Sunday, August 12, 2007

Criticando num Grupo de Discussão (ou numa Oficina)

Criticando num Grupo de Discussão

Por David Alexander Smith
Traduzido por Alexis Lemos (ab_lemos at ig.com.br)

Criticar num grupo de discussão é uma habilidade que vale a pena aprender. Algumas dicas para os principiantes:

  1. Antes de começar.

    Familiarize-se com o regulamento e a etiqueta do grupo. Dedique algum tempo ao Glossário de Termos Úteis (não aplicável) e acostume-se com o jargão; nós o usamos com freqüência, especialmente na crítica verbal, e ele é eficiente e claro. A familiaridade com o jargão lhe ajudará a ver os atributos da história na qual você está trabalhando.

  2. Como abordar a crítica.

    Recomendamos que a história seja lida em três momentos distintos, com intervalos para reflexão entre cada leitura:

    A - Primeira leitura, como leitor: leia como se tivesse acabado de topar com a história publicada em algum lugar. Recolha algumas impressões gerais como leitor. Talvez queira fazer alguns apontamentos para si mesmo.
    B - Segunda leitura, como auditor: tendo absorvido a história e se apercebido do que ela realizou e do que pretendia realizar, volte e a examine em detalhe, meditando sobre suas impressões gerais. Por quê a história o afeta desta forma? Quais partes específicas do texto funcionam e quais partes falham? Em cada caso, por quê? Onde a sua atenção se perde, e por quê o texto permitiu que isso ocorresse? Este é o lugar para se fazer comentários detalhados sobre o manuscrito. Quais aspectos textuais, secundários em si, ocorrem com freqüência bastante para merecer comentários gerais?
    C - Terceira leitura, como resumista: agora que você já leu a história duas vezes e sabe cada maldito detalhe, volte às suas impressões gerais. O que você percebeu ao prestar bastante atenção, que havia perdido da primeira vez? Por quê? Quais padrões emergiram? O que o autor deveria fazer para trazer uma textura adicional à sua leitura normal inicial? Que outras conclusões gerais você descobriu numa leitura atenta, que eram invisíveis inicialmente? Mais substancialmente, onde você se pega perguntando-se, 'Por quê escolheu isso em vez daquilo?'
    Na terceira leitura, calce os sapatos do autor. Tente abordagens alternativas para solucionar os problemas que identificou. Você deve ter uma percepção clara do que o autor estava tentando fazer, se ele conseguiu e o porquê. Você deve ser capaz de identificar especificamente quais partes funcionaram e quais falharam em atingir os objetivos do autor.

  3. O que entra na crítica escrita?

    Críticas, sejam escritas ou verbais, são normalmente estruturadas num enfoque de cima para baixo, começando com as grandes questões e perpassando por elas até as menores.
    A - Críticas gerais: são as grandes questões, os blocos principais de construção da história. Freqüentemente a crítica escrita proverá exemplos amplos, enquanto que a apresentação verbal simplesmente declarará o problema e seguirá em frente para discutir soluções alternativas.
    B - Específicas: todos os fatos básicos. Ficção é feita de palavras, e é somente através da mudança pontilhista de palavras que podemos mudar a imagem ficcional. Logo, o crítico pode ser tão detalhista quanto ele ou ela queiram na desconstrução de parágrafos, expressões, frases e palavras e em sua remontagem. A crítica escrita é o lugar para se fazer isto em detalhe - algumas vezes em grande detalhe. Algumas pessoas simplesmente marcam suas correções no manuscrito ou fazem anotações marginais; outras assinalam posicionamentos e escrevem sugestões específicas. De qualquer forma, detalhar é bom, e detalhar mais é melhor.
    A crítica escrita de um conto terá tipicamente uma extensão de 2 a 5 páginas em espaço simples. Poderá ser maior se a história exigir mais. Obras mais extensas geralmente geram críticas mais longas. A crítica escrita de um romance pode ser enorme.

  4. O que entra na crítica verbal?

    A apresentação verbal consiste em discorrer sobre os temas em proveito de três platéias distintas:
    - O autor, que tem de absorver aas grandes idéias primeiro (para que possa filtrar tantas críticas).
    - Os outros críticos, que podem mudar de idéia ou expandir suas idéias baseado no que ouvirem.
    - O próprio crítico, que pode exxpressar diferentes perspectivas em sua verbalização. (Esta última é especialmente comum num crítico que entre posteriormente na discussão, pois ele pode ser estimulado pelas críticas prévias.)
    Com a crítica escrita pronta (a qual deve ser repassada ao autor), o crítico não deve se preocupar em usar palavras afiadas. Assim, não precisa tentar marcar pontos baratos às custas da sua platéia. Antes, a crítica verbal deveria ser educativa e construtiva, idéias contribuindo para um grande cozido mental que o autor, em retribuição, mexe e prova. Para pessoas não acostumadas com crítica verbal em grupos de discussão, ler a crítica escrita é uma forma de começar, quando não como um meio de estruturar seus comentários. Mas a medida que o crítico ganha experiência, as críticas verbais são freqüentemente um tipo de apresentação diferente: elas usam as palavras escritas como um esboço e então as descrevem. Uma boa crítica verbal é por conseguinte, conversacional, o crítico falando diretamente ao autor, e observando o autor para certificar-se de que ele entende a crítica (embora não necessariamente concordando com ela).
    À medida que a crítica verbal age ao redor do círculo, os temas se reforçam e por vezes se firmam. Aquilo que o primeiro crítico teoriza empiricamente pode tornar-se, lá pelo quinto crítico, uma conclusão aceita. Ou uma área em particular pode tornar-se assunto de debate, com críticos diferentes considerando-a de vários lados. (Em tais circunstâncias, lembre-se de que você não está tentando ganhar o debate, você está tentando dar ao autor um resumo completo de suas considerações. O autor vence o debate.)
    As críticas posteriores tendem a ser variações sobre melodias já estabelecidas. Se uma análise de meia-página que você preparou para explanar for integralmente apresentada por alguém antes de você, não triture suas observações. Antes, concorde rapidamente com a questão, ou a amplie, ou gaste mais tempo enfocando outros pontos. Da mesma forma, coisas que você não identificou em sua crítica escrita particular podem impactá-lo, ao ouví-las, como particularmente dignas de menção ou frívolas, e você pode improvisar sobre isso. Da mesma forma, exprima sua reação ao que foi dito anteriormente - novamente, os críticos estão tentando resumir para o autor o leque completo de opiniões.
    Naturalmente, não hesite em discordar de um crítico anterior, mas dê ao crítico o mesmo respeito que você reserva ao autor - isto é, mencione o crítico com inteligência e percepção na observação, apenas um diagnóstico ou prescrição diferente. Ponto e contraponto são a essência de um bom grupo de discussão.
    Em conseqüência, uma boa crítica verbal pode assumir este aspecto em linhas gerais:
    1 - Impressão geral da história.
    2 - Alguns pontos fortes.
    3 - Alguns problemas de monta.
    4 - Exemplos específicos ilustrando os problemas, e por que eles falham.
    5 - Discussão de métodos alternativos para lidar com o problema.
    6 - Uma solução específica alternativa, mesmo que como experiência.
    7 - Recapitulação do apanhado da história, enfatizando os pontos fortes sobre os quais edificar e ressaltar as mudanças críticas para aprimorá-la.
    Não se acanhe em sugerir mudanças, mesmo que cheguem ao ponto de uma cirurgia radical, como um novo enredo, redução ou fusão de múltiplas personagens, ou alguma outra reconsideração radical. O autor não vai ficar ofendido (na CSFW, nós fazemos isso o tempo todo), e fica sempre livre para recusar ou aceitar sua sugestão. Ou, na retribuição autoral, o autor ou o grupo podem pegar uma alternativa em particular e brincar com ela de uma série de formas. Algumas invenções notáveis, que surpreendem e deliciam a todos, surgem destas combustões espontâneas.

  5. Como reagir quando estiver sendo criticado.

    Para a maioria dos novatos (e mesmo para alguns de nós, veteranos grisalhos), este é o momento mais difícil, porque você quer explicar ou rebater ponto a ponto, e você não pode fazer isso. Tente não deixar que a tensão o domine. Algumas maneiras de fazê-lo:
    A - Qual trabalho é criticado primeiro?
    Um novato num grupo de discussão raramente deverá ser o primeiro autor a ter uma obra criticada. Muito melhor é ter um dos trabalhos dos membros estabelecidos como o foco da primeira rodada de criticas, para que o novato tenha uma chance de ver como o grupo funciona, o nível e a natureza da crítica. Observe como críticos e autor interagem durante a crítica, réplica e debate.
    B - Tome notas.
    Anote todas as particularidades que você ouvir. Você precisará das anotações para a réplica, então trate de se fundamentar e tirar o melhor partido do tempo. Tomar notas também envolve o seu superego, o qual fica tão ocupado tentando digerir o conteúdo da informação que o pobre e velho id tem pouco tempo em cena para se magoar ou preocupar.
    Tome notas específicas das boas idéias que você ouvir, idéias que pensa que estão enganadas, ou soluções intrigantes que você quer explorar. Se um crítico identifica um problema sem oferecer uma solução, assinale o ponto e planeje retornar a ele na réplica e discuta o que poderia ser feito. (Também é saudável manter os críticos na ponta dos cascos, em vez de permitir que eles falem generalidades.)
    C - Insista nos pontos fortes.
    Você não precisa transcrever cada sugestão - você descobrirá que isso é impossível de fazer. Ao fim da sua rodada, você receberá de volta muitas cópias anotadas do seu manuscrito e muitas críticas escritas detalhadas. Você pode estudar ambas sem pressa. Os críticos do CSFW põe no papel quase tudo o que planejam dizer, então você não precisa se preocupar com câimbras de escritor (se você se pegar escrevendo em alta velocidade, pare e pergunte ao crítico, 'Você colocou tudo isso no papel?'). Concentre-se em anotar os pontos que o fizeram pensar.
    D - Interrupção para esclarecimento.
    Você deve ficar em silêncio exceto quando o crítico for vago ou perder o foco; então, você pode gentilmente interromper e solicitar ou um esclarecimento ou um exemplo específico. Não interrompa para explicar o que você pretendia ou mostrar como o crítico entendeu errado o texto - deixe isso para a réplica. Você vai ter a sua chance.
    E - Tudo o que sobe, desce.
    Nunca se esqueça de que todos nós passamos por isso muitas vezes e o fazemos uns com os outros o tempo todo, e então a maioria dos críticos, a despeito de seus comentários ásperos na prosa, compreendem a tensão que uma crítica impõe ao autor.

  6. Réplica do autor.

    Depois da crítica verbal feita, o autor assume a tribuna. Este é um momento importante.
    Não é exigido que o autor fale algo, mas geralmente ele se vê ocupado com reações explosivas para furtar-se a isso. É aí que as suas notas garatujadas entram. Respire profundamente e organize o que quer dizer - os críticos, tendo lançado seus raios, irão esperar atentamente. Perpasse as suas notas e fale sobre as reações deles. Agora você pode explicar o que estava tentando fazer, no que os críticos erraram, ou o que deveria estar lá mas não estava. ("Estava lá o tempo todo", é uma resposta autoral comum a uma crítica pertinente em particular.)
    Aqui também você pode explorar se uma determinada solução funciona, não funciona, ou poderia funcionar. Tendo feito todas as suas réplicas, você pode abrir a discussão quanto às soluções e deixar que as tréplicas passem para um debate livre.

  7. Conclusão.

    Novatos, especialmente aqueles com pouca ou nenhuma experiência anterior em outros grupos de discussão, algumas vezes acham acabrunhante a experiência num grupo estruturado. Comparada com uma crítica casual típica, um grupo estruturado é um maremoto de idéias. Nada pode te preparar para o volume abrupto de trabalho, pensamentos, introspecções e sugestões que os críticos irão fornecer. Será mais vasto e mais completo do que você pensava ser possível.
    Enquanto absorve esta torrente de idéias, tenha em mente que uma crítica detalhada é a mais alta forma de respeito que um autor pode prestar a outro, e quanto mais esforço for colocado na crítica, maior será o respeito que o crítico tem pelo autor... e pelo trabalho sendo criticado.


©2004 by David Alexander Smith; Brief News (esta tradução)
Página atualizada em 18/07/2004
http://geocities.yahoo.com.br/worgtal

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