possuem a mesma pronúncia, mas que podem ser escritas de maneiras diferentes, como:
"concerto" (Um concerto de Mozart), ou "conserto" (mandei meu carro para o conserto), ou
- "sessão" (de cinema, de teatro, de tortura...), "seção" (uma parte ou divisão, "seção de achados e perdidos") e cessão (ato de ceder, como "cessão de direitos autorais").


Também há palavras homógrafas, isto é, com a escrita igual, mas com sentidos diferentes, como:
- "pelo" (preposição, "ele ia pelo caminho"), ou "pelo" (substantivo, "o pelo do cavalo era branco"), ou
- "manga" (fruta), ou "manga" (da camisa ou da blusa).


Em se tratando de ortografia, as duas melhores recomendações para um escritor são:
1 - ler muito, pois através da leitura você enriquecerá seu vocabulário, aprenderá palavras novas e identificará as formas corretas delas e
2 - ter sempre um dicionário por perto, mesmo que você tenha de passar, a princípio, boa parte do seu tempo procurando as palavras para aprender a escrita correta delas. Um dicionário é um grande aliado de um autor.

Pontuação, ou determinando o ritmo da leitura


Pontuar bem é um dos maiores desafios para um escritor, seja ele um iniciante ou veterano. A utilização adequada das vírgulas, pontos, dois pontos e todos os demais sinais de pontuação são cruciais para determinar o ritmo da leitura. Veja dois exemplos abaixo:

1 - "Mas o canalha não era nenhum bundão. Ele começou a se debater, acertou uma cabeçada na minha boca e, muito mais jovem e forte do que eu, se libertou. Com o jogo invertido, ele me esmurrou, pisoteou-me e cuspiu na minha cara, encurralando-me cada vez mais no beco.
Juro que tive medo daquele homem, nariz ensanguentado e ódio no olhar. Roleta sacou uma faca, vinha em minha direção. Eu, no chão, me arrastava para trás, para fugir daquele assassino." (trecho de Roleta-Russa em O Covil dos Inocentes)

2 - "Por quantas pessoas não passamos pelas ruas sem nos darmos conta? Eu já havia estado naquele mercado uma dúzia de vezes apenas no último mês e não a havia visto antes. Será que havia sido recém-contratada ou eu simplesmente havia ignorado a mulher com colete vermelho, cabelos louros presos num rabo de cavalo e aquelas rugas ao redor de seus olhos azuis. Todos os dias, resvalamos em milhares de indivíduos, todos muito ocupados em seus afazeres, concentrados, rumo a algum lugar, indigentes, desocupados, idosos, crianças, gente que vem e que vai. Talvez até passemos por pessoas que já foram importantes em nossas vidas, mas estamos tão entretidos brincando de viver que nem desperdiçamos nossa atenção." (trecho de Margot Adormecida)

Nestes dois parágrafos, temos ritmos de escrita e de leituras completamente diferentes.
No primeiro, um romance policial, as frase são mais breves e dinâmicas, ainda mais nas cenas de ação; no segundo, as frases são mais longas e que exigem uma concentração maior do leitor. São propostas diversas para estilos literários distintos.
Isto não quer dizer que todo livro de ação deva ser escrito com frases custas, repletos de pontos-finais, ou que todo romance mais intelectual deva ter frases longas e rebuscadas, pois tudo dependerá da sua intenção.
O importante é compreender que a pontuação terá um papel fundamental no ritmo de sua narrativa.

Escrever como se fala, ou escrever da maneira correta?

Este é um debate cabeludo que sempre atrai defensores acalorados em ambas as frentes.

Imagino que você já deve ter percebido que não falamos exatamente como pregam as gramáticas, muita gente "vai no banheiro", "assiste um filme no cinema" e fizeram alguma coisa interessante "há muitos anos atrás".
A língua falada se transforma muito mais rapidamente do que a linguagem literária, palavras nascem e morrem, gírias são criadas ou caem em desuso, simplificamos e abreviamos, tudo para facilitarmos a comunicação.
No ato da escrita, existem duas vertentes principais:

1 - aqueles que gostam de escrever como falamos, com todos os erros gramaticais implicados nesta escolha, como em:


"Zé Carlos engatilhou a espingarda, abriu uma fresta na porta e espiou.
— O bicho ‘tá lá fora, Maria! — ele tremia.
— Deixa, Zé. Aqui dentro ele não faz nada... — Maria, incerta." (trecho de O Bicho Roncador)

2 - aqueles que gostam de uma escrita literária artificial, como em:

"Fui iludido. Não há hostes celestiais para me receber no paraíso; não há som de trombetas. Não há nada. Um vazio me invade; um vazio mais forte que o amor. Estamos perto do fim. Acredito que, se alguém um dia se lembrar de mim, ele possa aprender uma lição: toda profecia, cedo ou tarde, se realiza." (trecho de O Rei dos Judeus)

Em essência, nenhuma das duas está certa ou errada. Pense na Literatura como um universo regido por leis próprias, onde você, o escritor, é o Deus supremo e absoluto, que cria tudo de acordo com sua vontade.
Uma escrita mais próxima da linguagem falada pode, por um lado, criar uma identificação maior com o leitor, no entanto, por outro, pode também causar certo estranhamento. Leia os contos ou romances de Guimarães Rosa, com diálogos extraídos da linguagem única do sertão, e perceba quão realistas e, ao mesmo tempo, literários eles são. Já uma escrita mais rebuscada e arcaica também pode soar estranha, pois ninguém fala assim na vida real.
Para mim, o ideal é caminhar no meio termo, tentando equilibrar estes dois extremos.

Verbos, ou o poder da ação

A melhor maneira para expressar bem uma ação é escolhendo o verbo apropriado para isto. Esta não é uma tarefa muito simples, confesso, pois ao tentarmos ser muito inventivos, podemos recair na cafonice.

Para diálogos, existem uma porção de verbos dicendi, ou seja, verbos declarativos, como: disse, falou, respondeu, replicou, interveio, perguntou, questionou, redarguiu, indagou, comentou, admoestou, e assim por diante. Apesar de a lista ser longa, o recomendável é não abusar demais.

Leia o exemplo abaixo e me diga o que pensa:

— Maria, aonde você pensa que vai? — indagou Pedro.
— Isto não lhe interessa! — retrucou ela.
— Mas eu sou seu marido. Você me deve satisfações! — replicou Pedro.
— Marido, sim... Meu dono, não! — redarguiu Maria.
— Não me desrespeite, mulher — admoestou-a o esposo.


Os verbos dicendi, nesta situação acima, mais atrapalham do que colaboram para a dinâmica do diálogo. Na minha opinião, seria melhor restringir-se somente a "disse", "perguntou" e "respondeu", ou, o que seria ainda melhor, sem nenhum verbo declarativo, como abaixo:

— Maria, aonde você pensa que vai? — indagou Pedro.
— Isto não lhe interessa!
— Mas eu sou seu marido. Você me deve satisfações!
— Marido, sim... Meu dono, não!
— Não me desrespeite, mulher.

Você conseguiu entender bem o diálogo sem os verbos? Perceba que mantivemos o primeiro verbo para identificarmos o nome do marido, pois talvez fosse uma informação importante no contexto, caso a discussão prosseguisse.

No entanto, em narração, um verbo bem escolhido é o segredo do poder de uma oração.

Por exemplo:

"Um terrível acidente. Ele passou por cima do colega com o rolo compressor."

O verbo "passou" é extremamente ameno, retirando boa parte do impacto da cena. Releia agora este trecho com outro verbo:

"Um terrível acidente. Ele esmagou o colega com o rolo compressor."

Esmagar é muito mais gráfico e chocante, ainda poderíamos ter escolhido "triturar", "esmigalhar" ou até "pulverizar", que já seria um pouco exagerado, a meu ver.

A escolha dos verbos deve ser consciente, mas com parcimônia. Quando o esforço é demasiado, é fácil exagerar e perder a mão. Novamente, o equilíbrio é o melhor caminho.

O Perigo dos Adjetivos e Advérbios

Adjetivos são as qualidades dos substantivos, por exemplo: feio, gordo, magro, alto, baixo, triste, escuro, liso, opaco, raso, e assim por diante.
Advérbios são palavras que modificam os substantivos, os verbos ou os adjetivos, como rapidamente, felizmente, depressa, realmente, aqui, ali, depois, quase, sim, não, muito, entre tantos outros.

O uso excessivo de adjetivos e advérbios num texto é tentador, que seduz facilmente os escritores iniciantes e muitos veteranos.

Leia o exemplo abaixo:

"O opulento e poderoso senhor de engenho oprimia demasiadamente os enfraquecidos escravos negros, que se recolhiam macambúzios à obscura senzala após um duro e longo dia de labor."

São tantas informações, tantos adjetivos e advérbios numa única frase, que quase queremos desmaiar após lê-la.
Escrever bem não é a mesma coisa que escrever muito, ou escrever longas e complicadas frases.

Escrever bem é expressar bem uma ideia. Às vezes, precisaremos de várias frases e parágrafos para isto, mas, em outros casos, basta uma única palavra.

Conclusão

A escrita é um exercício.

Quanto mais praticarmos, maior será o domínio sobre ela, mais cômodos ficaremos e melhor a compreenderemos.

Ter dúvidas, questionamentos ou errar não são motivos para vergonha. Deveria ter vergonha aquele escritor que não reconhece que a escrita é um aprendizado perpétuo, que depende de tentativa e erro, da leitura de outros autores e da revisão constante de seus próprios trabalhos.

Escrever é refinar-se, trabalhar conscientemente com as palavras, escolhendo-as como quem seleciona pedras preciosas para serem lapidadas. É um labor demorado, mas recompensador para aquele autor dedicado.

Talvez demore anos até que você comece a ficar satisfeito com suas obras, no entanto, estudar, ler e escrever muito e sempre são essenciais.

Saturday, June 23, 2012

A Pirataria e a Cultura da Desonestidade


Você é um criador cultural? Um escritor, um músico, um cineasta ou um fotógrafo? Ganha dinheiro com o que faz ou pretende ganhar um dia?


Então talvez esteja na hora de começar a se preocupar um pouco com a pirataria digital.


O que é a pirataria?




Existem vários tipos de violação de direitos autorais, como plágio, criação de obras derivadas (como fan-fictions), alterações de obra artística, traduções sem autorização do autor e, obviamente, a distribuição ou reprodução de uma obra sem autorização do autor.


Quando utilizamos o termo "pirataria", geralmente nos referimos especificamente à reprodução e distribuição não-autorizadas, com ou sem fins lucrativos.


Vejamos alguns exemplos:

1 - uma banda lança um CD, que custa numa loja R$ 19,90.
Alguém faz cópias deste CD e vende na rua a R$ 9,90. Isto é pirataria!
Ou outra pessoa converte este CD em MP3 e distribui gratuitamente pela internet. Isto também é pirataria.

2 - é lançado um filme no cinema ou em DVD/Blu-Ray.
Alguém grava com uma câmera amadora o filme na sala de cinema ou faz cópias da mídia, revendendo. Isto é pirataria.
Ou alguém disponibiliza o vídeo online, mesmo que seja gratuitamente. Isto também é pirataria.

3 - um escritor lança um livro.
Alguém digitaliza o livro e disponibiliza gratuitamente na internet. Isto é pirataria.
Um professor universitário fotocopia este livro e o distribui para seus alunos. Isto também é pirataria.

Qualquer reprodução ou distribuição não-autorizada é uma violação dos direitos autorais e, quase sempre, prejudica os produtores culturais.

A Cultura da Desonestidade


Antes de tudo, as pessoas pensam que cultura deve ser gratuita e acessível universalmente. Este é um ideal muito belo, se abstrairmos que o artista também precisa comer e pagar as contas.

Cada cópia pirata de uma canção, de um filme, de um livro ou de uma imagem são tostões a menos no bolso de quem criou, mas também de toda uma indústrial cultural que permitiu a veiculação daquele produto cultural.

A pirataria não enfraquece apenas o sustento do artista, mas também de uma estrutura criativa que permite o surgimento e a divulgação de outros artistas. Por mais excludente que a indústria cultural seja, deixando de lado grandes talentos que não se encaixem em seus projetos mercadológicos, boa parte da qualidade da cultura depende das grandes produtoras de música e cinema, e também das grandes editoras.


A pirataria sempre existiu. Paralelamente aos canais oficiais de produção e distribuição cultural sempre houve os meios clandestinos, basta nos recordarmos de uma época não tão distante, com fitas cassete e VHS. Mas a proporção era infinitamente menor.
Todavia, na era digital, tornou-se mais fácil copiar e distribuir ilegalmente conteúdo, ao ponto de abalar profundamente as produtoras culturais.

Reúna a internet a uma cultura da desonestidade, onde prevalece a lógica da malandragem e de sempre tirar vantagem em tudo, e não é difícil prever as consequências. O Brasil é um dos países onde mais se violam direitos autorais no planeta e há toda uma indústria clandestina da pirataria, que envolve desde a máfia chinesa até a dona de casa que baixa uma canção pirata na internet.
Cada um de nós, ao reproduzirmos e distribuirmos produtos piratas, também estamos contribuindo com nossa cota de desonestidade, ao mesmo tempo em que indiretamente afirmamos que o trabalho do artista não tem valor algum e que, por isto, não merece ser remunerado.

Queremos ver filmes, ouvir músicas, ler livros, ver fotos, mas não queremos pagar por isto.

Alguns mitos sobre a pirataria


1 - não é crime, porque não estou prejudicando ninguém

Sim, você está prejudicando muita gente. Por detrás daquele MP3, daquele filme ou daquele livro pirateado, não existem somente os artistas, existem vários profissionais especializados que também são responsáveis pelo sucesso da obra.
Ao roubar o produto do trabalho deles, pois isto é uma espécie de roubo, você está comprometendo o sustento de todos estes profissionais.

Imagine a seguinte situação: você é um agricultor e planta tomates. Certo dia, alguém entra em sua propriedade sem sua autorização e colhe metade da sua plantação para distribuí-la gratuitamente para as pessoas carentes, pois alimento deveria ser um direito de todos. Isto é roubo ou não é?

2 - o artista pode ganhar dinheiro de outras maneiras

Em alguns casos sim, em outros não.

Um músico ainda tem a opção de tocar em shows ao vivo, mas como um escritor vai ganhar dinheiro se não através dos livros que vende?

Mesmo assim, performances ao vivo são bastante limitadas, a vendagem de um livro, canções, ou DVDs é virtualmente ilimitada, pois podem ocorrer simultaneamente em vários países do mundo, em vários idiomas diferentes, e também por tempo ilimitado. Um show tem uma duração de uma ou duas horas, uma canção, um romance ou um filme pode durar séculos.

É óbvio que o artista pode ganhar dinheiro de outras maneiras: arranjando um emprego convencional fazendo um concurso público, por exemplo.
Mas a extinção de uma classe de artistas profissionais também pode representar o fim de obras de artes com qualidade superior, feitas por gente competente e que dedica sua vida exclusivamente a este ofício.

3 - só estou ajudando a divulgar a obra do artista

É nesta hora que vem o papo altruísta que reprodução indevida não é um crime, mas sim uma maneira para ajudar a divulgar o trabalho do artista.

A melhor maneira para divulgar o trabalho de alguém é comprando-o e falando para os outros comprarem-no. Não copiando-o sem autorização, pois além de não ajudar tanto assim a divulgar o artista, ainda o estará prejudicando.

4 - a pirataria só afeta os artistas famosos que ganham milhões

Quanto mais um trabalho artístico estiver em visibilidade, maior será o interesse em pirateá-lo, isto é um fato.
No entanto, não são apenas os grandes nomes do mundo artístico que sofrem com a pirataria. Autores em ascensão também são alvo deste crime e, para eles, as consequências são ainda piores.

Que um artista milionário seja afetado por uma queda na parcela de venda de seus discos, livros ou filmes, é uma coisa. Ele continuará milionário.
Mas que um artista em início de carreira perca toda a possibilidade de se consolidar numa carreira artística, somente porque algum espírito de porco está distribuindo gratuitamente suas obras, tirando assim a comida de sua boca, isto é ainda mais imperdoável.

Como evitar a pirataria?

Ainda não existem respostas simples para esta questão.

A primeira, e mais demagógica, seria ensinar as pessoas a respeitarem a propriedade intelectual alheia, a darem valor a sua classe artística, a serem honestas. Contudo, isto é uma quimera, pois a nossa malandragem nata continuará impelindo-nos a baixar e a distribuir produtos culturais piratas, inevitavelmente.

O que resta é que os próprios produtores culturais se previnam e tentem proteger suas obras, com as seguintes medidas:

1 - faça buscas constantes no google com os títulos de sua obra, mais o formato do arquivo (como .MP3, .PDF, .JPEG ou formatos de vídeo).
Caso você encontre algum resultado genuíno, pois existem vários sites que simulam resultados falsos para forçar uma assinatura, você tem as seguintes medidas:

a - contatar o Digital Rights Management do google para retirar aquele link dos mecanismos de busca, através do seguinte formulário:

https://www.google.com/webmasters/tools/dmca-notice?pli=1&&rd=1

através do qual você deve informar seu nome, que tipo de conteúdo está sendo pirateado, qual é o link do conteúdo pirata e qual é o link do conteúdo de origem.

O google resolve este tipo de casos rapidamente, muitas vezes em menos de 24 horas.

b - ver onde o conteúdo está hospedado, como 4shared ou algum outro site de compartilhamento de arquivos, e denunciar o conteúdo, informando que você é o detentor dos direitos autorais. O 4shared resolve este tipo de problemas com uma rapidez incrível.

c - contatar o próprio usuário, pedindo que ele retire o conteúdo do ar. No entanto, isto só funciona com sujeitos desavisados, geralmente pessoas que estão distribuindo o arquivo sem maldade. Se você estiver lidando com um malandro, então pode ter sérias dores-de-cabeça.


2 - distribua seu conteúdo gratuitamente, licenciado em Creative Commons ou totalmente livre em Copyleft. Se você não quiser se preocupar nem um pouco com a pirataria, simplesmente produza e distribua suas obras sem esperar lucro.
Há grandes chances que você continue um artista diletante pelo resto de seus dias, ou até consiga ganhar uns trocados com anunciantes, mas pelo menos não se aborrecerá.
E, pela minha experiência, ninguém tem interesse em piratear o que já é de graça, o que ressalta a minha teoria que os piratas não dão a mínima para cultura gratuita e livre para todos; querem apenas sacanear aqueles com talento e que conseguem ganhar alguma coisa com isto.

Conclusão

Qualquer artista ou produtor intelectual sério corre o risco de ver sua obra pirateada. E, enquanto não houver uma alternativa factível para lucrar com os produtos culturais além da venda de canções, livros, imagens ou vídeos, a pirataria é um problema crucial que deve ser considerado.

Basta um pouco mais de visibilidade, ou produzir alguma obra muito interessante, que fatalmente aparecerão os desonestos, fundados em ideais hipócritas, para tentar prejudicá-lo.

Os piratas digitais não querem um mundo livre e democrático, nem cultura acessível a todos; eles desejam somente prejudicar alguém que tem um talento que eles jamais terão.

O primeiro passo deve ser dado na própria casa, começando por nós mesmos. Você baixa sem autorização livros, músicas, filmes ou fotos protegidas por copyrights? Então você também faz parte deste sistema destrutivo!

Pois saiba que, se você é um artista e um dia fizer sucesso, você poderá ser o próximo alvo da pirataria digital.
E uma vez que sua obra cai na rede, não tem mais volta...
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