Tuesday, October 10, 2006

3 Dicas para rejeição

Rejeição é parte da vida do escritor. Qualquer um que quiser se tornar um escritor deve aprender a lidar corajosa, graciosa e freqüentemente com a rejeição.


Três dicas para lidar com rejeição:

1. Ria das suas rejeições.
2. Aprenda com elas.
3. Sempre tenha um novo projeto na manga, algo que lhe dará esperança, não importando quantas rejeições receba pelo projeto anterior.

Você pode obter algum consolo ao conhecer o histórico de rejeição destes autores e destas obras:

Duna, de Frank Herbert - 13 rejeições

Harry Potter e a Pedra Filosofal - 14 rejeições

Auntie Mame, de Patrick Dennis – 17 rejeições

Fernão Capelo Gaivota – 18 rejeições

Uma Dobra no Tempo, de Madeline L’Engle – 29 rejeições

Carrie, a Estranha, de Stephen King – mais de 30 rejeições

E o vento levou..., de Margaret Mitchell – 38 rejeições

Tempo de Matar, de John Grisham – 45 rejeições

Louis L’Amour, autor de mais de 100 romances policiais – mais de 300 rejeições
antes de publicar seu primeiro livro.

John Creasy, autor de 564 romances policiais - 743 rejeições antes de publicar seu primeiro livro.

Ray Bradbury, autor de mais de 100 romances de ficção científica e contos - por volta de 800 rejeições antes de vender sua primeira história.

The Tale of Peter Rabbit, de Beatrix Potter – tantas rejeições que a autora decidiu publicar por conta própria.

Trecho da rejeição à Revolução dos Bichos, de George Orwell

"É impossível vender histórias de animais nos EUA"

Trecho da rejeição para Norman MacLean’s A River Runs Through It:

"Estes contos tem árvores nele..."

Trecho de rejeição de um artigo, enviado ao San Francisco Examiner, para Rudyard Kipling:

"Sinto muito, Sr. Kipling, mas você simplesmente não sabe como usar a língua inglesa".

Trecho da rejeição ao Diário de Anne Frank:

"A garota não possui, ao menos para mim, uma percepção ou sentimento especial que possa tornar o livro algo além de mera curiosidade".

Trecho de rejeição para And To Think That I Saw It on Mulberry Street de Dr. Seuss:

"Muito diferente de outras obras juvenis disponíveis no mercado para garantirmos algum sucesso".

Rejeição de um econômico diário chinês:

"Nós lemos seu manuscrito com incomensurável deleite. Se nós publicássemos sua obra, seria impossível publicar no futuro qualquer obra inferior. E, como é impensável que nos próximos mil anos vejamos algo semelhante, nós somos obrigados, a contragosto, a devolver esta divina criação e implorar milhares de vezes que nos perdoe por nossa curta visão e covardia".

Fonte: http://www.writingclasses.com/InformationPages/index.php/PageID/341

12 dicas de George Orwell

Um escritor dedicado deve, em cada frase que escreve, se questionar, pelo menos, em quatro aspectos:

1 - O que estou tentando dizer?

2 - Com quais palavras eu expresso isto?

3 - Qual imagem ou linguagem o tornará mais claro?

4 - Esta imagem é inovadora o suficiente para ter algum impacto?


E ele provavelmente fará duas outras questões:

1 - Eu posso encurtar isto?

2 - Eu escrevi algo que é inapropriadamente desagradável?

Alguém pode ficar freqüentemente em dúvida sobre o impacto de uma palavra ou frase, e pode precisar de algumas regras quando o instinto falha. Eu penso que as seguintes regras resolvem a maioria dos casos:

1 - Nunca use uma metáfora, símile ou outra figura de linguagem à qual você está habituado a encontrar já publicada.

2 - Nunca use uma palavra longa quando houver uma curta disponível.

3 - Se houver a possibilidade cortar uma palavra, corte-a.

4 - Nunca use um verbo no modo passivo quando puder usá-lo no ativo.

5 - Nunca use uma expressão estrangeira, termo científico ou jargão, se você puder encontrar um correspondente em seu próprio idioma.

6 - Quebre qualquer uma destras regras antes de escrever algo claramente hediondo.

George Orwell

fonte: http://www.writingclasses.com/InformationPages/index.php/PageID/300

Tuesday, October 03, 2006

Entrevista com Max Mallmann

Entrevista realizada com o escritor Max Mallmann pelos membros da comunidade, entre os dias 03/09 e 18/09 de 2006.

Max Mallmann, nascido em 1968, em Porto Alegre (RS). Em 1997, recebeu o prêmio Açorianos, concedido pela secretaria de cultura de sua cidade natal. Seu romance Síndrome de quimera, publicado pela Rocco, foi finalista do prêmio Jabuti em 2001 e foi vendido em 2003 para uma editora francesa, a Éditions Joëlle Losfeld. Zigurate – Uma fábula babélica é o quarto livro de sua carreira como escritor, iniciada em 1989. Casado com a também escritora Adriana Lunardi, Max Mallmann atualmente mora no Rio de Janeiro e trabalha como roteirista da TV Globo – são dele a novela "Coração de estudante" (2002) e episódios da soap opera adolescente "Malhação" (2001/2002).

1 - Henry Alfred Bugalho: Como você percebe a carreira do escritor no Brasil do século XXI? Ainda é um horizonte para desbravadores ou um escritor já pode viver do seu ofício?

Max Mallmann - Acho que, em primeiro lugar, é um exercício de teimosia. É escritor quem quer muito escrever. Afinal, se fosse pra ficar rico, seria mais vantajoso trabalhar na Bolsa de Valores. Se fosse pra ficar famoso, a carreira mais segura é a de pagodeiro.
São poucos, muito poucos, os escritores brasileiros que vivem exclusivamente da literatura, isto é, que têm, como fonte de renda principal, os direitos autorais da venda de livros. A maioria dos profissionais da literatura paga suas contas com o trabalho em áreas afins: alguns são jornalistas ou publicitários, outros são professores ou tradutores, outros escrevem roteiros para a TV, que nem eu.

2 - Erik "Ás": Quantas horas diárias o Senhor dedica ao ato de escrever?

Max Mallmann - Não precisa me chamar de senhor, tá? Fico me sentindo um tio...
A maior parte do meu dia é dedicada ao trabalho de roteirista. Há um ano, faço parte da equipe que escreve "A grande família", e isso ocupa tempo. Mas venho escrevendo um romance novo e, sempre que posso, viro a noite trabalhando nele. Faço isso duas ou três vezes por semana.

3 - W. Gorj: Quais foram as piores críticas e as melhores que o senhor já recebeu como autor?

Max Mallmann - Essa é difícil.
Já tive resenhas na Folha, no Estadão, no Globo, no JB, na Zero Hora... Já disseram que meu trabalho é delirante, corajoso, kafkiano, e há quem tenha escrito que um de meus livros "corre o risco de sobreviver", ou seja, de ficar para a posteridade. Tudo isso anima, incentiva, envaidece. Uma vez, uma professora me acusou de só criar personagem mau-caráter. Era pra ser uma crítica negativa, mas eu também gostei.
Mas, acredito, a crítica literária mais útil que recebi foi quando, aos quinze anos de idade, apresentei uma novelinha policial (minha primeira e para sempre inédita novela) a uma editora de Porto Alegre. O dono da editora me disse que, dos originais examinados nos últimos meses, o meu até que era dos melhorzinhos, mas, mesmo assim, não tinha valor literário e não poderia ser publicado.
Esse editor me disse para ler muito e não ter pressa em publicar. E meu deu de presente o "Ficções", do Jorge Luis Borges, que acabava de ser lançado no Brasil. Foi uma lição valiosa.
Passaram-se mais de vinte anos e acho, ou pelo menos, espero, ter melhorado muito como escritor.
A novelinha que escrevi aos quinze anos não foi e nunca vai ser publicada.

4 - Henry Alfred Bugalho: Qual o papel da literatura? É arte, entretenimento ou alguma outra coisa?

Max Mallmann - A boa literatura acaba sendo arte E entretenimento. Pode ser um entretenimento mais ou menos sofisticado ou uma arte mais ou menos "artística", mas me parece que todo escritor pretende realizar um trabalho que seja original, inovador, importante, mas que também consiga segurar o leitor até a última página.
Existe outra coisa? Bom, acho que existe, porque não é o desejo de ser artista ou a necessidade de agradar o leitor que nós motiva a escrever. É um algo mais, uma pulsão indefinível, uma mania, uma neurose ou seja lá qual for o nome que se queira dar àquilo que costuma ser chamado de "vocação".

5 - Aline Ponce: O que te deu a certeza de que deveria insistir na carreira literária? O prêmio Açorianos, a publicação do primeiro livro, ou nada disso?

Max Mallmann - Comecei a escrever quando garoto e continuei desde então porque... Por que, mesmo? Não sei responder - ou, melhor dizendo, sei responder de várias maneiras, mas todas são racionalizações, algumas elaboradas no divã da psicanalista; nenhuma dessas respostas é a verdadeira, ou talvez todas sejam. Escrevo porque gosto e porque escrever é parte da minha vida. Se ninguém agüentasse ler o que escrevo, ficaria muito deprimido, mas continuaria escrevendo.

6 - Henry Alfred Bugalho: Como você descreveria sua experiência como roteirista de TV?

Max Mallmann - Tenho orgulho de ser roteirista. Sou, inclusive, um dos sócios fundadores da Associação Brasileira de Roteiristas (a "AR").
É um trabalho que às vezes pode ser estressante, mas é também muito divertido.
Hoje, me considero, em porções iguais, tanto roteirista quanto escritor. E gosto de dizer que, afinal de contas, pago minhas contas contando histórias.
Existem, claro, muitas diferenças entre a atividade do roteirista e a do escritor. As técnicas são outras. Eu diria que é mais ou menos como tocar piano ou tocar violino: nos dois casos, trata-se de música, mas cada instrumento exige um aprendizado próprio.

6 - Rafael de Leon: Max, aproveitando que você disse que se sente no começo da carreira, gostaria de saber como você se relaciona com a literatura dos outros escritores que também estão no início. Em outras palavras: você compra E lê livros de novos escritores ou só fica nos clássicos?

Max Mallmann - Compro o que aparece e leio na medida do possível. Sabe como é, né? A pilha de livros "a ler" aumenta a cada dia. Estou menos atualizado do que gostaria, até porque há quase um ano venho lendo prioritariamente livros relacionados ao romance que estou escrevendo: história militar da Antigüidade, historiadores romanos...
Do pessoal mais da minha geração, tenho acompanhado o trabalho do Milton Hatoun, da Cíntia Moscovich, do Luiz Ruffatto e, claro, da Adriana Lunardi. Também já li alguma coisa da Mara Coradello e do Flávio Medeiros, que publicou seu primeiro romance este ano.

8 - W.Gorj: Você lapidou sua escrita sozinho ou teve para isso a ajuda de oficinas literárias e livros devotados a técnica de escrever (quais?)?

Max Mallmann - Olha, sei que existem alguma manuais de escrita, mas não recomendo, não. Quanto às oficinas literárias, elas ajudam, podem ser um bom exercício, mas não "formam" escritores.
Por outro lado, ninguém aprende a escrever sozinho. Ler um pouco de Machado de Assis, um pouco de Guimarães Rosa e um pouco de Clarice já equivale a um curso de escrita em português. Ler os dois Veríssimos, o pai, para ter uma noção de narrativa épica, e o filho, para pegar o timing do humor e dos diálogos. Ler poesia, mesmo sem gostar de poesia, para "amolecer" a frase e pegar noção de ritmo. Ler Borges, ler Cortázar, ler Calvino, ler Dom Quixote... Ler. É lendo que a gente aprende a escrever.

9 - Erik "Ás": Qual(is) o(s) livro(s) que sempre relê?

Max Mallmann - "Ficções" do Borges e "Contos do grotesco e do arabesco", do Poe.

10 - Aline Ponce: Quem é seu grande ídolo na Literatura e até que ponto ele influenciou suas obras?

Max Mallmann - Não tenho um grande ídolo, mas fui influenciado por um monte de gente: Jorge Luis Borges, por exemplo, ou Monteiro Lobato, e também, devo dizer, Carl Barks.
Quem é Carl Barks? É o criador do Tio Patinhas, e principal argumentista e ilustrador das histórias do Pato Donald...

11 - Henry Alfred Bugalho: Como você determina qual o próximo assunto para um romance? Ele simplesmente ocorre ou você precisa pesquisar e cavar para obter algo?

Max Mallmann - O assunto ocorre meio por acaso, a partir de uma imagem mental, de uma idéia ou conceito vago. "Síndrome de quimera" nasceu a partir do protagonista, que é um homem que tem uma serpente enrolada no coração. "Zigurate" veio da minha vontade de falar da imortalidade das palavras, em oposição à fragilidade humana.
E o romance que estou escrevendo agora é, de certa forma, minha resposta ao 11 de Setembro. O ataque às Torres levou muita gente, eu, inclusive, a pensar no império da Antigüidade mais parecido com o império americano: Roma. Daí comecei a ler Suetônio, Tácito, Plutarco... E uma história começou a surgir.
A propósito, Henry, vi que nós dois compartilhamos o interesse pelo Império Romano, não é?

12 - Lehgau-Z: Na sua opinião, “Brunas surfistinhas” são literatura?

Max Mallmann - Cara, aí depende da definição de literatura.
Até onde sei, o livro da Bruna Surfistinha é o resultado de vários depoimentos que a moça deu a um repórter. Daí, talvez o mais correto fosse classificá-lo como texto jornalístico, em vez de literatura. Mas (os rapazes do "New Journalism", como Tom Wolfe e Truman Capote estão aí pra provar), de vez em quando o jornalismo e a literatura se confundem. É o caso da Surfistinha? Não sei. Não li.
De qualquer modo, acho bom que existam livros que vendem muito, sejam quais forem. Eles injetam dinheiro no mercado editorial, e isso é importante num país como o nosso.

13 - Henry Alfred Bugalho: Falando em Borges: Parece haver uma distinção bastante clara entre a literatura brasileira (e também a chilena) em comparação ao restante do que se faz na América Latina. O público brasileiro parece estar mais acostumado, e gostar mais também, a romances realistas aos moldes jornalísticos (aproveitando o gancho do Lehgau-z); como você percebe a recepção do realismo mágico entre os leitores, já que, ao menos em Zigurate, você demonstra uma forte relação com este movimento?

Max Mallmann - Acho que não é o público brasileiro que está acostumado aos romances de cunho realista, são os escritores brasileiros que, em sua maioria, preferem seguir esse caminho. Basta lembrar que os grandes expoentes do realismo mágico, como Gabriel Garcia Marquez ou Cortázar, sempre foram muito apreciados por aqui, assim como o Kafka, mestre de todos os fantásticos. E muitas gerações de brasileiros cresceram lendo Monteiro Lobato, que é fantasia pura, assim como também é o Harry Potter, paixão das crianças de hoje. E mesmo Paulo Coelho, autor que mais livros vende no Brasil, escreve algo aparentado ao realismo fantástico.
De minha parte, posso dizer que nunca enfrentei nenhum tipo de preconceito. Mas, devo confessar, não costumo escrever literatura pensando no público. Faço isso como roteirista, claro; como escritor, me deixo livre para seguir minhas vontades, caprichos e neuras.

14 - Marlon Magno: Max, você falou do hábito e do Borges. Até que ponto suas leituras influenciam imediatamente o que você escreve e em que medida o hábito consegue sanar seus vícios? Quero dizer, é difícil se distanciar do que produzimos quando nos dedicamos muito a um texto. Claro que dedicação nesse trabalho é tudo, mas como é essa sua auto-crítica?

Max Mallmann - Tudo o que leio influencia direta e imediatamente o que escrevo. E eu nem tento lutar contra isso; deixo acontecer.
Quanto a auto-crítica, bom... Acho que, para crescer como escritor, o mais importante é odiar a si mesmo. Eu, cá entre nós, não gosto muito do que escrevo. Me acho tosco. Não sou o melhor escritor nem daqui de casa: a Adriana Lunardi, minha mulher, é infinitamente superior. "Vésperas", o segundo livro de contos que ela publicou, foi lançado no Brasil pela Rocco e já foi publicado na França e em Portugal. Até o final do ano, será lançado na Argentina. E, agora em setembro, sairá na Croácia. A Adriana que é uma escritora de verdade. Só que, quando digo isso, ela ri de mim, porque é tão neurótica quanto eu.
Resumindo minha opinião: a autoconfiança é a morte do escritor. Se você se acha bom, você já era.

15 - W.Gorj: Alguma vez você já pensou em largar a profissão de escritor (por desânimo, dúvidas quanto ao prórpio talento, esgotamento criativo, etc.) e se aventurar em outro ramo?

Max Mallmann - Se "ser escritor" fosse uma profissão, talvez eu a tivesse abandonado (ou sido demitido, vá saber). Mas, no meu caso, ao menos, não é profissão: é uma condição de vida. A opção é viver e escrever, ou não escrever e não viver. Daí que vivo e escrevo. Não com a fúria de quem supôe ter algo a dizer, não com a gana de pulicar blogs e fanzines, mas com a certeza de que vivo para escrever e escrevo porque estou vivo. Tornei-me roteirista por conta disso, para pagar o aluguel com um trabalho que me desse um mínimo de prazer. Antes, por uns bons dez anos, mourejei em outros empregos que não tinham nada a ver com o exercício da escrita, mas nunca parei de escrever.

16 - Leonardo: Max, sobre o planejamento de seus romances: o quanto você esquematizou e estruturou antes de começar a escrevê-los? Houve grandes alterações no enredo no decorrer do processo de escrita ou manteve-se fiel a aquilo que havia planejado no princípio?

Max Mallmann - Depois de muito pensar no enredo, começo a tomar notas no computador. Para mim, tão importante quanto bolar uma história é decidir "como" ela será contada: em primeira pessoa, em terceira pessoa, em ambas, alternadamente... Cada história pede o seu formato.
Quando começo a escrever, sei o começo, o final e algumas coisas que acontecerão pelo meio. Mas é um esquema vago, nebuloso, que irá se tornando mais nítido a medida em que o texto avança.

17 - Aline Ponce: Como foi seu primeiro contato com as editoras? Chegou a enviar originais pelos Correios? Já conhecia alguém da Rocco que te indicou? Esperou muito tempo por uma resposta?

Max Mallmann - Na pergunta número três, do W. Gorj, já mencionei meu primeiro contato com uma editora. Eu tinha quinze anos, apresentei uma bem intencionada, mas horrorosa novela policial à uma editora de Porto Alegre e fui rejeitado. Essa recusa me ensinou que, mais importante que publicar, é escrever. E, mais importante que escrever, é ler.
Bom, depois desse episódio, já com respeitáveis dezenove anos de idade, escrevi um romance e resolvi me inscrever num concurso do Instituto Estadual do Livro do Rio Grande do Sul. Fui um dos ganhadores, e o livro saiu um ano depois, em 1989.
Depois disso, entrei em crise. Talvez eu tenha publicado cedo demais. Não gostava do meu trabalho, queria fazer algo melhor, algo "mais importante". Levei sete anos para escrever um segundo romance.
Nesse meio tempo, fui convidado para um seminário de jovens escritores em Mollina, uma pequena cidade perto de Málaga, na Espanha. Foi muito divertido. Assisti a palestras de gente graúda, como o Saramago e o Wole Soynka, prêmio Nobel de Literatura de 1986.
Pouco depois, entrei em outro concurso, desta vez o Fumproarte, da Prefeitura de Porto Alegre. Venci o concurso; e meu segundo livro saiu em parceria entre a Prefeitura e uma editora local, a Mercado Aberto.
Depois disso, eu já estava meio cansado de concursos.
Nesse meio tempo, vim morar no Rio de Janeiro e me profissionalizei como roteirista de TV, mas continuei fazendo literatura.
Em 1999, eu tinha outro romance pronto. E foi então que decidi procurar alguma editora grande no Rio de Janeiro para publicá-lo.
Comecei a me informar e fiquei sabendo que a Rocco é, dentre as grandes, a editora mais aberta a novos autores. Telefonei para lá e marquei uma hora. Fui recebido porque, afinal, já não era um anônimo absoluto: ao menos em Porto Alegre, eu era razoavelmente conhecido. Cheguei, me apresentei e entreguei, junto com uma cópia do “Síndrome de quimera”, o meu currículo e um pequeno portfólio com resenhas que haviam saído sobre meus livros anteriores. Dois meses depois, tive uma resposta positiva, e o livro foi publicado no ano seguinte. Foi rápido? É, foi. Mas, se você levar em conta que estou nessa batalha desde 1983...

18 - Henry Alfred Bugalho: Como você percebe o papel da internet na descoberta de novos autores? Quais são, na sua opinião, as qualidades e os defeitos da literatura que tem surgido no mundo virtual?

Max Mallmann - Sou um pouco anterior à geração "internética" e, devo confessar, tenho certa inveja das facilidades que essa nova mídia trouxe aos escritores mais jovens. Há uns dois anos, até criei um blog, só para desovar umas besteirinhas e uns textos inacabados, mas não tive paciência de mantê-lo atualizado. Acabou-se meu estoque de inacabados e besteirinhas.

Acho que a internet é um grande meio para divulgar novos talentos. Aplaudo os autores blogueiros e os editores que se aventuram a fuçar nos blogs.

De modo geral, percebo que muitos dentre os autores blogueiros produzem textos autobiográficos, ou quase isso, e gostam de Bukowski e John Fante. Isso é bom? Depende, né? Haverá blogueiros bons e blogueiros ruins, porque, em tudo na vida, há o bom e o ruim.

19 - W.Gorj: O que você tem a dizer sobre as editoras que publicam por demanda? Na sua opinião, o escritor novato, em última instância, deve recorrer a elas e se auto-publicar ?

Max Mallmann - Nunca tive contato com essas editoras que imprimem por demanda, mas sei que é um mercado tem crescido bastante. Acho que pode ser uma boa opção para um autor novato, sim.

Uma coisa q você deve ter em mente é que um livro impresso por demanda é, basicamente, um cartão de visitas. Você poderá usá-lo para se apresentar, mais tarde, a uma editora grande. Planeje bem o lançamento, tendo isso em mente.

20 - Lehgau-Z: Nos dias de hoje, que conselho você daria para um jovem pepino que queira se candidatar ao cargo de rei da cocada preta?

Max Mallmann - Caro jovem pepino, eu, que sou um repolho enrugado, pouco entendo de cocadas.
Mas, enfim, você quer ter sucesso? Qual sucesso?
No mercado editorial brasileiro, há dois tipos de autores: os que dão lucro e os que dão prestígio (não, não é o chocolate com recheio de coco). Joan Rowling dá lucro; Haroldo de Campos dá prestígio. Você quer lucro ou prestígio?
Quer ser estudado nas universidades, resenhado nos cadernos literários, ser conhecido e respeitado pelos outros escritores (e só por eles), ou quer vender pra caralho, com o perdão da linguagem chula?
Há quem obtenha ambas as coisas, mas esses são raros.
O meu caminho é o da busca do prestígio (não o chocolate, o outro). Tive algumas poucas vitórias, mas ainda estou no início da jornada. Daqui a uns quarenta anos, talvez eu tenha conseguido chegar perto de onde quero.
O caminho do lucro costuma ser mais rápido. Às vezes, é instantâneo. Mas não tenho a menor idéia de como se começa a percorrê-lo.

Henry Alfred Bugalho: Obrigado, Max, por sua atenção e pelo cuidado com o qual você respondeu todas nossas perguntas. Posso dizer que, para a primeira entrevista da nossa comunidade, você mandou muito bem!

Muito sucesso para você (e prestígio também!).

Abraços.

A idéia do blog

Em setembro de 2005, surgiu no Orkut, em resposta às dezenas de comunidades já existentes de escritores, uma comunidade na qual não se podia postar textos autorais - contos, poemas, jogos literários, crônicas, ou qualquer um daqueles tópicos inúteis, que sobrecarregavam as comunidades literárias, vetando completamente qualquer discussão inteligente sobre o processo de criação literária.

Com debates abordando aspectos específicos, como composição da obra, processo de editoração, mercado literário, até discussões quase metafísicas sobre a natureza da obra de arte, literatura, indústria cultural e inspiração, a comunidade "Escritores - Teoria Literária" tem encontrado os seus adeptos entre aqueles que pretendem encarar, ou já o fazem, a Literatura como algo sério e que merece cuidado e atenção.
A proposta de se criar um blog fundou-se no intuito de publicar textos ou dados que não possuam pertinência (por sua extensão ou qualquer outra característica) no interior da comunidade, ou para estender ao escritor que não participa do Orkut a possibilidade de refletir sobre o ofício da escrita e descobrir como aperfeiçoá-la.


Espero que os leitores desde blog possam aprender com as lições dos grandes mestres pretéritos e presentes e, principalmente, contribuir com suas próprias reflexões.

Abraços,

Henry Alfred Bugalho.
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