Tuesday, May 08, 2007

Escrevendo Ficção com The Gotham Writers' Workshop (Lição 6) - parte 1

(Voltar para a lição 5)

Plano da Lição
Lição 6: Como Revelar Mostrando

Visão Geral

Nesta lição, você compreenderá como revelar personagens "mostrando" -- fisicamente, diálogo, ação.

Tempo Estimado

Levará algo em torno de 2 horas para completar esta lição.

Objetivos

Após completar está lição, você:

- compreenderá o conceito de mostrar personagens, deixando o leitor "vê-los".
- compreenderá como revelar personagens através do físico.
- compreenderá como revelar personagens através do diálogo.
- compreenderá como revelar personagens através de suas ações.
- terá aprendido sobre um de seus personagens, vendo-o em ação.

Atividade

Durante esta lição, você completará a seguinte atividade:

- Atividade de Escrita: O que seu personagem faria?

Dissertação e Debate

Lição 6: Como Revelar Mostrando

Da última vez, discutimos o "contar" sobre personagens. Não importa quão eficiente o método de contar seja, mostrar é sempre melhor. Mostrar significa apresentar ao leitor os personagens em primeira-mão, à queima-roupa. Isto permite aos leitores "ver" (e ouvir, e, algumas vezes, tocar e até mesmo cheirar) os personagens.

A maioria das amostras será compartilhada através de cenas: palavras-imagens escritas mais ou menos em "tempo real". Pense numa peça de teatro, na Broadway ou num outro palco qualquer. As cortinas se abrem e tchan!
Imediatamente, nós começamos a descobrir sobre os personagens encenados pelos atores da peça. Ninguém nunca os descrevem ou os explicam para nós. Simplesmente olhamos, ouvimos e entendemos.

Há quatro métodos básicos para mostrar personagens:

- Ação
- Fala
- Aparência
- Pensamento

Uma obra de ficção deve misturar e combinar estes métodos.

Ação

Ações são freqüentemente a maneira mais poderosa para revelar personagens. Como diria Jean-Paul Sartre: "Nós somos nossos feitos".

Ações podem ser coisas pequenas, como o jeito que o personagem trata um caixa songo-mongo no mercado. Algumas pessoas são pacientes neste tipo de situação, enquanto outras se tornam amplamente hostis. Outros irão reclamar, mas segurando a onda. Cada um reage diferente diante das exigências ordinárias do cotidiano.

Em "Catedral", descobrimos sobre ânsia de vida de Robert através de todas as coisas que ele faz, que corrobora com as expectativas do narrador em se tratando de cegos. Robert bebe Scotch e entope o cinzeiro com bitucas de cigarro. Ele come "como se não houvesse amanhã". Robert fica doidão, então "assiste" TV -- ele não tem um, mas dois aparelhos de TV em casa. A despeito de sua deficiência física, Robert devora com gosto o mundo ao seu redor.

Ações também podem ser grandes coisas, tais como os personagens reagem em momento de crise. Há uma razão por que as dinâmicas de grupo em empresas começam designando uma difícil tarefa coletiva, como escalar um muro sem escada ou corda. Tal desafio é, na verdade, uma crise artificial e ela ilustra, imediatamente, quem é quem num grupo -- quem é o líder, o que fica reclamando, aquele que cuida dos outros, etc.

Os personagens principais de sua história serão, provavelmente, testados por situações difíceis. É aí que descobrimos quem eles são -- através do que eles fazem nestes momentos.

O narrador em "Catedral" parece estar na defensiva, chegando a ser hostil, no começo da história. Não é claro se ele é capaz de ser generoso, nem mesmo que ele possua inclinação para isto. Mas ele passa por uma situação estressante (para ele) -- ter um cego em sua casa durante a noite. No final da história, a situação estressante trouxe uma mudança em seu comportamento. Quando o observamos fechando os olhos e movendo a mão do cego através papel, descobrimos que ele possui grande potencial de calor humano e gentileza.

Nós entendemos muito sobre personagens aos vê-los agindo (e interagindo e reagindo). O que eles fazem e como eles fazem isto? O que eles não fazem? Mostrar a ação fornece o mais próximo que há duma informação objetiva sobre os personagens. Como resultado, contar sobre estes personagens se torna dispensável.

Fala

A fala refere-se ao que o personagem diz, seu diálogo. Aqui há um exemplo de mostar através da fala em "Catedral":

- Você teve uma boa viagem de trem? - eu perguntei - Falando nisto, em qual lado do trem você se sentou?
- Que pergunta é essa, que lado! - minha esposa respondeu - Que importa qual lado?
- Só estou perguntando. - eu disse.
- Do lado direito - o cego disse - Fazia quase quarenta anos que eu não entrava num trem. Desde quando eu era menino. É muito tempo. Quase me esqueci da sensação. Tenho até inverno na barba - ele disse - Bem, é que o me disseram. Eu pareço ser distinto, querida? - o cego perguntou à minha esposa.
- Você parece ser distinto, Robert - ela respondeu - Robert, é tão bom vê-lo.

Muito é mostrado através deste diálogo. O trecho nos revela que, apesar do narrador e de sua esposa estarem extremamente nervosos com a presença do cego em sua casa, Robert está tranqüilo. Além disto, nas primeiras duas linhas, há um vislumbre de animosidade entre marido e esposa. Por fim, há um toque poético em "inverno na barba". A esposa do narrador e Robert são poéticos, enquanto que o narrador não.

Agora, Carver poderia simplesmente ter nos contado esta informação. Mas é mais dinâmico se nós pudermos descobrir por nós próprios, neste caso, através do diálogo.

Finalmente, preste atenção às entrelinhas -- o sentido oculto -- do diálogo. Novamente, a linha "Que pergunta é esta, que lado!" dá intensidade à tensão entre marido e esposa em "Catedral", quando Robert vem visitá-los.

(continua...)

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1 comment:

JLM said...

Sugestão:

Acredito que o certo é narrador: "O narrado em "Catedral" parece estar na defensiva,"

1 abraço.

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