Monday, May 21, 2007

Escrevendo Ficção com The Gotham Writers' Workshop (Lição 8) - parte 2

(continuação...)

Lição 8: Mais Elementos de Ficção - parte 2

Ponto de Vista

Ponto de vista refere-se, num nível mais fundamental, a quem está narrando a história e o que esta pessoa sabe. A maioria das obras ficcionais é contada no ponto de vista da Primeira Pessoa ou da Terceira Pessoa.

No ponto de vista da Primeira Pessoa, a história é narrada por um personagem da história, usando a voz "eu". Ele vale para "O Grande Gatsby" e "Catedral".

O narrador em Primeira Pessoa é limitado a contar aquilo que ele pensa ou observa, assim como as pessoas na vida real. Aqui está Nick narrando um encontro com Gatsby:

Ele me olhou de esguelha - e eu sabia porque Jordan Baker havia pensado que ele estava mentindo. Ele acelerou a sentença "educado em Oxford", ou a engoliu, ou se engasgou com ela, como se ela já o houvesse incomodado antes. E com esta dúvida, toda sua asserção desmoronou e eu imaginei se não havia, no final das contas, algo sinistro sobre ele.

Aqui, nós vemos Gatsby através do olhos de Nick. Ele tem dificuldade para saber se Gatsby está sendo honesto ou não, porque ele não tem acesso direto à mente de Gatsby. Por ser Gatsby o protagonista da história, este contexto apresenta vários desafios a Fitzgerald. Ele tem de descobrir um meio astuto para contrabandear certas informações sobre Gatsby, tal como quanto Jordan conta a Nick a história do cortejo de Daisy por Gatsby. (É preciso destacar, no entanto, que o narrador em primeira pessoa é, comumente, o protagonista. Gatsby é uma exceção neste aspecto.)

No ponto de vista da Terceira Pessoa, a história é narrada diretamente pelo escritor, que não é um personagem na história. Sem usar a voz "eu", o escritor se refere aos personagens como "ele" ou "ela". Este é o caso de "Por Quem os Sinos Dobram", de Ernest Hemingway, que começa assim:

Ele se deita no chão marrom, espinhento da floresta, seu queixo sobre os braços dobrados, e alto, sobre sua cabeça, o vendo sopra na copa dos pinheiros. A colina se inclina gentilmente onde ele se deita; mas, abaixo, é íngreme e ele pode ver o negro da estrada oleosa serpenteando pela passagem.

Neste trecho, o narrador está vendo através dos olhos do protagonista, Robert Jordan. Mas no ponto de vista da Terceira Pessoa, o escritor possui alguma amplitude sobre o que o narrador pode ou não saber. Em algumas história, o narrador em Terceira Pessoa estará confinado aos pensamentos e observações dum único personagem, assim como em Primeira Pessoa. Em outras histórias, a Terceira Pessoa terá acesso aos pensamentos e observações de vários personagens, assim como em "Por Quem os Sinos Dobram".

Na grande maioria das vezes, os escritores farão uma escolhar sobre como utilizar o ponto de vista e a manterão durante toda a história, seja a Primeira Pessoa, ou alguma variação da Terceira Pessoa.

Como você sabe qual método funcionará melhor em sua história? Bem, esta não é uma decisão fácil. Freqüentemente, é uma boa idéia testar os pontos de vista e ver qual método fica mais confortável ou ilumina melhor sua história. Em "Catedral", por exemplo, o leitor se aprofunda mais ao experimentar a história diretamente através dos olhos dum narrador tacanha. Mas este ponto de vista não funcionaria tão bem em "Por Quem os Sinos Dobram", porque Hemingway precisa se mover com fluidez entre as mentes de vários personagens diferentes.

Ponto de vista é algo traiçoeiro para compreender, mas é importante porque afetará quase todos os aspectos de sua história.

Outros Elementos

Nós já falamos um pouco sobre diálogo. Histórias sem diálogo tendem a ser planas, entendiantes e silenciosas demais. Diálogo é uma grande maneira de dar vida à sua história e é também uma ferramente eficiente para caracterização. Quando bem feito, o diálogo soa realista, mas realizado de tal maneira que fornece um vislumbre sobre cada personagem que fala.

Então, há a voz. Com certeza, você deve ter percebido como os escritores que lemos nestas lições utilizam a linguagem de maneiras diferentes. Provavelmente, você não confundiria uma frase de Raymond Carver com uma de F. Scott Fitzgerald. Isto porque os escritores possuam uma voz diferente, há um som diferente na narrativa deles. Você deve aspirar o desenvolvimento de sua própria voz única, sendo que o melhor é apenas escrever do jeito que lhe ocorre naturalmente. É claro que, no ponto de vista da Primeira Pessoa, a voz precisa se adequar ao personagem que está narrando.

E há ainda mais elementos para a composição de uma boa história ficcional. Na verdade, escrever ficção é um pouco como fazer um guisado. Você joga vários ingredientes, então cozinha e mexe até que a história esteja tão boa quanto você consiga fazê-la. Agora, é apenas uma questão de ir para a cozinha e cozinhar algumas belas histórias.

Debate

Após ler a dissertação, tente responder alguma ou todas as questões seguintes:

1. Você já conhecia algo sobre ponto de vista anteriormente?

2. Uma história precisa duma ambientação?

3. Você prefere descrições abundantes ou esparsas?

4. Agora que você está ciente de alguns elementos dum bom trabalho de ficção, você se sente melhor equipado para começar a escrever sua própria história? Ou está mais intimidado?

E agora?

Parabéns! Você percorreu um grande caminho nestas oito lições. Neste curso, você aprendeu que personagens são a fonte da ficção e que eles surgem das pessoas ao seu redor. Você criou e deu forma a vários personagens interessantes, descobriu como trazer à vida personagens no papel e aprendeu como jogar os personagens no mundo da história. Você tem agora vários personagens e idéias para poder delinear a escrita duma história, ou talvez de muitas. Acima de tudo, você experimentou o que é ser um escritor de ficção. Deu o passo inicial para um belo começo. Você deve estar se perguntando: E agora?

Assim como você deve estar imaginando, há ainda muita coisa sobre escrever ficção para ser explorada. Quando autores de sucesso são indagados por novatos por conselhos, sobre como eles podem se aperfeiçoar como escritores, eles geralmente aconselham o seguinte:

- Escreva. Escreva sempre.

- Leia. Ao ler e estudar as obras de outros autores, você se aprofunda e se inspira.

- Estude as técnicas. A escrita é uma técnica, assim como a carpintaria, e o conhecimento das técnicas o tornará um escritor melhor.

Atividade de Escrita

Lição 8: Mais Elementos de Ficção

Visão Geral

Após completar esta atividade, você terá escrito o rascunho duma história ficcional, combinando tudo que aprendemos neste curso.

Tempo Estimado

Levará algo entre 1 e 5 horas para completar esta atividade.

Escreva uma História

Você já aprendeu bastante até agora. Chegou a hora de escrever uma história. Você já preparou o alicerce.

Usando o cenário de protagonista/desejo/conflito que você criou na última atividade, escreva uma história utilizando tais elementos.

Algumas Dicas

- Se você achar que precisa mudar algo um pouco, ou muito, enquanto estiver escrevendo, beleza! Apesar de planejamento ser útil, você deve ser flexível quando escrever ficção.

- O protagonista/desejo/conflito conduzirá a história. A história deverá ser sobre o protagonista tentando obter o que ele deseja. E você deve lançar o maior número possível de conflitos no caminho. Quanto mais o protagonista desejar o objetivo, e quanto mais formidáveis forem os obstáculos, melhor a história.

- As possibilidades são: você precisará de outros personagens para sua história. Não hesite em emprestar personagens dentre aqueles que você criou neste curso. Se você não encontrar o personagens aqui, bem, agora você sabe como criar mais outros.

- Você também terá de escolher um ponto de vista -- Primeira Pessoa ou Terceira Pessoa. E não se esqueça de fornecer algumas boas descrições.

- Você se sairá melhor ao escrever um conto, que pode ter a extensão duma página. Se sua idéia se enquadrar melhor num romance, então se concentre em escrever, por enquanto, um único capítulo.

- Não se preocupe em fazer uma história perfeita. Por ora, o objetivo é conseguir completar um rascunho. Então, se você quiser, você pode revisar a história quantas vezes quiser.

Você saber o que fazer. Mãos à obra, meu filho. E boa sorte!

Debate

Após completar esta atividade, responda a algumas ou a todas as questões seguintes:

1. Enquanto você escrevia sua história, você achou que havia muitos elementos entrelaçados, duma só vez?

2. Qual parte da história foi mais fácil para você escrever? E a mais difícil?

3. Você se sente disposto a continuar trabalhando nesta história?

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